A IMPORTÂNCIA DA ESCRITA COMO MEMÓRIA FUTURA.
Um livro é um testemunho de uma época. Só o tempo avalia a obra. O autor é livre se tiver a clara noção deste chamamento. Mas a liberdade criativa depende de escrever para o leitor do futuro, que aceitará o livro na sua pureza! Sem a marca enviesada do presente que o agrilhoa a modas, preconceitos, vaidades ou interesses, com ou sem expressão lucrativa.
A Future Library na Noruega e o Poema Universal são dois projectos absolutamente maravilhosos!
A Future Library foi inaugurada em 2014. Uma floresta foi plantada na Noruega, que fornecerá papel para uma antologia especial de livros a imprimir em 2114. Um escritor por ano irá contribuir com um texto, com os escritos não lidos e não publicados Ao fim de cem anos, em 2114, teremos uma memória futura .
O poema universal é um poema coletivo escrito individualmente por todos nós. Um poema sem fim escrito até o fim do mundo, um belo poema, um Poema Universal. Cada pessoa lega um verso ao universo, lançando para o espaço o legado colectivo da nossa espécie.
Esperando que a Humanidade resista ao devir do tempo e que do outro lado do espelho, a linguagem não seja um muro, mas uma ponte…
A Future Library na Noruega e o Poema Universal são dois projectos absolutamente maravilhosos!
A Future Library foi inaugurada em 2014. Uma floresta foi plantada na Noruega, que fornecerá papel para uma antologia especial de livros a imprimir em 2114. Um escritor por ano irá contribuir com um texto, com os escritos não lidos e não publicados Ao fim de cem anos, em 2114, teremos uma memória futura .
O poema universal é um poema coletivo escrito individualmente por todos nós. Um poema sem fim escrito até o fim do mundo, um belo poema, um Poema Universal. Cada pessoa lega um verso ao universo, lançando para o espaço o legado colectivo da nossa espécie.
Esperando que a Humanidade resista ao devir do tempo e que do outro lado do espelho, a linguagem não seja um muro, mas uma ponte…
(IN)FINITOS...
Abstraindo de qualquer sistema de crença, o infininitamente pequeno é igual ao infinitamente grande, ou seja, a matéria é moldada pelos princípios objectivos da física e da matemática. (Mesmo na arte e arquitectura existem princípios objectivos na técnica). De onde vem a consciência? Em parte , todos os pensamentos,estados emocionais e afectos são gerados bioquimicamente. Basta desligar determinadas áreas do cérebro que até o amor desaparece( basta observar o processo doloroso da morte progressiva de uma pessoa muito chegada ). Estamos equipados para a sobrevivência , os afectos são para suportar a mortalidade e os sentidos sensoriais e emoções formas de adaptação ao que nos rodeia. Se o universo tem consciência? Não diria consciência stricto sensu, mas fenómenos de transmissão de energia que podem levar a estados de sincronicidade e serendipismo resultante de uma série de acasos...O universo surgiu do nada, de uma contraposição de matéria e antimatéria e objectivamente é um milagre como a Terra está estabilizada num universo caótico cheio de tráfego interestelar...Ou seja, objectivamente , existe uma evidência científica sobre o universo e nós , somos todos feitos da mesma matéria e isso leva a que perante os mesmos estímulos , as reacções sejam muito parecidas...Shakespeare como ninguém plasmou isso de forma poética... O que custa mais ? É que a morte é imoral , injusta e cruel e que mesmo amando muito, o amor não salva ninguém, permite que vamos nos relacionando ...Não nos conformamos com a morte , mas na lei do universo tudo tem esta lógica...Agora, sejamos como Camus, perante o sofrimento( mesmo que a sociedade tecnológica anestesie a relação e o ego dissipe energia vital em enviesamentos cognitivos e psicossociais), a vida vale a pena ser vivida? Cada um que encontre o seu sentido ou" meaning of life", Há sentido em tudo, menos para a perda definitiva de quem amamos profundamente ...Mas é sempre o mistério...e deixemos fluir...não precisamos de saber tudo...apenas , permitir que o sonho possa nos levar no sentido da evolução ...essa é a derradeira fronteira e a última utopia...
Pré - História : Novo Homo...
2015 -...
Vivemos a pré-história da inteligência artificial e emocional digital. O algoritmo é quem mais ordena a partir do momento em que somos dados e não somente células. O livre - arbítrio tornou-se um expediente induzido pelo espelho. Alienados,marginalizados ou controlados,tipologias individuais,que o futuro dirá em que horizonte civilizacional irão desaguar...
Vivemos a pré-história da inteligência artificial e emocional digital. O algoritmo é quem mais ordena a partir do momento em que somos dados e não somente células. O livre - arbítrio tornou-se um expediente induzido pelo espelho. Alienados,marginalizados ou controlados,tipologias individuais,que o futuro dirá em que horizonte civilizacional irão desaguar...
Alterações Climáticas Interiores
Os tempos mudam as circunstâncias . A circunstância da aceleração com as velocidades dos G levará a que não se procure o rosto do outro, mas o espelho de si mesmo. Muita informação, algum conhecimento e pouca sabedoria. O tempo colectivo poderia trazer mais verdade, mais bondade e beleza. Houve épocas em que as pessoas comunicavam e viviam empaticamente: a chave ficava na porta da vizinha e entrava-se com uma malga de arroz ou um pitada de sal, depois vieram as cartas: uma semana para receber e outra para responder, depois os telefones , em que se demorava algum tempo a ir até à sala para levantar o auscultador, os telemóveis apareceram e por todo o lado, qualquer conversação tornou-se mais instantânea em que os G dominam. ...Uma humanidade que se orienta pelos ponteiros da ganância sem limites e no puro individualismo da imagem e das aparências estará longe de qualquer progresso mental e social. São estas as alterações climáticas interiores que poucos notam . E para estas não há gorros , nem cachecóis....
Homo Sapiens Sapiens ...
Um dos grandes males do nosso tempo é a demissão da análise crítica dos factos, das fontes e dos acontecimentos. Grande parte dos assuntos é abordado pela "rama", uma hipnose colectiva leva seres ,aparentemente informados, a seguir lugares comuns e a embarcar em ondas mediáticas.Por outro lado, o défice de atenção é cada vez maior, não só nas crianças, jovens, mas também nos adultos que agarrados aos smartphones não conseguem parar e ouvir o seu interlocutor, sempre stressados, sempre sem tempo, sempre atrás da "cenoura" , sempre iludidos com a força imortal da tecnologias e da ideia que estão a conduzir as suas vidas , quando, de facto, as grandes super- estruturas da humanidade são dominadas por vectores que desconhecem. A febre do momento alastra transversalmente à sociedade global. Todos querem ter razão e sucesso , mas ninguém tem a razão toda e o sucesso é uma "velha de fraldas". As crises fazem parte da história da humanidade, só com elas se pode rever todo um sistema. A períodos maus seguem -se períodos bons e vice-versa , Sempre foi assim na história dos homens e assim será até ao abismo final. Iludidos com o progresso tecnológico , mas esquecemos que há milhares de anos que mentalmente o homem não progride, não transpôs as forças invisíveis do inconsciente e continua agir e a reagir conforme é acossado nas suas estruturas de segurança interna e externa, nos interesses acumulativos pecuniários e nos seus infinitos caprichos egocêntricos ,que a virtualidade, "subliminarmente" , lhe serve todos os dias! E com tudo isto, todos os dias o homem está mais andróide por dentro ...

SOCIEDADE LÍQUIDA E A INVERSÃO DA HUMANIDADE.
A morte na sociedade líquida revela a banalização da vida. É aos vivos que devemos as palavras e acção, aos mortos só o silêncio e a memória...
Cérebros de Pedra, Mãos de Silicone
(Segunda e última parte)
A Humanidade tem os meios para controlar o que em outros séculos dizimou populações inteiras. A ciência e a tecnologia permitiram controlar,”lato sensu”, a guerra,a fome e a doença. No entanto, a demanda pela imortalidade continua, uma vez que a mortalidade alimenta-se de um processo bioquímico continuo de manter a" máquina desejante" a funcionar: comer, dormir, beber, voltar a comer, beber, dormir e assim sucessivamente . A imortalidade passaria pela ausência das necessidades de comer, beber e dormir. No entanto, seria insustentável manter biliões de humanos a reproduzirem-se face à escassez de recursos.
A morte surge como evento ordenador . Livra os homens do tédio e do aborrecimento de estar sempre a repetir rotinas para sobreviver individualmente ou dentro de uma estrutura social opressiva ou deliberadamente construída em favor dos detentores do poder ( pouco tempo se gastou e gasta em evoluir mentalmente com reflexos na história e na civilização) e da procura constante do prazer, por natureza efémero. Sendo a morte, no limite, a perca da liberdade, igualmente , é a libertação do sofrimento a que todo o amor nos conduz na relação afectiva com os nossos entes queridos . Não há ciência, nem tecnologia que nos console em ver a degradação física e mental dos nossos amados (as). É um horizonte de dor sem glória.
A vida na sua lógica mimética encerra-nos nos limites de uma esfera instável no devir do mundo . A colonização feita pelos telefones inteligentes é dotar o homem de distracções para fugir à roda do tempo.
A curiosidade permite o desenvolvimento da nanotecnologia, da genética e da robótica para que o humano incorpore elementos biónicos que o salvem da falha e permitam ser um sapiens fisicamente aperfeiçoado.O humano já tem mecanismos artificiais que lhe permitem compensar desgastes nos órgãos vitais. O homem já é um ciborgue, procura ser um andróide e extermina o animal da face da Terra pela aniquilação de recursos naturais. O homem nega a sua animalidade e procura a sua “ciberalma” .
O algoritmo , electrónico ou bioquímico,procura racionalizar o mundo, mas o universo há milhares de anos que se rege por leis físicas e químicas imutáveis . Nada permanece. Tudo muda. O jogo da cabra-cega que o homem mantém com o cosmos é , no mínimo, divertido. Dá para passar o tempo, mas não consegue julgar o tempo e o espaço.... Resta-nos a proporção áurea, a música e a poesia. Impulsos eléctricos de uma rede neural ou pura magia?...
Os ossos e a carne são substituídos por dados. A vida atrás dos "quadrinhos" de um código de barras não difere da vida nas prisões. Xadrez da vida , encruzilhadas metafísicas.
Várias questões emergem neste século vinte e um cheio de brumas e ventos contraditórios:
Ciência e tecnologia permitirão que o humano não perca o controle da sua criação? Ou será benéfico que o criado ultrapasse o criador? Porque tudo que é artificial ainda é criado por um ser natural, o homem. Os andróides serão capazes da empatia ou compaixão? Serão mais bondosos, capazes de preservar o ambiente? Serão capazes do amor fraternal e do domínio civilizado do consciente pelo conhecimento do inconsciente? Se assim for, que venham os andróides para salvar o que resta...
A ciência e a tecnologia se banirem da humanidade a estupidez, a vaidade e o egocentrismo ... Permitirão a evolução? ... Ainda não existe nenhuma aplicação de telemóvel que permita colocar o homem na situação e circunstância do seu semelhante... Esvaziar o poder...porque o homem isolado só age quando algo o afecta directamente... Por outras palavras, só quando o fogo chega a casa é que se mexe... Enquanto isso não acontece, vai assistindo…ficando a salvação nos teoremas que as estrelas desenham na noite sem fim...
© João Nuno Teixeira
Cérebros de Pedra, Mãos de Silicone
(Primeira Parte)
A descoberta do fogo, da roda, a posição erecta e o polegar oponível aguçaram a curiosidade dos primos dos chimpanzés, mas despoletaram a ganância e a crueldade. O homo sapiens há cem mil anos que povoa o planeta e transformou-o. Alguns Sapiens e Neandartais cruzaram-se e ainda hoje cerca de 1 a 4 % do ADN do homem europeu tem características dos Neandartais.
Todavia, foi a linguagem que moldou, definitivamente, o mundo. A capacidade de comunicarem eficazmente tornou os homens mais aptos a criarem civilizações, embora os cérebros fossem sempre os dos caçadores-recolectores primordiais. Sempre a desconfiarem uns dos outros e a terem medo de cenários inverosímeis.
