Não interessa que fórmulas se usam para tornar a queda mais apetecível, desde que se o faça em nome da glória que é a mais bela metáfora da decadência.
A queda remete,simbolicamente, para a morte. Ao homem interessa-lhe a vida, as suas insanáveis contradições, recorrentes dilemas ou inatos defeitos insuficientes para balancear a ética das virtudes ou a beleza do universo estrelado que Kant e Shakespeare elevaram ao panteão das artes.
Osíris iluminou o homem no antigo Egipto. Osório acende as velas e deixa que o leitor alumie as entranhas da realidade que como sabemos é o pior dos vícios. Osório manipula os materiais da escrita com a mestria dos eleitos, mas o primeiro romance é como o primeiro amor: Não se esquece até se escolher o próximo .
Os corpos não têm tempo, todavia, ocupam espaço nos teatros anatómicos. Os vampiros não conseguem chupar o sangue todo. Os alguidares da criação são incompatíveis com a busca do pó dos astros.No antigo Egipto pesava-se a alma que se julgava presa ao coração. No moderno Portugal , a alma é um curto –circuito cerebral alojada em redes disfuncionais.
Quando se corta a massa cinzenta em tiras nas Faculdades de Medicina é verosímil que não se encontrem todas as respostas. Osíris perscrutava a dupla face do espelho. Osório, para além de acender as velas, oferece ao leitor um espelho. Não se assuste o leitor com o que vê, a massa de que é feito é igual à do vizinho que se cruza consigo na estação de comboios ou se senta ao seu lado no vagão fantasma.
Na literatura cabem múltiplos mundos. Na vida cabe o que cada um escolhe. A falha é inevitável por muito que se nade na justificação, sublimação ou expiação.A queda que Osório nos indica é a de um homem e não a do homem. Aqui reside toda a diferença ou habita a derradeira esperança na redenção da humanidade.