No dia quinze de Julho de dois mil e dezoito pelas dezasseis horas na flâneur , reuniram-se alguns leitores anónimos em volta de uma mesa e rodeados por estantes. A livraria foi o Porto de abrigo ideal para uma tarde de partilha.
O porteiro abriu o ensaio sobre a cegueira de José Saramago numa página em branco. Os magníficos leitores rapidamente dissertaram sobre a condição e natureza humana inscrita na alegoria saramaguiana.
Saramago começa alguns dos seus livros apelando ao exercício de uma premissa “…E se…”. Neste caso, e se a cegueira atinge-se, gradualmente, toda uma comunidade?Uma cegueira leitosa. E se toda a organização social, institucional e política ruí-se? Seria o homem capaz de se manter civilizado? …A maioria dos leitores presentes, tal como o autor, não foi optimista na sua análise…
Na trama narrativa, a mulher do médico vê as outras personagens a desenrolar os seus vícios, fraquezas e escassas virtudes fruto da necessidade e do instinto. O contabilista também veria, mas apenas números… Uma abordagem muito interessante feita pelos leitores mais atentos. Todos vendo facetas escondidas pelo autor, formalmente consistente nas suas vírgulas…
A violência cresce numa espiral sem qualquer tipo de castigo até todos voltarem a ver numa espécie de redenção. No entanto, a comunidade já não era a mesma. Mesmo a mulher do médico olha o céu, mas já não vê a mesma coisa…
A actualidade da obra mantêm-se. Num tempo de migrações, alterações climáticas e mudanças geopolíticas, o homem conseguirá resistir ao devir do tempo? Os leitores concluíram que biologia e cultura se observam e influenciam mutuamente dependendo da circunstância de qual delas prevalecerá num dado momento histórico. Ordem e desordem são substâncias civilizacionais voláteis.
À hora do chá, o encontro terminou, renovando-se a vontade de nova tertúlia para dia trinta de Setembro de dois mil e dezoito. A obra de Philip Roth, a mancha humana, foi a escolhida.
Neste livro de Roth, o prefácio lembra o primeiro livro debatido, Rei Édipo de Sófocles. Prova que a biblioteca de Borges está viva e que, afinal, existe apenas um livro universal, que só não lê quem não quer ver …
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