Toda a linguagem, como forma privilegiada de comunicação, foi estruturada em volta da ficção. Criaram-se mitos românticos, nacionalistas, religiosos, capitalistas, liberais, conservadores e humanistas de forma a criar uma ordem imaginada.
O que se passou a nível da sociedade é replicado a nível individual: O homem procurou narrativas que o acalmassem, que lhe proporcionassem um sentido de vida e a demanda continua. Nem as civilizações se cristalizam na perfeição de um mundo ideal, nem os homens encontram paz de espírito. Os homens continuam à procura de mais, num jogo de espelhos e máscaras perigoso, num labirinto inútil de visibilidade e obscurantismo, herdando dos primos chimpanzés o mecanismo de validação e imitação para construírem uma identidade.
A verdade sempre foi a pós-verdade, umas vezes baseada em mitos, outras vezes em boatos, "cusquices" e a eterna perdição humana de a maioria dizer uma coisa pela frente do seu interlocutor e pensar ou agir de maneira diferente quanto se afasta.
No entanto, o humano ,tal como o contador de histórias das Mil e Uma Noites anseia sempre por novas histórias, para adiar a inevitabilidade da morte, mesmo que a maioria das ficções sejam sempre as mesmas ao longo de séculos: Disputas de poder, protagonismo, sexo e amor num banquete apocalíptico de guerra, fome e peste.As histórias ,para se manterem na perenidade dos séculos, necessitam da única coisa que os homens inventaram para confiar uns nos outros: O dinheiro. A única entidade que resiste ao preconceito, à ideologia, à constituição e aos traços de temperamento e carácter individual. Agir por interesse invocando grandes valores tem sido a roda motriz e o cimento agregador da espécie. A encarnação de um mal por um bem aparente sempre tornou o abismo mais apetecível ao estilo de Goethe e o seu contraditório Fausto.
O livre-arbítrio é uma falácia, mas todos acreditam, porque contam histórias interiores , acham que são livres. Basta accionar os estímulos primitivos básicos para o homem não se aperceber das grilhetas invisíveis. Nada de serve ler Camus, Sartre, São Paulo ou Nostradamus. O elenco da peça é sempre o mesmo. Os homens não são livres, nunca o foram e jamais o serão.Da mesma forma, também não são iguais, nunca o foram e jamais o serão. Todas as pessoas têm um código genético amplamente influenciado pelas variantes educacionais e empíricas a que são expostas, que levam a que cada humano tenha qualidades diferentes e oportunidades díspares no devir do mundo.
Duzentos e cinquenta anos de ideologia são colocados no prato da balança pelas vinte e uma gramas da alma mater .
A memória que se apagava em cem anos, em poucas gerações, pode ser mantida em mais uma aplicação tecnológica. Os programas de computador inseridos nos telefones inteligentes pretendem domar o indomável: o tempo e o espaço. No entanto, o efeito é contrário. O caçador-recolector não foi feito para o estado de hipervigilância constante.
O ritmo lento de há cem mil anos entrou em velocidade cruzeiro. O tempo de reflexão tornou os homens mais sós e a precisarem menos dos seus cento e cinquenta semelhantes com que conseguem, minimamente, conviver pela disrupção tecnológica.
A era tecnológica, da qual vivemos a pré-história, acelerou a curiosidade e insaciabilidade do homem, perito em pensamentos fixos e na ânsia de tudo controlar e prever. No entanto, o fim da história individual, raramente, pelo menos em todas as variantes, com as quais o individuo sonha por indução cultural nunca acontece. Mas a mentira, outro agregador social, mantém o verniz …
No pressuposto que se evite a explosão da bomba nuclear e a destruição dos ecossistemas, algumas questões devem ser objecto de reflexão: Os futuros humanos, se assim se poderão denominar, com os aperfeiçoamentos genéticos e da inteligência artificial serão diferente dos de hoje? Serão capazes de serem tolerantes connosco, pobres sapiens, envoltos em sonhos fofinhos de redenção , vaidade e alegria efémera, sempre a querer fugir da dor e a não conseguir eternizar o prazer ? Ou seremos uma espécie incómoda, inferior, que sem acesso a recursos não será capaz de evoluir ou regredir para outro estádio? Os novo homens serão uma elite dona dos recursos naturais e /ou artificias que escravizará ou aniquilará os que não conseguirão aceder aos aperfeiçoamentos genéticos?Os cérebros de pedra de hoje ficarão pelo polegar oponível de outrora e o indicador digital do presente ou os novos cérebros e mãos de silicone tornarão o mundo um aborrecimento sem fim pela emergência de uma felicidade eterna à boa maneira de Huxley, construindo um mundo novo? Ampliando a consciência e a percepção até domarem toda e qualquer inquietante estranheza de ser e qualquer horizonte de mortalidade?
Perguntas a que o bom senso não permite , por enquanto, dar respostas. O futuro é uma incógnita sabendo que na história o que hoje nos parece óbvio ou expectável não o era no passado…
Fim da Primeira Parte
© João Nuno Teixeira
Todavia, foi a linguagem que moldou, definitivamente, o mundo. A capacidade de comunicarem eficazmente tornou os homens mais aptos a criarem civilizações, embora os cérebros fossem sempre os dos caçadores-recolectores primordiais. Sempre a desconfiarem uns dos outros e a terem medo de cenários inverosímeis.
Toda a linguagem, como forma privilegiada de comunicação, foi estruturada em volta da ficção. Criaram-se mitos românticos, nacionalistas, religiosos, capitalistas, liberais, conservadores e humanistas de forma a criar uma ordem imaginada.
O que se passou a nível da sociedade é replicado a nível individual: O homem procurou narrativas que o acalmassem, que lhe proporcionassem um sentido de vida e a demanda continua. Nem as civilizações se cristalizam na perfeição de um mundo ideal, nem os homens encontram paz de espírito. Os homens continuam à procura de mais, num jogo de espelhos e máscaras perigoso, num labirinto inútil de visibilidade e obscurantismo, herdando dos primos chimpanzés o mecanismo de validação e imitação para construírem uma identidade.
A verdade sempre foi a pós-verdade, umas vezes baseada em mitos, outras vezes em boatos, "cusquices" e a eterna perdição humana de a maioria dizer uma coisa pela frente do seu interlocutor e pensar ou agir de maneira diferente quanto se afasta.
No entanto, o humano ,tal como o contador de histórias das Mil e Uma Noites anseia sempre por novas histórias, para adiar a inevitabilidade da morte, mesmo que a maioria das ficções sejam sempre as mesmas ao longo de séculos: Disputas de poder, protagonismo, sexo e amor num banquete apocalíptico de guerra, fome e peste.As histórias ,para se manterem na perenidade dos séculos, necessitam da única coisa que os homens inventaram para confiar uns nos outros: O dinheiro. A única entidade que resiste ao preconceito, à ideologia, à constituição e aos traços de temperamento e carácter individual. Agir por interesse invocando grandes valores tem sido a roda motriz e o cimento agregador da espécie. A encarnação de um mal por um bem aparente sempre tornou o abismo mais apetecível ao estilo de Goethe e o seu contraditório Fausto.
O livre-arbítrio é uma falácia, mas todos acreditam, porque contam histórias interiores , acham que são livres. Basta accionar os estímulos primitivos básicos para o homem não se aperceber das grilhetas invisíveis. Nada de serve ler Camus, Sartre, São Paulo ou Nostradamus. O elenco da peça é sempre o mesmo. Os homens não são livres, nunca o foram e jamais o serão.Da mesma forma, também não são iguais, nunca o foram e jamais o serão. Todas as pessoas têm um código genético amplamente influenciado pelas variantes educacionais e empíricas a que são expostas, que levam a que cada humano tenha qualidades diferentes e oportunidades díspares no devir do mundo.
Duzentos e cinquenta anos de ideologia são colocados no prato da balança pelas vinte e uma gramas da alma mater .
A memória que se apagava em cem anos, em poucas gerações, pode ser mantida em mais uma aplicação tecnológica. Os programas de computador inseridos nos telefones inteligentes pretendem domar o indomável: o tempo e o espaço. No entanto, o efeito é contrário. O caçador-recolector não foi feito para o estado de hipervigilância constante.
O ritmo lento de há cem mil anos entrou em velocidade cruzeiro. O tempo de reflexão tornou os homens mais sós e a precisarem menos dos seus cento e cinquenta semelhantes com que conseguem, minimamente, conviver pela disrupção tecnológica.
A era tecnológica, da qual vivemos a pré-história, acelerou a curiosidade e insaciabilidade do homem, perito em pensamentos fixos e na ânsia de tudo controlar e prever. No entanto, o fim da história individual, raramente, pelo menos em todas as variantes, com as quais o individuo sonha por indução cultural nunca acontece. Mas a mentira, outro agregador social, mantém o verniz …
No pressuposto que se evite a explosão da bomba nuclear e a destruição dos ecossistemas, algumas questões devem ser objecto de reflexão: Os futuros humanos, se assim se poderão denominar, com os aperfeiçoamentos genéticos e da inteligência artificial serão diferente dos de hoje? Serão capazes de serem tolerantes connosco, pobres sapiens, envoltos em sonhos fofinhos de redenção , vaidade e alegria efémera, sempre a querer fugir da dor e a não conseguir eternizar o prazer ? Ou seremos uma espécie incómoda, inferior, que sem acesso a recursos não será capaz de evoluir ou regredir para outro estádio? Os novo homens serão uma elite dona dos recursos naturais e /ou artificias que escravizará ou aniquilará os que não conseguirão aceder aos aperfeiçoamentos genéticos?Os cérebros de pedra de hoje ficarão pelo polegar oponível de outrora e o indicador digital do presente ou os novos cérebros e mãos de silicone tornarão o mundo um aborrecimento sem fim pela emergência de uma felicidade eterna à boa maneira de Huxley, construindo um mundo novo? Ampliando a consciência e a percepção até domarem toda e qualquer inquietante estranheza de ser e qualquer horizonte de mortalidade?
Perguntas a que o bom senso não permite , por enquanto, dar respostas. O futuro é uma incógnita sabendo que na história o que hoje nos parece óbvio ou expectável não o era no passado…
Fim da Primeira Parte
© João Nuno Teixeira
TRANSFIGURAÇÕES
Em memória das vítimas de todo o tipo de violência,
A biblioteca de Londres foi destruída por um bombardeamento em 1940. Uma criança lia entre os destroços. A casa de um ancião foi destruída por um bombardeamento em Aleppo, Síria ( 2011- …). O idoso ouvia um disco entre os escombros de um prédio. As duas imagens sobrepõem-se e sinalizam a guerra como a mais expressiva liturgia da loucura.
As ruínas testemunham a ruptura de uma civilização com o tempo. São uma marca. Não são uma ausência. A Síria será estudada como tem sido analisada a Roma ou a Grécia Antiga. As pedras falam. Os corações ficam mudos face à loucura da razão. Seja a loucura de Lear ou a das personagens inacabadas de Beckett enroladas no novelo sem fim dos seus pensamentos divergentes, compulsivos ou destrutivos.
Ambas as imagens não têm cheiro, som e tactilidade. No entanto, a violência é retalhada pelas palavras e pela melodia. O idoso que ouve, outrora foi a criança que leu. Recorda outros mundos, outras pessoas e outros lugares.
As imagens são assépticas, mas nós não. Levamos fragmentos de um lado para o outro. A memória engana-nos com facilidade. Reconstruímos cada altar interior com as ilusões e as forças que a vida nos injecta nos seus labirintos, avenidas e ruelas.As imagens são hipnóticas, mas nos não. Seduzidos pela imagem , tentamos legendas improváveis, balões inconsequentes ou onomatopeias sensuais para afastar o espectro da morte e do esquecimento.
Rasgamos à força de mil amperes por segundo quadros mentais , itinerários que não queremos percorrer . Goya, Bruegel ou Bosch substituem São Pedro. Somos beatos de pedra. Deus não nos abre a porta . Assumimos todas as virtudes que nos pede e , no entanto, a queda no vício é inevitável. Os irmãos Karamazov de Fyodor Mikhailovich Dostoyevsky não fariam melhor... E sempre o dinheiro, o dinheiro a alimentar a besta e a guerra.
A era cibernética abre caminho à farsa teológica. Ninguém sabe quantas caras têm os seus bezerros de ouro ou com quantas pedras se edifica um templo. Por mais que nos transfiguremos, a imagem no espelho não cessa de nos perseguir e cada vez mais enrugada.
