A ESTANTE DO PORTEIRO
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CONVERSA COM MARIA JOÃO CANTINHO

1/30/2018

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Fotografia de Maria João Cantinho
​Maria João Cantinho (MJC) é professora, editora e escritora. A conversa que se segue resultou de um afável contributo que a autora deu à Estante do Porteiro (EP).
 
EP: O pensador de Auguste Rodin está curvado com uma das mãos sobre o queixo. Que anjos e demónios o inquietam?
MJC: A figura de Rodin é a do melancólico por excelência, ensimesmado. Rodin esculpiu-o, representando Dante. É difícil adivinhar-lhe os pensamentos, mas, pela pose e pela tensão que lhe é imprimida por Rodin, poderemos talvez dizer que a sua mente está no mistério da existência ou concentrado na visão das «Portas do Inferno», tão perto do seu lugar, mergulhado no abismo da miséria humana, da sua finitude. Nele, a filosofia é uma demora de pedra.

EP: Pensamos muito e conhecemos pouco? 
MJC: Eu diria que pensamos pouco e conhecemos ainda menos. Estou muito próxima do que Montaigne dizia acerca dos limites do conhecimento humano. E o mundo está cada vez mais reduzido no seu pensamento, com a dilatação da técnica e das tecnologias. É um paradoxo e não é de hoje. Raros são os que renunciam para poder pensar livremente, mas, ainda assim, nada lhes é prometido. Só a liberdade e a solidão.

 EP: Como lidaria a famosa escultura com um telemóvel inteligente nas mãos, caso fosse insuflada de vida? 
MJC: Não o compreenderia, de todo. Não sabia que utilidade teria, achá-lo-ia demasiado barulhento e intrometido na sua vida pacata de pensador. São coisas incompatíveis, a velocidade que hoje nos é exigida, à mercê dos telemóveis inteligentes, e a do pensador, mergulhado no seu mundo interior, silencioso e solipsista.

EP: Poderia esse pensador, animado pela tecnologia, habitar um quarto descrito por Franz Kafka? Em que tédio, desespero ou ilusão viveria este novo pensador? 
MJC: Gosto de imaginar a hipótese. Mas o quarto de Kafka é o nosso quarto, somos nós esse Gregor Samsa, inventado por Kafka. Os incapazes de comunicar, de olhar, de sair para fora do quarto. E há nisso um desespero que tem algo em comum com o do pensador, uma melancolia comum, mas o pensador é, ainda livre, pode sair de si e olhar. O homem de Kafka é a criatura, esse estado miserável a que chegámos, prisioneiros de tudo quanto nos rodeia. O primeiro vive a ilusão do conhecimento, o segundo o desespero da solidão.

EP: O bem e o mal fazem parte do homem. São fruto de uma falha de pensamento, de uma falta de conhecimento interior, de um circuito neuronal ou de uma ira distraída de Deus?
MJC: Gosto de pensar como Platão, que dizia que, ainda que o bem seja uma ideia inata (faz parte do homem), o mal é dele privação, uma forma de ignorância, uma espécie de cegueira, se assim quisermos. Por isso, é o mal que constitui essa falha de pensamento. Claro que isso tem que ver com a natureza incompleta do homem e com o seu caminho (ou não) para o conhecimento interior. Há uns que se situam (raros) acima de outros.

EP: As personagens de Kafka e Dostoievsky vivem torturadas entre a tradição e a modernidade? E as personagens de carne e osso, que se cruzam nas alamedas anónimas das cidades, em que tortura se deleitam? 
MJC: Mais dilaceradas, creio eu, com o desalento e a solidão das grandes cidades. Não há hoje qualquer relação com aquilo que foi o tempo de Kafka e de Dostoievsky ainda menos, creio eu. Unia-os a culpa e a expiação como modo de tortura interior, as suas personagens são roídas por essa culpa que nada redime. Hoje já nem há culpa nas personagens de carne e osso. Só o vazio e o exílio disso que foi a tradição. Mergulhadas no ritmo frenético e sem tréguas da cidade, automatizadas pelo capitalismo selvagem e tornadas indiferentes, diante de tanta informação e tanta banalização das imagens. Nunca houve, como hoje, tanta informação e tão pouca capacidade de julgar por si próprio. É monstruoso.