Maquilhamos sentimentos, pensamentos e replicamos comportamentos previamente induzidos sem saber. Expor o ser à totalidade do juízo alheio seria doloroso. A falta e excesso de juízo produzem a mesma matéria sonâmbula. Resta-nos a ruína como lugar de consolo e conforto.
Perdemos a casa, os pais, o homem ou a mulher, os irmãos, o emprego, os cães, os amigos, a casa dos amigos, as casotas …Mas enquanto houver um livro para ler e uma música para ouvir nada nos impede de ser reis arruinados…
Créditos Fotográficos: Joseph Eid /DP
" CYBER-EGO" , UMA BREVE REFLEXÃO
Vivemos a pré-história da era cibernética. A modelação dos comportamentos, valores , instintos e afectos é cada vez mais automatizada pelos padrões da imitação e da validação. Depois do ego, do id e do super-ego, o “cyber-ego” é misterioso , fascinante, complexo e incrivelmente primitivo. Como a direcção do tempo tivesse dois sentidos contraditórios: o da evolução e da regressão. O mimetismo de um humanóide é exactamente igual à instantaneidade das relações de carne e osso, à volatilidade dos acontecimentos, à veracidade plástica da informação global ou às lascas dos corações de atum que povoam a esfera pública digital. O mundo real dilui-se no plasma da virtualidade , tornando-se difuso , o digitalismo social apaga as feridas expostas por Francis Bacon , Lucien Freud ou Paula Rego . A natureza do “cyber-ego” é asséptica determinada pelo algoritmo. A memoria de curto prazo é um apêndice e a de longo prazo perde-se nas brumas .A inteligência artificial é útil, a sensibilidade artificial é inútil e o socialmente imposto uma fraude. O museu de arte e ciência de Singapura obriga-nos a reflectir sobre o que queremos para a humanidade : Se a irracionalidade actual com os seus perigos, se a racionalidade fria com as suas limitações ontológicas. Corinne Mariaud, através do trabalho "fake I real me", lança o desafio de perceber que cosmética se usa nas relações quotidianas por homens e mulheres que querem ser perfeitos ou parecer eternamente felizes como Nadine, a humanóide desenvolvida pelos cientistas.
Créditos Fotográficos: Jon Bagt
Créditos Fotográficos: Jon Bagt
Mr Smart Phone, o novo colonizador
Mr Smart Phone é o novo colonizador. Graças a ele, a vida privada mistura-se com a pública. A esfera e o espaço público diluem-se.O que não é publicitado não existe. A anestesia geral toma contou dos usuários . Transporta-se para o ecrã a" second life"( interessante como o jogo surgiu antes do chicote do novo colonizador. Um balão de ensaio eficaz) ou aquela que vivem necessita de ser validada em praça virtual pública:Declarações inflamadas de amor, elogios desmesurados, sucessos de celofane , sentimentalismos exacerbados ou fotos de tudo e de nada, conquistas do dia-a dia tipo que comem, dormem, viajam , rezam ou fornicam... Actividades essenciais à sobrevivência da espécie que nada de extraordinário possuem ...
Este comportamento é transversal a todas as classes sociais , tanto as menos cultas como as mais instruídas. Tudo perfeito como a vida fosse só mel e rosas , a ideal pílula da felicidade que Huxley , sempre sob o efeito de outras substâncias, descreveu nas suas distopias.
A vaidade é o mais astuto dos" peixes" dizia o Padre António Vieira.O banal é um poderoso estímulo ao consumo ,bem como a imitação e a comparação, criando espaço para aguçar instintos e fazer decair os afectos . Os amigos são mantidos em " formo digital". O léxico relacional é cada vez mais minimalista. O mercado agradece.
Em 60 anos, a sociedade da culpa deu lugar à sociedade do prazer. As figuras públicas e celebridades são os modelos que as massas anónimas querem seguir, a maior parte iludidas pelo" efeito halo" que a psicologia há muito dissecou. As figuras públicas agradecem e inundadas em solicitações que alimentam o seu ego ou o seu "negócio ".Os seus espaços públicos , por vezes, são depósitos de lixo emocional, que pacientemente administram como quem faz "soul board". Ou seja: querem o melhor de dois mundos, a validação no espaço público e a discrição da vida privada.Duas realidades incompatíveis ou muito difíceis de gerir.
Quem, realmente, gere são os detentores das empresas tecnológicas de Silicon Valley ,que atoladas em dinheiro tornaram o vício o escape mais apetecível segundo relatos de imprensa norte -americana credível. Mas os parentes de Mr Smart também caem no engodo: Incapazes de manter ou alcançar a vida perfeita que outros publicam, refugiam-se cada vez mais na droga, álcool e sexo sem arte nem erotismo remetido para esses conceito "modernaço" de" poliamor" São os universos simbólicos da morte a cavalgar!
Figuras públicas e anónimas engolidas por esta voragem, por esta imparável onda não têm tempo e dispersam-se no fluxo de informação, na cadeia de solicitações e na sineta das notificações . Falham compromissos, falham na palavra dada, falham nas relações , mas não falham na hora certa de ligar ao Mr Smart e se não têm rede entram em pânico...
Mas como diz Agustina Bessa -Luís, a morte é o mais poderoso agente moral e chegará a todos...
O espelho nunca mente. O outro tornou-se útil na medida do prazer que proporciona e ,sobretudo, em estar sempre de acordo com usuário , o tal parente próximo de Mr. Smart Phone.
Não são só os problemas na cervical e os calos que importunam os usuários . São problemas civilizacionais de relacionamento , de disfuncionalidade cognitiva e perceptiva que estão a tornar a sociedade doente.
O vazio domina.Todos são estranhos em relação aos demais fruto da ilusão da proximidade que a tecnologia promove e essa é a tragédia contemporânea: Uns estão sós à lareira com o Mr Smart e os que não ligam ao Mr Smart sós estão uma vez que não compactuam com sociedades vigilantes .
Uma "preguicite global" invade cada lar como o monóxido de carbono emanado de uma braseira de uma velha gótica.
Há que arejar ...E ninguém tem de saber disso...
CARTILHA PARA O TERCEIRO MILÉNIO
Em vez do crescimento,o decrescimento
Em vez da aceleração,a desaceleração
Em vez da publicidade, o anonimato
Em vez do ego,o alter-ego
Em vez da manada, a ovelha agridoce
Em vez da imitação, o uso do pensamento crítico
Em vez do controle, o acaso ensaístico
Em vez do evento social, o rebento ecológico
Em vez da estatística, a mística
Em vez da emoção padronizada, o sentimento de honestidade
Em vez do consumo, a criação e a arte
Em vez do banal, o sublime e o belo
Em vez da inveja, a leveza
Em vez da ambição, a comoção breve e a espontaneidade
Em vez da vaidade, a humildade "não industrial"
Em vez do dinheiro, o pinheiro ou o arbusto
Em vez do tempo a passar,o fluir das águas...
Em vez da distracção,a animação consciente
Em vez do digital irreal, o analógico real
Em vez de gastar o corpo , elevar a alma
Em vez de viajar para longe, procurar novos caminhos interiores
Em vez da solidão dos números primos, o "picnic" dos números pares
Em vez da regressão, a prometida e adiada civilização!
Em vez de nós , os outros!...
EXERCÍCIOS PERCEPTIVOS PARA O ESPECTADOR USAR EM SALAS POUCO ILUMINADAS.
Paris, Texas desenvolve-se com base em quatro cores: branco, vermelho, azul e verde que aparecem, isoladamente ou combinadas, em vários cenários do filme. Estações de serviços, estradas, motéis, carros, comboios, vias férreas, aviões e, em geral, grandes espaços abertos.
Nesta amálgama de ruídos, Wenders produz uma estética unificadora. Os viadutos cruzam-se, as linhas de comboio parecem não ter fim tal como Travis e Jane não conseguem ter um discurso amoroso à mesma velocidade. O verde surge como filtro disruptivo em sequência dessa falha de comunicação, essa falha inconsciente atirada para o leito dos sonhos edipianos que Travis idealiza. A incomunicabilidade é resumida na parede de vidro em que Jane e Travis falam via telefone, mas com um aparelho de tv mal sintonizado em fundo. A cena da casa das meninas traquinas verbaliza o que a câmara nos indiciava desde o inicio da película.
Em Asas do Desejo, o murmúrio pincela a preto e branco todo o filme, lembrando, a espaços, o expressionismo alemão. Em Paris, Texas o aspecto do filme remete para as telas do americano Robert Henri, uma das influências de Edward Hopper.
No entanto, a amnésia inicial, o silêncio de Travis é poeticamente desconstruído no filme berlinense de Wenders, em que os protagonistas dão asas a uma voz interior que constantemente interroga quem eram, quem nós somos, que andamos aqui a fazer…
Em Asas de Desejo, as personagens andam pelos céus, em cima dos edifícios, visitam bibliotecas e os anjos entram pelos olhos inocentes das crianças, que como o pequeno Henderson em Paris, Texas sabia que a simplicidade salvaria o amor e daria um sentido à vida….
Os anjos são crianças imunes a violência, mas precisavam de um corpo para se tornarem mortais numa Berlim dilacerada pela loucura dos homens. Damiel quis experimentar o trapézio, as sensações, o amor que Travis e Jane não souberam cuidar, mesmo que Damiel fosse advertido por outro anjo, já caído interpretado por Peter Falk, que a vida é feita de escolhas, feita de caminhos que se bifurcam entre as auto-estradas para o inferno e as escadas para o céu ...
A consciência universal de Asas dos Desejo sobrepõe-se à inconsciência de raiz psicanalítica de Paris, Texas…
Em ambos os filmes, a câmara move-se acoplada a um pássaro preso ao livre arbítrio vigiando a morte acidental e a vida quotidiana.
A actualidade dos dois filmes é surpreendente: homens e mulheres comunicam através de um vidro por linhas análogas às telefónicas. Continuam sem saber quem são camuflando com asas de anjo o que não são…
A cor de qualquer película vai-se esbatendo, porque nascemos sós e haveremos de morrer sós, de volta a um “não-tempo” e a um “não-lugar”…
O mundo não conspira contra nem a favor de ninguém e tudo não passa de sombras, espelhos e máscaras.
É tempo de apreciar a viagem seja por terra, mar ou ar, ir de encontro ao que os homens desconhecem e os anjos nem imaginam…
OS ANJOS PRECISAM DE GASOLINA
Paris, Texas e Asas do Desejo formam uma “paleta fílmica” , em que o elemento terra surge no Paris, Texas e o elemento ar aparece nas Asas do Desejo como arquétipos fundadores. Ambos nos remetem para a falha, princípio dinamizador das tragédias gregas e “shakespearianas”, levam-nos a viajar na constante incomunicabilidade que caracteriza o abismo civilizacional para o qual, aceleradamente, nos dirigimos.
Nas Asas do Desejo, os protagonistas querem ter a experiência humana, No Paris, Texas as personagens procuram a redenção de uma vida interrompida, que só os anjos podem indicar.
Nas Asas do Desejo, os anjos, enquanto seres alegadamente perfeitos, aborrecem-se da imortalidade. No Paris Texas, os homens, seres cheios de recorrentes vícios e universais defeitos, vivem na angústia da mortalidade ou da procura de um sentido ou sentidos para a vida.
Entre o aborrecimento e a angústia, a solidão povoa a maioria das cenas nas duas películas. Solidão lavrada nos acordes pungentes, mas profilácticos, da guitarra de Ry Cooder em Paris.,Texas ou na voz agridoce do Nick Cave em Asas do Desejo.
Aquilo que nos pode salvar é também aquilo que nos pode matar. Eis que surge o amor no seu esplendor decadente, nas asas emprestadas de um anjo planando como uma ave de rapina sobre o silêncio absoluto do deserto ou sobrevoando a cacofonia de uma Berlim dividida e carcomida por uma ideologia sem rosto.
Em Paris, Texas, os protagonistas procuram o que outrora viveram. Em Asas do Desejo, buscam o que nunca viveram. Em ambos, a queda é inevitável.
A vida vivida nunca é a vida sonhada, porque nem tudo depende da vontade, nem o entendimento alcança o tráfego das esferas celestes. Nas duas obras-primas de Wenders tudo nos surge breve e frágil, como belo e imortal.
A estrada é longa, o caminho é incerto, todavia, parar não soluciona o mistério da existência. Olhar em frente, caminhar com vigor sobre brasas e pétalas, porque em cada estação de serviço é preciso abastecer as asas de desejo para alcançar uma, ainda e sempre, utópica Paris, Texas….
Paris, Texas e Asas do Desejo formam uma “paleta fílmica” , em que o elemento terra surge no Paris, Texas e o elemento ar aparece nas Asas do Desejo como arquétipos fundadores. Ambos nos remetem para a falha, princípio dinamizador das tragédias gregas e “shakespearianas”, levam-nos a viajar na constante incomunicabilidade que caracteriza o abismo civilizacional para o qual, aceleradamente, nos dirigimos.
Nas Asas do Desejo, os protagonistas querem ter a experiência humana, No Paris, Texas as personagens procuram a redenção de uma vida interrompida, que só os anjos podem indicar.
Nas Asas do Desejo, os anjos, enquanto seres alegadamente perfeitos, aborrecem-se da imortalidade. No Paris Texas, os homens, seres cheios de recorrentes vícios e universais defeitos, vivem na angústia da mortalidade ou da procura de um sentido ou sentidos para a vida.
Entre o aborrecimento e a angústia, a solidão povoa a maioria das cenas nas duas películas. Solidão lavrada nos acordes pungentes, mas profilácticos, da guitarra de Ry Cooder em Paris.,Texas ou na voz agridoce do Nick Cave em Asas do Desejo.
Aquilo que nos pode salvar é também aquilo que nos pode matar. Eis que surge o amor no seu esplendor decadente, nas asas emprestadas de um anjo planando como uma ave de rapina sobre o silêncio absoluto do deserto ou sobrevoando a cacofonia de uma Berlim dividida e carcomida por uma ideologia sem rosto.
Em Paris, Texas, os protagonistas procuram o que outrora viveram. Em Asas do Desejo, buscam o que nunca viveram. Em ambos, a queda é inevitável.
A vida vivida nunca é a vida sonhada, porque nem tudo depende da vontade, nem o entendimento alcança o tráfego das esferas celestes. Nas duas obras-primas de Wenders tudo nos surge breve e frágil, como belo e imortal.
A estrada é longa, o caminho é incerto, todavia, parar não soluciona o mistério da existência. Olhar em frente, caminhar com vigor sobre brasas e pétalas, porque em cada estação de serviço é preciso abastecer as asas de desejo para alcançar uma, ainda e sempre, utópica Paris, Texas….
A SOLIDÃO DAS BORBOLETAS E AS REDES SOCIAIS
As borboletas vivem duas a quatro semanas ,em média, depois de passarem por vários estádios biológicos.
O mundo virtual das redes sociais ilustra o paradigma das borboletas. A ilusão de estarem a comunicarem umas com as outras, quando, de facto, vivem separadas por vidros e encerradas em campânulas. O ambiente protegido e asséptico tornam as borboletas auto-referenciais
O bater de asas de uma borboleta influencia o de outra. Esvoaçam em movimentos aleatórios e as ondas vibracionais provocam epifenómenos exauridos até ao cúmulo da irracionalidade.
As metamorfoses de cada borboleta ilustram a vida social: Nada é certo, nada é definitivo, nada é sólido.
As borboletas camuflam-se dos predadores com lindos golpes de asa. Na cibercultura , as borboletas embebedam-se de felicidade visual.
As borboletas são todas diferentes, mas tornam-se iguais sob o efeito hipnótico da luz.
Na natureza,as borboletas transformam-se para o amor. Na cibercultura as borboletas cansam-se pelo desamor…
Na natureza, é no apogeu da sua beleza que morrem. Na cibercultura , é no culminar da sua tristeza que se consomem...
O azul tem um efeito narcótico, acalma, mas deprime, tranquiliza, mas arrefece…
O azul é a cor da água na sociedade em que tudo é líquido ...
Morpho é um nome de uma borboleta e o Facebook está plantado de blues…
O mundo virtual das redes sociais ilustra o paradigma das borboletas. A ilusão de estarem a comunicarem umas com as outras, quando, de facto, vivem separadas por vidros e encerradas em campânulas. O ambiente protegido e asséptico tornam as borboletas auto-referenciais
O bater de asas de uma borboleta influencia o de outra. Esvoaçam em movimentos aleatórios e as ondas vibracionais provocam epifenómenos exauridos até ao cúmulo da irracionalidade.
As metamorfoses de cada borboleta ilustram a vida social: Nada é certo, nada é definitivo, nada é sólido.
As borboletas camuflam-se dos predadores com lindos golpes de asa. Na cibercultura , as borboletas embebedam-se de felicidade visual.
As borboletas são todas diferentes, mas tornam-se iguais sob o efeito hipnótico da luz.
Na natureza,as borboletas transformam-se para o amor. Na cibercultura as borboletas cansam-se pelo desamor…
Na natureza, é no apogeu da sua beleza que morrem. Na cibercultura , é no culminar da sua tristeza que se consomem...
O azul tem um efeito narcótico, acalma, mas deprime, tranquiliza, mas arrefece…
O azul é a cor da água na sociedade em que tudo é líquido ...
Morpho é um nome de uma borboleta e o Facebook está plantado de blues…
SILÊNCIO- O ALFAIATE DO EROS
Ingmar Bergman é o esteta do Eros e Tanatos explorando a luz e a sombra sob efeito da elipse. O silêncio é um filme altamente" erotizado", um profundo quadro interior do desejo e da construção e desconstrução do sexo masculino e feminino, mas sempre com as notas narrativas de crueldade e drama interior das personagens , que não se conseguem resolver ou superar as forças subliminares do inconsciente. Uma fotografia divina, uma realização que só os grandes mestres sabem fazer...
Utopia
A utopia é a antecâmara do sonho, da esperança e da transformação social.
A República de Platão, a obra homónima de Thomas More, o Capital de Marx ou o Apocalipse da Bíblia relatam sociedades terrenas ideais ou ordenamentos divinos depurativos.
A fé em Deus é um poderoso lenitivo contra a descrença no Homem que Albert Camus descreve em livros como A Queda ou O Estrangeiro.
O projecto terreno da utopia, do progresso civilizacional nunca foi alcançado . Os séculos são atravessados pelas guerras, fome e epidemias. O poder, a violência e a sede de acumulo monetário retirou à Polis qualquer esperança de realização da utopia, de ter um homem civilizado em harmonia com a natureza na condução da vida.
A ideologia é subvertida pelo pragmatismo ou mesmo traída. O motor da mudança é bloqueado pela pesada máquina burocrática.
Franz Kafka narrou num dos seus contos como um símio se transformou. As suas obras descrevem a incompletude de qualquer projecto humano e a brutalidade do sistema ideológico, corrompido pelas necessidades práticas dos detentores dos meios de subsistência.
No filme 2001 Odisseia no Espaço, Kubrick filma os símios a lutarem uns contra os outros e mesmo que a tecnologia esconda, nada impede de constatar que a posição bípede entretanto alcançada tenha sido útil no progresso axiológico, civilizacional e ambiental da humanidade. No mesmo filme, quando os símios não se digladiam, imitam-se uns aos outros.
Sonha-se com a utopia e constata-se que é a distopia e a disfuncionalidade critica que governam o devir do tempo.
A República de Platão, a obra homónima de Thomas More, o Capital de Marx ou o Apocalipse da Bíblia relatam sociedades terrenas ideais ou ordenamentos divinos depurativos.
A fé em Deus é um poderoso lenitivo contra a descrença no Homem que Albert Camus descreve em livros como A Queda ou O Estrangeiro.
O projecto terreno da utopia, do progresso civilizacional nunca foi alcançado . Os séculos são atravessados pelas guerras, fome e epidemias. O poder, a violência e a sede de acumulo monetário retirou à Polis qualquer esperança de realização da utopia, de ter um homem civilizado em harmonia com a natureza na condução da vida.
A ideologia é subvertida pelo pragmatismo ou mesmo traída. O motor da mudança é bloqueado pela pesada máquina burocrática.
Franz Kafka narrou num dos seus contos como um símio se transformou. As suas obras descrevem a incompletude de qualquer projecto humano e a brutalidade do sistema ideológico, corrompido pelas necessidades práticas dos detentores dos meios de subsistência.
No filme 2001 Odisseia no Espaço, Kubrick filma os símios a lutarem uns contra os outros e mesmo que a tecnologia esconda, nada impede de constatar que a posição bípede entretanto alcançada tenha sido útil no progresso axiológico, civilizacional e ambiental da humanidade. No mesmo filme, quando os símios não se digladiam, imitam-se uns aos outros.
Sonha-se com a utopia e constata-se que é a distopia e a disfuncionalidade critica que governam o devir do tempo.
STALKER - A ESPIRAL DO SER
Stalker é um filme de Andrei Tarkovsky que explora as fronteiras do desconhecimento interior. Uma descida às profundezas do ser que poucos ousam fazer e mostrar. O medo e a vergonha tornam o humano cativo da sua zona. Medo de avançar e vergonha de recuar como refere o cineasta.
Uma zona da fé, da esperança, do milagre mas também do desespero, do desencontro e da inutilidade. É a zona onde o livre arbítrio não supera o acaso. Onde a arte não faz todas as perguntas e a ciência não dá todas as respostas. A dúvida não dissolve o mistério, adensa-o com um travo agridoce.
Os desejos íntimos que se escondem num manto de dunas de areia sobrevoado por aves de rapina que levam nos bicos os grãos de algodão do tempo. E tudo se desmorona num minuto. A matéria da mente é volúvel, plástica, imprevisível e, por vezes, caprichosa. Como diz o mestre Russo: “…Sonha-se uma coisa e recebe-se outra …”
A sociedade actual está sedenta de sensações, de desejos pluriformes e de protagonismos paraplégicos. O desejo não se materializa nos tempos modernos, é fugidio…Mas o sistema exterior ao homem fá-lo acreditar na vontade como uma força indómita, quando a vontade é uma velha de rugas a beber por um biberão.
O poeta Andrei revela que a força só endurece. A velha expressão “ tens que ser forte” é de uma crueldade atroz. As árvores e as crianças nascem frágeis e flexíveis. Tudo que se torna forte por imposição exterior cai no endurecimento e morre…
Todos transportam cadáveres dentro de si, porque poucos ousam entrar na sua zona de desconforto e desafiar o mundo das certezas ideológicas, dos sistemas paternalistas, dos clubes pornográficos dos donos do crescimento externo bruto ,das nações autistas e dos recorrentes pintores de latrinas…Eis o porco-espinho, entidade exterior que tudo aniquila. Eis o cão preto, eterno sobrevivente, a deambular, que só pretende uma chávena de leite…
A desordem do mundo vem da fobia de não ouvir a voz interior pura e cristalina...
A cacofonia impera!
O milagre surge com a música, quando os sons contraditórios do mundo se transformam em harmonia …E todos param por breves minutos, todos entendem a linguagem da música, do belo e do sublime…
Eis as metáforas visuais do poeta Andrei: Tudo se move por força do milagre interior. Basta abrir a porta da zona misteriosa de cada um e deitar a chave para um lago cheio de moedas enferrujadas, onde a tinta da história individual correrá sem cessar, moldando a corrente inconstante da história das civilizações…
Uma zona da fé, da esperança, do milagre mas também do desespero, do desencontro e da inutilidade. É a zona onde o livre arbítrio não supera o acaso. Onde a arte não faz todas as perguntas e a ciência não dá todas as respostas. A dúvida não dissolve o mistério, adensa-o com um travo agridoce.
Os desejos íntimos que se escondem num manto de dunas de areia sobrevoado por aves de rapina que levam nos bicos os grãos de algodão do tempo. E tudo se desmorona num minuto. A matéria da mente é volúvel, plástica, imprevisível e, por vezes, caprichosa. Como diz o mestre Russo: “…Sonha-se uma coisa e recebe-se outra …”
A sociedade actual está sedenta de sensações, de desejos pluriformes e de protagonismos paraplégicos. O desejo não se materializa nos tempos modernos, é fugidio…Mas o sistema exterior ao homem fá-lo acreditar na vontade como uma força indómita, quando a vontade é uma velha de rugas a beber por um biberão.