EP: A criação artística é um inferno com sentido? Arrancar raios de luz dos círculos da escuridão?
MJC: Tem sempre sentido, pois é o único modo de tentarmos escapar ao inferno. Senão como iríamos resistir-lhe? Não poderíamos nunca prescindir dessa procura da beleza ou deixaríamos de ser o que somos: humanos. Embora pobres, mas humanos e esfomeados.

EP: Que narradores criamos para nos afastar do espectro da morte? São as narrativas de poder, glória e amor-ódio que fazem da História Universal uma angustiante repetição? Como lidou Walter Benjamin com estas temáticas tão humanas?
MJC: Como lidou ele com as narrativas da história como poder, queres tu dizer…opondo-lhe uma visão descontínua da história e ao arrepio das narrativas fatídicas e que transformaram o século XX num inferno. Pondo-se sempre do lado dos «vencidos», das vítimas destas construções falsificadas da história. O caminho, dizia ele, era o da revolução, o único gesto capaz de travar o comboio da história que nos levava à catástrofe. Travar esse comboio significava também salvar a tradição e reactualizá-la, em lugar de caminhar em direcção ao futuro triunfante do progresso.

EP: Uma sinfonia de Mahler, um quadro de Klee e um filme de Visconti podem ser bons argumentos para negociar a eternidade com São Pedro? Ou basta ir a uma boa loja de ferragens?...
MJC: Não sei como se negoceia a eternidade com São Pedro. Mas imagino que poucas coisas possam ser usadas para tal. Se não for a arte e a literatura, o que poderá salvar a carne? Eu iria mesmo por aí: a 5º de Mahler, o “Anjo da História” e “Morte em Veneza”, de Visconti. Não podemos descer por aí abaixo ou então não acreditamos em nada.

EP:. É verosímil acreditar em tudo que pensamos? Ou acreditar com os olhos, ver as coisas belas deste mundo é o único consolo que nos resta?
MJC: Acreditar com os olhos é a condição primeira, neste universo em que a visão é o mais redentor dos sentidos. Mesmo se a beleza for terrível, se matar. O gesto salva-nos. Depois é a escuta do rumor secreto da língua e do mundo, que nos leva ao êxtase. São poucas coisas em que devemos acreditar. A beleza é uma delas, o bem é outra. E gosto de pensar como os gregos antigos o faziam, em que beleza e bem não eram um sem o outro, nesse altíssimo conceito de kaloskagathos.

EP: Muito Obrigado, Maria João.
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UM ELÉCTRICO CHAMADO DESEJO

1/18/2018

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Um Eléctrico Chamado Desejo é a adaptação cinematográfica da peça homónima de Tennessee Williams feita pelo realizador Elia Kazan. Um  confronto entre a brutalidade e a fantasia de duas  personagens frágeis e em ruptura. Marlon Brando interpreta um Stanley Kowalski enraivecido enquanto Vivien Leigh dá corpo e voz a uma Blanche alienada . Mais que tensão nota-se um ( des) encontro , um crescente de violência que culmina com a cegueira electrizante de quem não sabe lidar com os seus sentimentos e as suas emoções . Brando forja uma realidade feita de rudeza e crueldade , Leigh "queima-se" com esse mundo" masculino" de " banhos quentes " ...O desejo mascara-se de morte e marca o drama , sempre actual, de quem não sabe cuidar nem amar, uma vez que é incapaz de ver o outro ....
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LUCKY

1/15/2018

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Lucky de John Carroll Lynch é um filme de um homem só : Harry Dean Stanton! Uma emocionante despedida deste fabuloso actor que conhecemos do emblemático Paris, Texas. No fim , a morte é que vence , o realismo é que comanda e coloca todos ao mesmo nível ! Basta sorrir e caminhar para além das estrelas , para além  das areias escaldantes do interminável deserto que a maioria nem sequer sabe que existe ...
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BOCCACCIO 70

1/15/2018

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   Boccagio 70 é um fresco da  boa comédia. Dividido em quatro actos dirigidos por Mário Monicelli, Federico Fellini, Luchino Visconti e Vittorio de Sica , com a participação de  ​Romy Schneider, Anita Ekberg e Sophia Loren , o filme é uma hilariante guerra dos sexos povoado de elementos psicanalíticos , circenses, realistas e estéticos. Cada realizador dá o seu cunho pessoal, mas é o quadro " As Tentações do Dr António" de Mestre Fellini que se destaca, nomeadamente a velha questão sexo versus religião. O Diácono Remédios, que todos conhecem, é muito menos denso que este Dr António...