O poeta Andrei revela que a força só endurece. A velha expressão “ tens que ser forte” é de uma crueldade atroz. As árvores e as crianças nascem frágeis e flexíveis. Tudo que se torna forte por imposição exterior cai no endurecimento e morre…
Todos transportam cadáveres dentro de si, porque poucos ousam entrar na sua zona de desconforto e desafiar o mundo das certezas ideológicas, dos sistemas paternalistas, dos clubes pornográficos dos donos do crescimento externo bruto ,das nações autistas e dos recorrentes pintores de latrinas…Eis o porco-espinho, entidade exterior que tudo aniquila. Eis o cão preto, eterno sobrevivente, a deambular, que só pretende uma chávena de leite…
A desordem do mundo vem da fobia de não ouvir a voz interior pura e cristalina...
A cacofonia impera!
O milagre surge com a música, quando os sons contraditórios do mundo se transformam em harmonia …E todos param por breves minutos, todos entendem a linguagem da música, do belo e do sublime…
Eis as metáforas visuais do poeta Andrei: Tudo se move por força do milagre interior. Basta abrir a porta da zona misteriosa de cada um e deitar a chave para um lago cheio de moedas enferrujadas, onde a tinta da história individual correrá sem cessar, moldando a corrente inconstante da história das civilizações…
ANDREI TARKOVSKY- NOSTALGIA NA ERA CIBERNÉTICA...
A memória é uma matéria volátil. Está sujeita a inúmeras incorrecções, lapsos e erros. A interpretação é igualmente falível em todos os homens. O tempo molda o ser. O ser nunca será o que já foi e jamais será o mesmo daquilo que agora lhe parece que é.
O passado é uma ruína. As pessoas são fantasmas, os objectos são inúteis e os lugares estão abandonados. O excesso de memória leva ao desespero. A falta de memória produz a alienação. A falta de memória é uma massa branca e o excesso é um objecto negro. Tarkovsky explora no filme nostalgia a luz e sombras da memória em amplas arqueologias cinematográficas.
Todas as cenas são autênticos quadros filmados com a mestria de um poeta. Transmitir por visões e reconstruções o que o tempo apaga é um exercício difícil, mas que comove o espectador até ao máximo expoente da sua sensibilidade.
O filme desenvolve-se em espectros sucessivos como ondas concêntricas do binómio tempo / espaço…Refracções difusas de emoções, sentimentos e pensamentos insolúveis mesmo que a água seja constante na ambiência dramática da película. Seja a chuva, seja o vapor dos banhos…
Na era cibernética, a proliferação de estímulos anestesia o homem. Incapaz do excesso de memória, mas vítima da falta de memória pelo descomedimento de imagens. A imagem prostitui-se e a sua banalidade torna o homem desvinculado de qualquer tipo de desejo fundador e de um tempo de meditação e, sobretudo, de mediação com os lugares que habita e com as pessoas com que se relaciona. O erotismo da vida é substituído pela mortificação do momento.
A falta da memória não é só individual, mas colectiva. Tarksvosky filma em 1983 o que se passa em 2016. Um louco montado na estátua equestre de Marco Aurélio diz a verdade perante os homens, aparentemente normais, dispostos geometricamente nas escadas da ambição, da vaidade e do individualismo. Mas a verdade não mobiliza os homens. O louco imola-se no fogo, mas nem com a imagem do sacrifício a multidão se comove e redime. Só um cão ladra…
A melancolia é um estado de algo ou alguém que já não nos pertence, mas nas ruínas da alma há espaço para a beleza e para o sublime.
O filme fecha com o destino de todos os homens. O protagonista morre só no seu templo na esperança de uma redenção no céu, já que na terra está condenado à ver o seu reflexo numa poça de água semeada na lama da irracionalidade civilizacional, a qual se apagará com a neve da história…
O mundo, o homem podiam ser outra coisa, mas mesmo com a tecnologia não o são…E essa impotência ontológica leva a que o homem se sinta nostálgico de um destino que nunca se cumprirá e de uma natureza humana que nunca mudará, apenas se replica de Era em Era até ao abismo final…
A memória é uma matéria volátil. Está sujeita a inúmeras incorrecções, lapsos e erros. A interpretação é igualmente falível em todos os homens. O tempo molda o ser. O ser nunca será o que já foi e jamais será o mesmo daquilo que agora lhe parece que é.
O passado é uma ruína. As pessoas são fantasmas, os objectos são inúteis e os lugares estão abandonados. O excesso de memória leva ao desespero. A falta de memória produz a alienação. A falta de memória é uma massa branca e o excesso é um objecto negro. Tarkovsky explora no filme nostalgia a luz e sombras da memória em amplas arqueologias cinematográficas.
Todas as cenas são autênticos quadros filmados com a mestria de um poeta. Transmitir por visões e reconstruções o que o tempo apaga é um exercício difícil, mas que comove o espectador até ao máximo expoente da sua sensibilidade.
O filme desenvolve-se em espectros sucessivos como ondas concêntricas do binómio tempo / espaço…Refracções difusas de emoções, sentimentos e pensamentos insolúveis mesmo que a água seja constante na ambiência dramática da película. Seja a chuva, seja o vapor dos banhos…
Na era cibernética, a proliferação de estímulos anestesia o homem. Incapaz do excesso de memória, mas vítima da falta de memória pelo descomedimento de imagens. A imagem prostitui-se e a sua banalidade torna o homem desvinculado de qualquer tipo de desejo fundador e de um tempo de meditação e, sobretudo, de mediação com os lugares que habita e com as pessoas com que se relaciona. O erotismo da vida é substituído pela mortificação do momento.
A falta da memória não é só individual, mas colectiva. Tarksvosky filma em 1983 o que se passa em 2016. Um louco montado na estátua equestre de Marco Aurélio diz a verdade perante os homens, aparentemente normais, dispostos geometricamente nas escadas da ambição, da vaidade e do individualismo. Mas a verdade não mobiliza os homens. O louco imola-se no fogo, mas nem com a imagem do sacrifício a multidão se comove e redime. Só um cão ladra…
A melancolia é um estado de algo ou alguém que já não nos pertence, mas nas ruínas da alma há espaço para a beleza e para o sublime.
O filme fecha com o destino de todos os homens. O protagonista morre só no seu templo na esperança de uma redenção no céu, já que na terra está condenado à ver o seu reflexo numa poça de água semeada na lama da irracionalidade civilizacional, a qual se apagará com a neve da história…
O mundo, o homem podiam ser outra coisa, mas mesmo com a tecnologia não o são…E essa impotência ontológica leva a que o homem se sinta nostálgico de um destino que nunca se cumprirá e de uma natureza humana que nunca mudará, apenas se replica de Era em Era até ao abismo final…
O ESPÍRITO DA CARNE...
IDENTIDADE CULTURAL PORTUGUESA
A identidade resulta da dialéctica entre a memória e o imaginário. Entre aquilo que fomos, aquilo que pensamos ser e o que desejamos ser.
A memória dos factos e dos acontecimentos remetem para a realidade daquilo que fomos. Os usos, costumes, hábitos e tradições transmitidos por via oral, escrita, analógica e, agora, digital moldam o inconsciente colectivo que Jung sistematizou.
O que pensamos ser remete para a representação do nosso tempo. O tempo psicológico e não real que julgamos viver. Porque o real é fora de nós. Marcel Proust sempre buscou o tempo perdido. Freud considerou o tempo uma planificação entre as contradições dos instintos face aos afectos. O que se pensa ser é um dentro de nós, mas fora do mundo. A ilusão perfeita, a nudez sublime das formas etéreas que nenhum vestido consegue disfarçar, apenas velar ou conservar.
O que desejamos ser manifesta-se no imaginário. O sonho, a busca das formas perfeitas, dos tecidos mais eloquentes ou dos cortes mais ousados.
Entre o que fomos, pensamos ser e desejamos ser está o mito. Como dizia Pessoa, o mito é o nada que é tudo. O mar é tudo o que queremos ser. O sonho que julgamos poder alcançar e o nada que ficou para trás na espuma dos dias passados, que já não voltam…
Este mar que não nos deixa sossegar é a nossa alma, bem Portuguesa, as ondas sempre a rebolar na areia num eterno retorno. Em outros tempos, partimos pelos setes mares, mas, agora, que já tudo foi encontrado, Portugal perdeu-se dentro de si... O quinto império reduziu-se a uma utopia aritmética presente em cada paradoxo institucional. A Europa está senil e Portugal anda sempre a dar-lhe a bengala para a mão…
Resta-nos a arte. Porque contrariando Óscar Wilde, a arte pode ser extremamente útil. Como testemunho do que fomos e do que queremos ser. O que somos, hoje, continua no domínio da nudez. Despojados não só de educação, cultura, mas também de uma melhor justiça e saúde. O mito sobrevive. Seremos capazes de dominar o mar? Ou continuamos à espera do Dom Sebastião?
Fosse a língua Portuguesa objecto de salvação, mas até essa é confinada à solidão de olhar o computador. Como se o mar fosse virtual e a relação com o outro fosse o que aparenta ser e não aquilo que é. A mulher de César levou Eva ao exílio e Adão deixou crescer as barbas. Mas sempre bem vestido. O próprio Eça poderia ter escrito que a cidade não comunica e a serra não abraça o mar.
A língua Portuguesa não é a nossa Pátria. Andam todos exilados. Perdidos nos seus tempos psicodramáticos e nos lugares comuns da civilização tecnológica. O objecto domou o sujeito, quando o sujeito deveria comandar o objecto.Os conceitos diluíram-se. As ideologias confundiram-se. As pessoas demitiram-se.
Urge revolucionar o tempo pela força do mito e do símbolo. Que tudo vence e que permite navegar neste mar que é o da civilização humana.
A identidade nunca pode ser um dado definitivo, porque falta saber o que a mortalidade nos reserva. O fim de tudo ou o começo de algo mais na moda? Um banquete servido no Olimpo, bebendo o néctar imortal dos Deuses ou a constatação que os Deuses não lavam as vestes onde se enrolam, para nosso desespero e desencanto. Falta esse confronto final para arquivar o processo existencial, que só Kafka, Camus e Sartre nos levaram a consultar no grande tribunal universal. A constatação que a vida é boa, mas injusta. Porque algo parte e alguém nunca mais chega…
Como seria bom voltar a encontrar aqueles que já partiram. O sonho de olhar o mar, ninguém nos pode tirar. Nascemos frente a ele. Haveremos de ir lá morrer. Mas que seja sempre ao fim da tarde com um xaile sobre as costas…
Todos Direitos de Autor Reservados
SINAIS DOS TEMPOS:
1- ESTIMULAÇÃO PERMANENTE: O fluxo de imagens, informações e contra-informações substitui o fluxo de consciência e a análise crítica das fontes;
2- ESTREITAMENTO COGNITIVO: Perdidos na selva da informação e contra-informação, do estímulo permanente, o cérebro leva mais tempo a seleccionar, a construir conhecimento e a implementar caminhos de sabedoria;
3- AUMENTO DO ESPAÇO VIRTUAL, DIMINUIÇÃO DOS ESPAÇO VITAL: Ligados ao mundo inteiro, desligados da consciência de si e dos outros;
4- A REALIDADE COMO PALCO: A expressão a vida é como um palco de teatro ganhou novas versões na sociedade cibernética. Só que ninguém quer ser figurante, espectador, personagem secundária. Todos anseiam em ter a caveira e anunciar ao mundo: " Ser ou não Ser" . Todos se tornam o centro do universo contrariando Copérnico e Galileu...
5- O GOOGLE NÃO É DEUS, NEM AS REDES SOCIAIS A REALIDADE: Mas há quem pense que sim, uma vez que tornaram-se os oráculos dos Deuses;
6- O CÉREBRO MENTE TODOS OS DIAS: A sobrevivência necessita que o cérebro crie as suas narrativas, leva-las para o real social tornou a mentira socialmente aceite e a irracionalidade uma força instantânea;
7-BANALIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA: Estratégia subliminar para que as pessoas inundadas com a espectacularidade do mal, da tragédia e da catástrofe se aliviem na tecnologia e no consumo;
8- CONSUMISMO DESENFREADO: A caixa de correio electrónico tem mais mensagens de empresas a vender produtos que pessoas a partilhar valores, afectos e a discutir ideias. Mesmo a paz interior se vende em ladainhas de auto-ajuda.
LEÃO HEBREU E O SENTIDO UNIVERSAL DO AMOR
Leão Hebreu nasceu em 1464 e faleceu em 1534. Filósofo nascido em Lisboa numa das mais influentes famílias judaicas, sendo o seu nome de baptismo Judá Abravanel. Viveu em Espanha e em Itália onde, supostamente, morreu. Leão de Hebreu estudou as diferentes filosofias clássicas: A Hebraica, a Muçulmana e a Latina. Estudou a Bíblia, as obras de Platão e Aristóteles, mas também fez incursões nas obras de Averróis, Maimónides e Avicena.
Destaca-se da sua escrita, os diálogos de amor, cuja primeira edição sai postumamente em Roma, em 1535. Nos Diálogos, concebe o amor como essência que unifica todo o universo. A linguagem do amor como produto da harmonia das formas. O Amor como espirito universal e de revelação de Deus.
Neste mundo contemporâneo marcado pela divisão e pela guerra, a leitura das reflexões de Leão Hebreu mostram que a salvação procede do amor. Deus foi, é e será sempre Amor!
Obra:
Diálogos de Amor, texto fixado, anotado e traduzido por Giacinto Manuppella, vols. I e II, Lisboa, 1983
Bibliografia sobre o Autor:
Giuseppe Saitta «La filosofia di Leone Hebreo» in Filosofia Italiana e Humanismo, Veneza, 1928;José Narciso Rodrigues, «A filosofia de Leão Hebreu. O amor e a beleza» in Revista Portuguesa de Filosofia, t. XV, fasc. 4, Braga, 1959, pp. 349-386;José Barata Moura «Amizade humana e amor divino em Leão Hebreu», in Didaskalia, vol. II, fasc. I, Lisboa, 1972, pp. 155-157;Id., «Leão Hebreu e o sentido do amor universal» in Didaskalia,, vol. II, fasc. II, Lisboa, 1972, pp. 375-404; Joaquim de Carvalho, Leão Hebreu Filósofo, in Obras Completas de Joaquim de Carvalho, vol. I, Lisboa, 1978;J. Pinharanda Gomes,
Fonte: Instituto Camões.
O Xadrez e a Vida...
A matemática, a música e o xadrez são a poesia do universo. Todas são regidas por regras que produzem harmonia. A demonstração na matemática é mais bela que o resultado. A melodia na música produz uma vibração interna em cada homem.As regras do xadrez são como os passos na dança clássica, mas as infinitas combinações de jogadas são movimentos sublimes próprios da dança contemporânea. Existem mais variantes possíveis no jogo de xadrez do que átomos no nosso universo em expansão. O número de possibilidades válidas para os quatro primeiro lances de cada jogador é da ordem de 318 979 584 000.
Uma das leis físicas enunciadas por Newton refere que para cada acção existe uma reacção. No xadrez como na vida é cada movimento que vai condicionar o movimento seguinte. Na vida , não existem vencedores. Todos saem derrotados pela morte.
A morte introduz a igualdade no horizonte humano. Nenhuma revolução na história humana produziu tão belos resultados no plano da paridade. Bergman explorou a temática no filme “ Sétimo Selo”
O absurdo que autores como Beckett . Sartre e Camus relataram está mais em nós do que nos outros. É a nossa jogada no tabuleiro de xadrez que vai condicionar o nosso próximo passo. O antagonista é o fruto das nossas opções. Veja-se Joseph K no processo de Franz Kafka que em última instância determinou o seu destino.
O tabuleiro de xadrez tornou-se virtual .A tecnologia tornou os movimentos repetitivos. Todos pensam da mesma maneira e quando é assim ninguém está a pensar. Imitam-se movimentos , seguem-se modas e o homem fica cativo do destino absurdo que traçou para si.
Os peões não são solidários e todos correm em linha recta em busca de serem réis e rainhas. Os bispos fazem diagonais para salvar a sua religião. Os cavalos movem-se em L passando por cima de todos. As torres apresentam rachas. A Rainha emancipou-se e o Rei reina sem coroa à espera que algo aconteça…
A única equação irresolúvel é a humana. Siga o jogo de xadrez enquanto a música ainda se ouve…
De Pascoaes a Agustina – Um Alfabeto Sensorial
Comunicação no âmbito dos petiscos literários - 2ª Edição
Uma viagem pelos prazeres da leitura numa conversa animada pelos néctares dos deuses e pelas palavras dos génios amarantinos.
Hostel Des Arts, Amarante
16 de Dezembro de 2017, 17h
Organização: Hostel Des Arts em parceira com a Estante do Porteiro
Nota prévia: A linha editorial deste petisco é exclusivamente vista do ponto de vista de um leitor curioso que tem uma estante, é porteiro e temporariamente albergado sob este tecto cheio de histórias em defesa da arte, que não é mais que a vida em estado de magnificência. Muito obrigado aos presentes e ao Hostel
Teixeira de Pascoaes nasceu a 8 de Novembro de 1877 e morreu em 14 de Dezembro de 1952. Passam 65 anos e dois dias da sua morte , a devida vénia ao mestre!
Agustina Bessa-Luís ( nasceu em Vila Meã , Amarante) em 15 de Outubro de 1922 e continua a olhar-nos…
Agustina partiu e Teixeira de Pascoaes, apesar de múltiplas viagens , vai ficando entre S.João de Gatão e Amarante . No entanto, ambos se deixam inspirar pela terra que agora calcamos e calcorreamos na procura dos segredos, desvendar mistérios e forças ocultas espessas e expressas na bela neblina amarantina fotografada magistralmente por Eduardo Teixeira Pinto, por exemplo.
Quando em 1948 lançou a sua primeira novela, Mundo Fechado ,Agustina tinha apenas 26 anos , mas não se remeteu ao anonimato. Enviou o livro para os maiores escritores vivos da altura: Miguel Torga, Aquilino Ribeiro e Teixeira Pascoaes, tendo este ficado muito bem impressionado com a prosa de Agustina dedicando-lhe palavras elogiosas dignas da grandeza dos mestres .( nem concessões ao realismo, nem ao romantismo ....)
Eduardo Lourenço considerou Agustina uma voz única, Óscar Lopes como barroca e António José Saraiva colocava-a no mesmo altar que Fernando Pessoa.
Quanto a Teixeira de Pascoaes, Vitórino Nemésio louvou o génio pastoril. Disse em 4 de Abril de 1951 acerca de Pascoaes”…A poesia serrana de Pascoaes aproxima-se mais do eremita da Arrábida pelo gosto ermo e pela fundura religiosa, da de Camões pelo timbre pagão e às vezes em certos traços épicos à escrita de Alexandre Herculano…”
Mas Jorge de Sena, desassombrado como sempre, relatou aquilo que é intemporal, dizendo: “…o génio nem sempre é reconhecido em vida, muito menos pelos seus conterrâneos e os contemporâneos , quando fala de intencional silêncio e em elogios pedantes, injustiça e incompreensão…”
Sem dúvida que Pascoaes tem de ser lido às novas gerações, nas escolas e não remetido só aos círculos restritos ,porque a sua poesia influenciou muitos e marcou o século XX português. Estarmos aqui hoje é uma forma de o homenagear, bem como Agustina, sem estar comprometido com poderes nem modas nem vaidades. Só pelo prazer da leitura , o que já não é pouco, diga-se de passagem…
Mas Jorge de Sena encontra em Pascoaes ainda a transmontana sentimentalidade de Camilo , a nirvânica abdicação em Antero e o rumorejante encantamento indignado em Junqueiro
Miguel Unamuno dizia que ele era “ todo un hombre” tão bem retratado por esse outro Amarantino António Carneiro, que com Amadeo Souza-Cardoso são nomes maiores da pintura portuguesa do fim do século XIX e princípios do século XX, um pela continuidade e outro pela ruptura dos cânones estéticos vigentes.
A produção literária de Pascoaes e Bessa-Luís é tão profícua que o fio condutor deste nosso encontro será sinteticamente exemplificado por excertos textuais ( porque a obra dos dois é imensa e o tempo para "petiscar" não deve entupir o apetite para o jantar) .Utilizaremos a obra matriz da autora, a Sibila e por alguns poemas de Pascoaes ( Os fabulosos marânus e elegia do amor são os mais pop).
A sibila é um rendilhado lexical em que as palavras , muitas delas comidas pela aceleração dos nossos dias, remetem para um mundo em estado bruto pincelado de ironia, humor e fino recorte literário, vejamos na página 56(Edição Relógio de Água, Julho de 2017( ( leituras)
Sibila é Joaquina ou Quina, uma mulher que vem da bruma do tempo, com uma sabedoria empírica , da vida doméstica de gerir a casa ( da Vessada). A sabedoria nela remonta de um não lugar ou de um lugar desconhecido, como as sibilas da mitologia, quer as da tradição grega quer a latina.
Esta condição humana, adivinatória versus divinatória mas também dramaticamente mundana que Pascoaes sempre soube esculpir, retirar da pedra filosofal algures perdida no Marão ou despida , beijada pelo Tâmega … Olhando para o infinito para interrogar as cousas humanas , insuflado por um animismo para alcançar a utópica fórmula definitiva para a vida ou padecer de um consolador panteísmo.
Pegando neste inferno e expiação , que é intemporal, interrogação, insinuação misteriosa, intuições heréticas, representação alegórica e ocultação pascoalina , a psicanálise explicaria que o animal que há dentro da cada um não se deixa dominar pela ordem cósmica das estrelas e que a escuridão é primeira das claridades.
Agustina, também ela, descodificou , um certo viver , uma certa época , aparentemente remoto visto à luz dos nossos dias, que Pascoaes elevou ao conceito mais depurado e cristalino .
Somos todos hoje vítimas do inconsciente colectivo do passado , de arquétipos, tiques e manias que Jung soube tão bem identificar no seu trabalho científico . Não se encontra hoje uma mulher de bigode como antigamente e hoje os homens rapam os pêlos.... Que diria a sibila , com os seus dons de vidente, sobre os tempos que vivemos…
Vejamos na página 57 e 58(ob.cit ) a anunciação do que seria o livro porque nas 56 páginas anteriores Agustina inseri-nos na ambiência do livro.( leituras)
E como é que Pascoaes vai buscar aquilo que Agustina dizia nestas frases quase ensaísticas, o que se distingue para lá das montanhas ?, qual a sombra de fumo, de pó ou de nuvem? o que na floresta conhece o rasto animal em tempo de caça ou tempo de amores. ?
Vejamos a resposta de Pascoaes, numa intertextualidade surpreeendente:
Dos versos pobres, 1949, Dosúltimos versos , 1953 retirados do VI volume das obras completas de Teixeira Pascoaes, Edição especial da Livraria Bertrand 1973) ( leituras)
E para terminar um texto escrito por Jon Bagt em singela homenagem a Amarante, berço deste nosso petisco literário “ arrabanado” face à proximidade do natal, esperando que muitos se sigam , se os deuses quiserem e a vontade dos homens e das mulheres assim o permitirem. Muito obrigado mais uma vez a todos!
Amarante : Uma visão...
Amarante deita-se sobre as encostas apertadas do Marão e refresca-se nas águas do Tâmega. O verde desce do seu leito até a floresta onde ninfas e sátiros pintam os lábios do diabo.
Nas ruas da cidade, a vendedora de couves amola a sua faca na roda do tocador de flauta enquanto o jovem poeta canta o amor doce à senhora das lérias abençoada por São Gonçalo, conhecido mestre-de-obras e hipnotizador de juntas de bois adornadas de redes wi-fi delicadamente conectadas sobre os cornos de silicone.
Pedras voadoras juntam-se sob a cúpula solarenga do Convento onde Amadeo Souza-Cardozo pinta o retrato de Teixeira de Pascoaes. O fumo do cigarro adensa-se na ponte nas horas de dormência dos sentidos.
Nas faldas do Douro, do Minho e das Beiras, Amarante estende-se na sua poltrona à espera de ser mimada pela música dos bombos de verão ou pelas carícias de um saxofone vadio. O diabo tem tempo de piscar o olho à sua diaba e não esfrega o olho sem as badaladas do Santo.