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GATA EM TELHADO DE ZINCO QUENTE

1/15/2018

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 O título é uma bela metáfora para a temática do filme: Os conflitos no seio de uma família do sul dos Estados Unidos. O poder, o dinheiro ,a sexualidade, os afectos ou a falta deles, os ódios, as conspirações , a hipocrisia e a falsidade, sempre a falsidade ( que é a coisa que mais fede em todas as épocas) são abordadas numa trama muita bem montada por Richard Brooks e James Poe a partir da peça homónima de Tennessee Williams. O elenco é de luxo , mas destaco a interpretação de Burl Ives . Elizabeth Taylor e Paul Newman estão magníficos,mas é Burl Ives e a personagem " Big Daddy" que "dinamitam" o filme e fazem-no andar... A inspiração teatral e o cenário doméstico ( quase toda a acção se passa na mansão dos Pollitt) enquadram a potência verbal dos diálogos das personagens, todas elas com comportamentos extremados e que muito retratam , ainda, os dias que vivemos com cada vez mais gatas " amestradas" e muito telhado de zinco morno...
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Gata em Telhado de Zinco Quente

1/15/2018

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CONVERSA COM FREDERICO LOURENÇO

1/11/2018

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Fotografia de Ricardo Almeida
Frederico Lourenço (FL) é professor, tradutor, ensaísta e escritor. A conversa que se segue resultou de um generoso contributo que deu à Estante do Porteiro (EP).


EP: Trabalhar com as palavras é como esculpir ou é como recolher flores frágeis num jardim?
FL: Eu vejo mais como esculpir. Por vezes é quase partir pedra. A palavra é uma espécie de material duro, que nem sempre se deixa trabalhar.

EP: Acontecimentos bíblicos servem de fonte ao filme “A Palavra” de Carl Theodor Dreyer. Quais as palavras mais belas e transformadoras que encontra na Bíblia?
FL: “O sábado foi feito para o homem; e não o homem para o sábado”. Cada vez acho essa frase de Jesus (que só Marcos transmite) incrivelmente revolucionária. A religião não pode servir para aprisionar as pessoas.

EP: A tragédia dos homens é não compreender essas palavras transformadoras? Não colocar em prática todos os ensinamentos de Jesus?
FL: Continuo convencido disso: a mensagem de Jesus é onde está a chave para os problemas humanos.

EP: Os episódios da Torre de Babel e do Pentecostes são reveladores da importância da tradução? Qual o espírito que o inspira para brindar o leitor com tão belas revelações presentes na sua obra?
FL: A tradução é sempre imperfeita, isso é algo que o tradutor tem de aceitar à partida. Aquilo que mais me inspira é a vontade de dar a conhecer o texto da Bíblia com rigor académico. Tento estar à altura da tarefa dedicando-lhe todo o meu trabalho, mas também sei que o resultado nunca poderá ser perfeito. Esforço-me, no entanto, por fazer o meu melhor.

EP A poesia, a matemática e a música são os divertimentos de Deus ou são as fugas dos homens?
FL: Para muitas pessoas, são a prova de que Deus existe. No meu caso, a prova decisiva da existência de Deus é a música dos grandes compositores (Bach. Mozart, Beethoven). Não há fumo sem fogo.

EP: Qual a importância da música de Johann Sebastian Bach no seu método de trabalho?
FL: Bach acompanha-me todos os dias, sobretudo a sua obra para cravo. Vou ouvindo a Arte da Fuga, as Variações Goldberg, o Cravo Bem Temperado, as Partitas. Normalmente por Gustav Leonhardt, cuja maneira de tocar cravo tem algo de místico.

EP: A poesia e a tradução buscam a palavra certa ou a palavra perdida?
FL: No caso da tradução, partimos da palavra certa, que é a original, e depois andamos à procura da palavra perdida algures na nossa própria língua que a transmita.

EP: Existem mais significados que significantes?
FL: Os significados constituem todo um universo fascinante. 

EP: O silêncio abarca todos os sentidos? E a palavra?
FL: A palavra fica sempre aquém da música, que chega mais longe, mas é preferível ao silêncio, embora eu precise do silêncio para nele encontrar as palavras de que preciso.

EP: Deus é silêncio?
FL: É o silêncio que O ouvimos melhor, talvez. Mas Deus está em tudo, sempre. Nada Lhe é alheio. Mas a maneira que Ele tem de se fazer sentir no mundo humano é o amor com que as pessoas se amam.
​

EP: Muito Obrigado, Professor.
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O Gigante

1/7/2018

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 O Gigante é um filme de George Stevens com a participação , entre outros, de James Dean e Elizabeth Taylor. A fotografia, a composição e a interpretação de James Dean destacam-se . O filme é uma saga familiar e um quadro realista dos valores e preconceitos americanos  tradicionais. Um confronto entre o self made man  bafejado  pela descoberta de petróleo( Jeff Rink interpretado por James Dean) e um rico proprietário rural  (Bick Benedict  interpretado por Rock Hudson).  Dois mundos opostos , dois estilo de vida diferentes em que o poder  e o dinheiro não preenchem todas a necessidades, desejos e anseios. O que se ganha de um lado, perde-se noutro. Um filme intemporal e a derradeira aparição de um prodígio chamado James Dean, muito mais que a apropriação e comercialização de um símbolo, um actor que , certamente, não fosse a sua prematura morte nos brindaria com mais interpretações brilhantes de personagens torturadas , em permanente conflito interno e externo . 
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O NOVO COLONIZADOR, MR SMART   PHONE