Às horas de prazer, onde a noite tem mil olhos, seguem-se os dias de trabalho. A tranquilidade das horas e a placidez bucólica dos seus recantos mágicos marcam o ritmo da cidade. O metalúrgico lava as mãos numa fonte perto do colégio da filha, o programador informático negoceia os números primos com o peixeiro - sinaleiro ou a jovem cientista casa com o marceneiro depois de se conhecerem na limpeza do altar de talha dourada na igreja altaneira.
Mil e uma luas chamam por ti… Amarante encarna a substância do tempo e resgata as almas do purgatório da vida moderna.
Amarante é o único local sobre a Terra onde o diabo vive no paraíso...
Teixeira de Pascoaes- A Eternidade Só Por Um Dia...
Teixeira de Pascoaes, pseudónimo, nome literário de Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos nasceu em Amarante em 8 de Novembro de 1877 e faleceu em São João de Gatão , Amarante, em 14 de Dezembro de 1952.
A procura da essência da alma portuguesa é um dos traços da obra de Pascoaes. A busca dos valores espirituais da Pátria e do Homem inscrevem-se em toda a obra do escritor Amarantino.
A espinhosa tarefa de pesquisar os confins da alma sem cair no abismo exigia recolhimento. Teixeira de Pascoaes absorveu o espírito da montanha e do transcendente nas longas horas de trabalho solitário no solar da família em S.João de Gatão. A natureza luxuriante da Serra do Marão e do Rio Tâmega eram inspiradoras dos mais belos poemas e prosas sobre esta inquietante estranheza de ser que a todos os homens toca.
O escritor amarantino possuía uma das mais belas bibliotecas privadas do País. Vivia rodeado de beleza. A dos livros que guardava e as das paisagens bucólicas que contemplava.
Além da prosa e da poesia , Pascoaes deixou interessantes biografias de S. Jerónimo, Santo Agostinho , Camilo Castelo Branco e Napoleão. Homens vistos pelos seus olhos. Um biógrafo que procurava em grandes homens de diversas épocas , a redenção , o caminho que o levasse de encontro à derradeira libertação…
Os encontros com Miguel de Unamuno devem ter sido épicos. Como dois cavaleiros virgens à procura da luz, da verdade e do conhecimento numa época dominada pelas ideologias do cárcere.
A obra de Pascoaes continua actual. O mundo está cheio de pobres tolos pendurados nas pontes de todo o mundo.
Os detentores do poder e as instituições incapazes de decidir e governar assistem ao desenrolar das barbáries do mundo. Espectadores que assistem em silêncio ao sentimento trágico do mundo.
Há que visitar a ponte de São Gonçalo em Amarante à hora em que nem o galo ousa cantar. Na neblina matinal, se perceberá esse destino do homem de todos os tempos.
E na solidão do olhar, vendo as margens do rio , a saudade chegará, dos que já partiram e daqueles que nunca mais chegam…
TM Collection:The Memory and Shape of Portuguese Cultural Identity

Runway looks from the Alma Mater 2014/2015 Fall/Winter Collection and details of this collection showing a multi-coloured embroidery coat inspired by Portuguese traditional motifs and the Bag Lovers Minho. Photos: Courtesy of TM Collection. Popular Song and the Bird from Brazil by Amadeo de Souza-Cardoso. (Museum Amadeo de Souza Cardoso, Amarante).
Colaboração de Jon Bagt com Lígia Carvalho Abreu para o projecto Fashion Law - WFMFR
Artigo sobre a Identidade Cultural Portuguesa e o design de moda da TM Collection.
(in http://www.fashionmeetsrights.com/page/viewp/tm-collection-the-construction-of-a-cultural-identity )
Colaboração de Jon Bagt com Lígia Carvalho Abreu para o projecto Fashion Law - WFMFR
Artigo sobre a Identidade Cultural Portuguesa e o design de moda da TM Collection.
(in http://www.fashionmeetsrights.com/page/viewp/tm-collection-the-construction-of-a-cultural-identity )
O Princípio do Humanismo
Giovanni Pico della Mirandola foi assassinado às ordens de Piero de Médici. Quem visitar Florença, sem máquinas de" selfies" , perceberá quem eram os Médici. Basta à noite deambular pelas praças e observar as esculturas violentas que ornamentam a cidade. Símbolos para atemorizar os adversários. Della Mirandola em oratio de hominis dignitate anuncia o Humanismo e inspira a Renascença. Em tempos de decadência e abuso de poder, o exemplo de Mirandola permanece vivo. Mataram o mensageiro, sobreviveu a mensagem: A dignidade humana deve ser defendida contra todas as formas de injustiça e arbítrio praticadas pelos detentores do poder.
A Ilusão do Homem Civilizado
Théodore Géricault morre em 1824 e Roberto Bompiani nasce três anos antes. Ambos pintaram obras que têm reflexo na sociedade actual. Enquanto meio mundo luta pelo pão , outro meio mundo vomita-o...
- Ver ou não ver ? Eis a questão....
Em Hamlet, Shakespeare colocava no horizonte humano a questão da identidade e a possibilidade da sua realização.
Actualmente, o paradigma da sociedade e das relações sociais não passam pela questão da identidade, mas pelo modelo da visibilidade.
O que existe tem de ter uma expressão visual. O paradoxo resulta de que visibilidade a mais ,tornam-nos invisíveis para os outros.
A nivelação dos comportamentos, o uso acrítico das ferramentas sociais, a banalização da imagem e a corrupção inconsciente dos sentidos despojam as imagens dos seus significados mais profundos.
Tal manifesta-se no constante uso de desculpas para dizer que não se tem tempo. A desculpa nasce do oportunismo e do comodismo. A justificação exige um processo racional e lógico.
As tecnologias visuais evoluem para que os destinatários se tornem agentes activos. A imagem dessacralizou-se do quadro de um pintor, da tela de cinema e do ecrã da televisão...
A arte visual tornou-se um produto de massas. Andy Warhol antecipou a replicação da imagem, reproduziu o seu significante mas sem significado...
A imagem tornou-se o centro da vida moderna. A imagem é um potente símbolo. A escolha criteriosa de imagens é um exercício de inteligência.
Mais que mostrar, impõe-se demonstrar...
O pior cego é sempre aquele que não quer ver ou que não escolhe a melhor imagem...
Entre ver e não ver, é preferível ver, mas de olhos bem abertos!
Actualmente, o paradigma da sociedade e das relações sociais não passam pela questão da identidade, mas pelo modelo da visibilidade.
O que existe tem de ter uma expressão visual. O paradoxo resulta de que visibilidade a mais ,tornam-nos invisíveis para os outros.
A nivelação dos comportamentos, o uso acrítico das ferramentas sociais, a banalização da imagem e a corrupção inconsciente dos sentidos despojam as imagens dos seus significados mais profundos.
Tal manifesta-se no constante uso de desculpas para dizer que não se tem tempo. A desculpa nasce do oportunismo e do comodismo. A justificação exige um processo racional e lógico.
As tecnologias visuais evoluem para que os destinatários se tornem agentes activos. A imagem dessacralizou-se do quadro de um pintor, da tela de cinema e do ecrã da televisão...
A arte visual tornou-se um produto de massas. Andy Warhol antecipou a replicação da imagem, reproduziu o seu significante mas sem significado...
A imagem tornou-se o centro da vida moderna. A imagem é um potente símbolo. A escolha criteriosa de imagens é um exercício de inteligência.
Mais que mostrar, impõe-se demonstrar...
O pior cego é sempre aquele que não quer ver ou que não escolhe a melhor imagem...
Entre ver e não ver, é preferível ver, mas de olhos bem abertos!
Um Universo Lynchado
A hipermodernidade é caracterizada pelo excesso de comunicação, pelo mundo da libertação individual face às ideologias. Somos todos sujeitos e objectos das nossas mundividências.
Lynch desconfia deste mundo perfeito.Assume o outro lado do espelho de Narciso... O bizarro não é uma categoria conceptual, é um modo reflexo, um efeito perverso da crença da omnipotência, omnipresença e omnisciência no homem hipermoderno.
O consciente faz implodir o inconsciente e torna o subconsciente o doce tónico da sua fragmentação, em universos situados fora do sistema racional...
As pulsões vitais de Eros e Thanatos diluem-se em experimentalismo visuais e sonoros que desafiam, provocam o espectador comodamente sentado, crente na hipermodernidade.
Nos filmes de David Lynch, o óbvio não existe.Existe um universo simbólico " lynchando", um violino deliberadamente desafinado para nos fazer ver que nada é, mas que vai sendo...
A dimensão plástica e estética de Lynch é obtida através da catarse da impotência existencial e que o homem ,tecnologicamente avançado, não passa de um primata em busca da civilização perdida...
Eis que o homem - elefante é a mais doce das criaturas subjugada por uma duna extraterrestre de preconceito,eis que a estrada perdida não tem fim, face aos corações selvagens que procuram a redenção na aura de luz de um Eraser...
Para tudo esquecer e voltar a reinventar de novo...
Absurdo?
Absurdo não é a interrogação, é a falta dela ....
Lynch desconfia deste mundo perfeito.Assume o outro lado do espelho de Narciso... O bizarro não é uma categoria conceptual, é um modo reflexo, um efeito perverso da crença da omnipotência, omnipresença e omnisciência no homem hipermoderno.
O consciente faz implodir o inconsciente e torna o subconsciente o doce tónico da sua fragmentação, em universos situados fora do sistema racional...
As pulsões vitais de Eros e Thanatos diluem-se em experimentalismo visuais e sonoros que desafiam, provocam o espectador comodamente sentado, crente na hipermodernidade.
Nos filmes de David Lynch, o óbvio não existe.Existe um universo simbólico " lynchando", um violino deliberadamente desafinado para nos fazer ver que nada é, mas que vai sendo...
A dimensão plástica e estética de Lynch é obtida através da catarse da impotência existencial e que o homem ,tecnologicamente avançado, não passa de um primata em busca da civilização perdida...
Eis que o homem - elefante é a mais doce das criaturas subjugada por uma duna extraterrestre de preconceito,eis que a estrada perdida não tem fim, face aos corações selvagens que procuram a redenção na aura de luz de um Eraser...
Para tudo esquecer e voltar a reinventar de novo...
Absurdo?
Absurdo não é a interrogação, é a falta dela ....
A palavra de Carl Theodor Dreyer
A experiência do homem religioso de Kierkgaard levada a um requinte estético absolutamente divinal. Um western teológico deste fascinante realizador Dinamarquês. Os longos -planos sequência são fabulosos, o trabalho de luz e som lindíssimos e actores sóbrios numa narrativa fluída . Realizado em 1955 , Ordat ( a palavra) é um filme obrigatório para os amantes do cinema, em que o tempo tem as cadências que a modernidade acelerada tem vindo a destruir. Um filme sobre a morte e a vida e como o amor é a única forma de redenção possível na odisseia existencial que atravessamos.
Gioconda e as Redes Sociais
O que une Mona Lisa ( 1510-1515) de Leonardo da Vinci ( 1452 -1519) ao Facebook?...Tudo e nada...Ambos os "ícones" são objecto de discussões sobre a identidade da personagem. Personagens, e não pessoas, povoam o "livro do rosto"...A lógica do livro é ser observado e observar, tal como a Mona observa e é observada...De qualquer ângulo...De qualquer página do livro ...Só que Mona não precisa de” likes” na ilusória validação ou na busca de modelos de representação, afinidades ou estilos de vida ...Com a técnica do sfumato , Leonardo não imita a natureza , torna-a um produto da observação...No "livro do rosto" não somos seres naturais, mas objectos de observações...O sfumato com os seus contornos indefinidos, cores suaves e pastosas anulam as linhas e fazem confluir uma forma na outra e isso deixa uma impressão evasiva ...As mãos da Gioconda remetem para uma pose de meditação, algo que não acontece no "livro do rosto "com a instantaneidade, de página em página como estilhaçando o nosso presente, naquilo que o facebook ironicamente apelida de “home”...pensamos que estamos em casa ...quando apenas somos impelidos pela curiosidade ...foi essa que fez com que o homem inventasse a roda....procuramos a nossa cara na projecção de mil caras...O" livro do rosto" não é um compêndio de almas, mas uma replicação de Giocondas que querendo ser tudo não são nada , que querendo ver tudo não vêem nada…Replicam-se estereótipos culturais difusos que assistem, ao fruir do mundo suicidário…( como a Terra não vai ficar para ninguém, acabemos com ela…)…É no sorriso cínico e ingénuo da Mona Lisa que demonstramos a nossa inviabilidade na Terra…A Mona Lisa abre um universo de possibilidades e escolhemos a página do livro, que julgamos certa …Mas a vida ensina que não é no livro de rosto que está a salvação, mas a salvação está em rasgar todas as páginas do livro, escrever sem sfumatos…
Como o totalitarismo entra nas casas dos bons cidadãos e os anestesia...
George Orwell e Aldous Huxley nos seus livros descreveram sociedades concentracionárias.
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Em Orwell, havia um big brohter.
Em Huxley , todos controlavam todos pelo nivelamento de comportamentos, substituindo o princípio da realidade pelo do prazer, criando uma sociedade estupidamente e artificialmente feliz, alienada , leviana e fútil.
Em Huxley, o prazer era uma arma de domínio . Em Orwell, a dor e a subversão da linguagem um instrumento de controle.
Os sistemas comunistas e fascistas ruíram porque foram demasiado orwellianos. Os sistemas capitalistas dominam o mundo porque o controle é feito por indução de camadas de bem –estar, sendo a tecnologia o catalisador de comportamentos, atitudes e padrões de vida;
Enquanto os cidadãos estão distraídos, o sistema capitalista e consumista retira-lhes energias vitais. Olhando para o umbigo, os cidadãos desintegram-se no foro pessoal, social e relacional. O sistema gere os recursos e quando o exponencial crescimento da população mundial levar a que sementes e água sejam totalmente privatizadas, os cidadãos sentirão fome e sede. Serão obrigados a levantar-se das suas adições tecnológicas e lutar pela sobrevivência .A história repetir-se -á…
Enquanto o prazer induzido for superior à dor infligida, toda a transformação da história não passará pelo povo , nem por qualquer mecanismo democrático…
A decadência é um lugar de exílio a que todos tentam fugir , pela busca do prazer e bem-estar permanente , renegando a identidade, a natureza irracional do homem e promovendo o arrepiante medo de existir… As massas vivem nas suas Coreias e ninguém as avisa.
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Em Orwell, havia um big brohter.
Em Huxley , todos controlavam todos pelo nivelamento de comportamentos, substituindo o princípio da realidade pelo do prazer, criando uma sociedade estupidamente e artificialmente feliz, alienada , leviana e fútil.
Em Huxley, o prazer era uma arma de domínio . Em Orwell, a dor e a subversão da linguagem um instrumento de controle.
Os sistemas comunistas e fascistas ruíram porque foram demasiado orwellianos. Os sistemas capitalistas dominam o mundo porque o controle é feito por indução de camadas de bem –estar, sendo a tecnologia o catalisador de comportamentos, atitudes e padrões de vida;
Enquanto os cidadãos estão distraídos, o sistema capitalista e consumista retira-lhes energias vitais. Olhando para o umbigo, os cidadãos desintegram-se no foro pessoal, social e relacional. O sistema gere os recursos e quando o exponencial crescimento da população mundial levar a que sementes e água sejam totalmente privatizadas, os cidadãos sentirão fome e sede. Serão obrigados a levantar-se das suas adições tecnológicas e lutar pela sobrevivência .A história repetir-se -á…
Enquanto o prazer induzido for superior à dor infligida, toda a transformação da história não passará pelo povo , nem por qualquer mecanismo democrático…
A decadência é um lugar de exílio a que todos tentam fugir , pela busca do prazer e bem-estar permanente , renegando a identidade, a natureza irracional do homem e promovendo o arrepiante medo de existir… As massas vivem nas suas Coreias e ninguém as avisa.
Notas analógicas em ambiente digital
É o processo que torna os momentos mais sublimes. O ritual, a forma, o toque e o indizível do momento. Focados só no resultado , o homem entra em regressão. Desloca-se para um tempo e para um espaço que ainda não existe, que quando se revelar, será presente . Após um passo vem outro. Esta ânsia de resultado de uma geração iogurte ( se passa o prazo não presta) torna as pessoas intolerantes e impacientes. Todas opinam, todas querem ter razão, todas querem tudo para ontem…Inundados entre a tragédia da notícia e o mundo épico da imagem , da publicidade , o homem torna-se igual na sua auto-referencial diferença. Eis o drama da globalização. Neste adormecimento da razão crítica, todos se banham no mesmo rio . Julgam dominá-lo, mas é ele que os conduz…
Notas analógicas em ambiente digital-II
"O Século XXI será religioso ou pura e simplesmente não será."(André Malraux)
A disjunção da expressão permite que, a previsão de Malraux seja sempre lógica. O que não é lógico é o extremismo de posições em defesa ou contra a religião. Uma única visão do mundo e de organização social só levam à intolerância, à barbárie e à destruição inata do homem, que tem necessidade de uma dimensão transcendente.
Mais que religioso, o Século XXI será espiritual. Os ciclos repetem-se na história com pequenas variações. A seguir a um ciclo materialista e tecnológico virá o ciclo da espiritualidade e vice-versa. Se assim não for, como profetizava Malraux, estaremos a entrar no horizonte da insanidade e da via suicidária colectiva.
A religião deixou de ter um arco de magia e uma seta mitológica. O homem, na sua perene e frágil dimensão , procura o alento quotidiano da alma. Vejam-se as constantes frases, esquemas, imagens, desenhos, que os cibernautas colocam no espaço virtual como lidar com a vida. Como se a vida tivesse um ensaio geral ou uma bússola , que indicasse o caminho , mas não a geologia do mesmo.
Somos passageiros de um espaço, que não é nosso , de um tempo que não dominamos. Qualquer tentativa de interpretação, não dissolve o mistério que abarca qualquer explicação do sentido da vida.
O Homem-Rato ou Ecce Homo 3.0
O universo não é o um lugar de inteligibilidade. Um homem não é um ser mais civilizado que no passado. Tecnologicamente mais avançado, mas mentalmente continua primitivo. No entanto, uma mancha invisível avança sobre o inconsciente colectivo .
Os grande impérios da história forjaram o seu domínio com base em ferro e fogo. Os escravos conheciam a sua condição. Mão –de-obra gratuita que erguia e mantinha os impérios.
Hoje, o escravo não conhece a sua condição. E se a conhece, não se liberta dela por medo ou conveniência. Não aguenta a censura social. Não suporta ouvir verdades incómodas, mas adora mentiras sociais e confortáveis. Faz lembrar o prisioneiro a quem o carcereiro deixa a chave na porta...
Assistimos à total banalização das relações humanas significantes. Ninguém cria laços, uma vez que a necessidade é substituída pela hiperligação da conexão permanente. A bulimia das sensações alimenta a insaciabilidade dos instintos e a simulação da ligação afectiva. É o tempo e o espaço físico que construem relações humanas densificantes e duradouras.
A máquina mediática ensaia nos novos escravos a perpetuação da sociedade do prazer. Não importam as pessoas. Importa o rodopio das sensações e das proezas do ego.
Em situações de pressão e de crise, aumenta o comportamento aditivo e de indiferença. A banalidade da imagem trágica incomoda, mas não muda o comportamento humano. É lá longe e virtualmente o homem pode ser senhor e não escravo.
As corporações secretas e financeiras ,desde os anos trinta do século XX ,aperceberam-se do elixir do poder eterno: Dar a ilusão de liberdade aos cidadãos e oferecendo bens de consumo à la carte. De vez em quando produzem uma crise, para testar se o homem continua a colocar no centro da sua felicidade o dinheiro , bens materiais ou tecnológicos. Quase como um estudo de mercado. E se mesmo assim não são convencidos , eis que surge o marketing 3.0, a dar ilusão que o produto trará status, abundância e amigos…
Mas domados no consumo e na comparação com o vizinho como é que o homem pode ter outros critérios de felicidade terrena? ...Se historicamente as igrejas e as religiões cobravam o seu tributo…
Eis a fraqueza humana a alimentar a roda do mundo, eis o homem -rato no seu apogeu, eis o Ecce Homo 3.0 num império invisível que parece não ter fim…
Os grande impérios da história forjaram o seu domínio com base em ferro e fogo. Os escravos conheciam a sua condição. Mão –de-obra gratuita que erguia e mantinha os impérios.
Hoje, o escravo não conhece a sua condição. E se a conhece, não se liberta dela por medo ou conveniência. Não aguenta a censura social. Não suporta ouvir verdades incómodas, mas adora mentiras sociais e confortáveis. Faz lembrar o prisioneiro a quem o carcereiro deixa a chave na porta...
Assistimos à total banalização das relações humanas significantes. Ninguém cria laços, uma vez que a necessidade é substituída pela hiperligação da conexão permanente. A bulimia das sensações alimenta a insaciabilidade dos instintos e a simulação da ligação afectiva. É o tempo e o espaço físico que construem relações humanas densificantes e duradouras.
A máquina mediática ensaia nos novos escravos a perpetuação da sociedade do prazer. Não importam as pessoas. Importa o rodopio das sensações e das proezas do ego.
Em situações de pressão e de crise, aumenta o comportamento aditivo e de indiferença. A banalidade da imagem trágica incomoda, mas não muda o comportamento humano. É lá longe e virtualmente o homem pode ser senhor e não escravo.
As corporações secretas e financeiras ,desde os anos trinta do século XX ,aperceberam-se do elixir do poder eterno: Dar a ilusão de liberdade aos cidadãos e oferecendo bens de consumo à la carte. De vez em quando produzem uma crise, para testar se o homem continua a colocar no centro da sua felicidade o dinheiro , bens materiais ou tecnológicos. Quase como um estudo de mercado. E se mesmo assim não são convencidos , eis que surge o marketing 3.0, a dar ilusão que o produto trará status, abundância e amigos…
Mas domados no consumo e na comparação com o vizinho como é que o homem pode ter outros critérios de felicidade terrena? ...Se historicamente as igrejas e as religiões cobravam o seu tributo…
Eis a fraqueza humana a alimentar a roda do mundo, eis o homem -rato no seu apogeu, eis o Ecce Homo 3.0 num império invisível que parece não ter fim…
Filmes míticos: Andrei Rubilov
Realizado por Andrei Tarkovsky em 1966, Andrei Rubilov é um filme de um rigor técnico e beleza estética impressionante!
Na era digital e efémera que atravessamos . o filme deve ser visto com paciência e abertura de espírito...
O filme é formado por oito episódios imaginários na vida do grande pintor do século XV, Andrei Rubilov na sua viagem pela Rússia Feudal. Rubilov deixa a paz e a reclusão de um mosteiro e devido à crueldade que testemunha - violação, pilhagem e fome- abandona gradualmente a fala , a sua arte e a fé religiosa. Finalmente, inspirado por um jovem camponês que assume a responsabilidade de fazer um enorme sino, aprende que a criatividade ainda é possível , mesmo nas piores condições e recupera a fé no mundo.
Filme produzido pela Mosfilm com Tamara Ogorodnikova à cabeça, a fotografia de Vadim Yusov, o argumento do próprio Tarkovsky com a colaboração de Andrei Konchalovsky. Destaco a interpretação de Anatoly Solonistyn na figura de Rubilov.
Link : http://www.youtube.com/watch?v=V8K5P_RZ7po&feature=related
Na era digital e efémera que atravessamos . o filme deve ser visto com paciência e abertura de espírito...
O filme é formado por oito episódios imaginários na vida do grande pintor do século XV, Andrei Rubilov na sua viagem pela Rússia Feudal. Rubilov deixa a paz e a reclusão de um mosteiro e devido à crueldade que testemunha - violação, pilhagem e fome- abandona gradualmente a fala , a sua arte e a fé religiosa. Finalmente, inspirado por um jovem camponês que assume a responsabilidade de fazer um enorme sino, aprende que a criatividade ainda é possível , mesmo nas piores condições e recupera a fé no mundo.
Filme produzido pela Mosfilm com Tamara Ogorodnikova à cabeça, a fotografia de Vadim Yusov, o argumento do próprio Tarkovsky com a colaboração de Andrei Konchalovsky. Destaco a interpretação de Anatoly Solonistyn na figura de Rubilov.
Link : http://www.youtube.com/watch?v=V8K5P_RZ7po&feature=related
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