1/6/2018

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Nota prévia: Nada contra Mr Smart. Convém é passar o tempo necessário com ele. Não são as coisas em si que são perigosas é o uso que se faz delas. Veja-se o caso do fogo , dá para aquecer e iluminar mas também para destruir.
Vejamos:
Em média, cada pessoa consulta o "smartphone " oitenta vezes por dia( excluem-se chamadas de voz e sms, em princípio) . Ou seja, desses oitenta acessos, presumimos, que dez sejam mesmo essenciais em contexto de trabalho e lazer( ou até mais em casos de comprovada importância , ex, se um médico precisa de ir oitenta vezes ao "smartphone" para salvar uma vida que vá cento e sessenta ...). As setenta restantes são impulsos motivados pela curiosidade e compulsão. Os mais novos que nasceram neste berço digital são mais permeáveis à adição.
A vida privada mistura-se com a pública e o que não é publicitado não existe para as mentes "pavlovianas" que " engolem" tudo o que lhes é apresentado em troca de polegares oponíveis e erectos.A anestesia geral provoca comportamentos minimalistas ,"seguidistas" e acríticos.
Os usuários vivem vidas que não têm na "vida real " transportando para o ecrã a "second life"( interessante como o jogo surgiu antes da "epidemia smartphoniana"...um balão de ensaio...) ou a que vivem necessita de ser validada em praça virtual pública:Declarações inflamadas de amor, elogios desmesurados, sucessos de celofane , sentimentalismos exacerbados ou fotos de tudo e de nada, conquistas do dia-a dia tipo que comem, dormem, viajam , rezam, fodem , coisas normais que nada de extraordinário possuem ...e por ai fora...(Comportamento transversal a todas as classes sociais , tanto as menos cultas como as mais instruídas). Tudo perfeito como a vida fosse só mel e rosas , a perfeita pílula da felicidade que Huxley , sempre sob o efeito de outras substâncias, descreveu nas suas obras.
A vaidade é o mais astuto dos" peixes" , dizia o Padre António Vieira.O banal é um poderoso estímulo ao consumo bem como a imitação e a comparação criando espaço para aguçar instintos e fazer decair os afectos que apenas enchem bocas. O mercado agradece( basta ver que não se escrevem cartas, nem e-mails pessoais , apenas empresas a vender produtos, a vida social reduzida uma vez ao ano pelo lembrete do aniversário insuflado por um léxico cada vez mais minimalista e a "montra de amigos" mantidos em " formol digital" ).
Em 60 anos, a sociedade da culpa deu lugar à sociedade do prazer. As figuras públicas e celebridades são os modelos que as massas anónimas querem seguir, a maior parte iludidas pelo" efeito halo" que a psicologia há muito dissecou. As figuras públicas agradecem e inundadas em solicitações ou alimentam o ego ou seu negócio levando "em cima com tudo".Os seus espaços públicos , por vezes, são" etares" de lixo emocional, que pacientemente administram como quem faz "body ou soul board". Ou seja: querem o melhor de dois mundos, a validação no espaço público e a discrição da vida privada.Duas realidades incompatíveis ou muito difíceis de gerir.
Quem, realmente, gere são os detentores das empresas tecnológicas de Silicon Valley que atolados em dinheiro tornaram o vício o escape mais apetecível segundo relatos de imprensa norte -americana credível. Mas os parentes de Mr Smart também caem no engodo: Incapazes de manter ou alcançar a vida perfeita que outros publicam refugiam-se cada vez mais na droga, álcool e sexo sem arte nem erotismo remetido para esses conceito modernaço de poliamor. São os universos simbólicos da morte a cavalgar!
Figuras públicas e anónimas engolidas por esta voragem, por esta imparável onda não têm tempo e dispersam-se no fluxo de informação, na cadeia de solicitações e na campainha das notificações . Falham compromissos, falham na palavra dada, falham nas relações , mas não falham na hora certa de ligar ao Mr Smart e se não têm rede entram em pânico...Mas como diz Agustina Bessa -Luís, a morte é o mais poderoso agente moral...E ela chegará a todos...
O espelho nunca mente. O outro tornou-se útil na medida do prazer que proporciona e sobretudo em estar sempre de acordo com usuário , o tal parente próximo de Mr. Smart Phone
Não são só os problemas na cervical e os calos nos dedos que importunam os usuários . São problemas civilizacionais de relacionamento e de disfuncionalidade cognitiva e perceptiva que estão a tornar a sociedade doente.
O vazio domina, todos são estranhos em relação aos demais fruto da ilusão da proximidade que a tecnologia promove e essa é a tragédia contemporânea: Uns estão sós à lareira com o Mr Smart e os que não ligam ao Mr Smart sós estão uma vez que não compactuam com sociedades vigilantes, orwelianas e distópicas que colocaram a natureza,a liberdade e a sua verdadeira essência ao serviço de outros numa "preguicite global" que invade cada lar como o monóxido de carbono emanado de uma braseira de uma velha gótica...
Há que arejar ...E ninguém tem de saber disso...
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CONVERSA COM LUÍS BIZARRO BORGES

1/2/2018

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Luís Bizarro Borges (LBB) é gestor de conteúdos digitais, autor, jornalista e um dos pioneiros em Portugal na área da divulgação de microfilmes (thebestmicrofilms.com). A conversa que se segue resultou de um afável contributo que deu à Estante do Porteiro (EP).
 
EP: A novidade é uma mania dos tempos modernos? Um jornal precisa mesmo de se antecipar ao acontecimento?
LBB: Não diria que a novidade é uma mania dos tempos, mas sim uma necessidade. Estou-me a referir às diversas áreas do conhecimento. Mas penso que a pergunta tem outro alcance, aludindo aos média. Nesse sentido, um órgão de informação tem uma dupla função: por um lado, deve antecipar o acontecimento quando se trata de informação prognosticada relacionada com a proteção civil ou áreas similares e matérias que consubstanciem crimes ou ações ilícitas; mas, por outro lado, na maioria das matérias deve manter-se equidistante entre a informação recebida (algumas de fontes duvidosas) e o acontecimento factual futuro.

EP: Os factos estão a ser produzidos, manipulados ou maquilhados? O regresso às fontes é fundamental ou basta uma secretária e o acesso aos motores de busca?
LBB: Há um significativo volume de informação que é produzida ou manipulada em função dos interesses dos respetivos grupos de pressão. Mas estaria a ser injusto se não ressalvasse que a maioria dos jornalistas profissionais preserva ou luta pela liberdade de interpretar os factos. O regresso às fontes é tão importante como aceder aos motores de busca, porque um pode e deve ser o complemento do outro.

EP: Não fazem já os motores de busca uma clivagem dos factos e filtram as pesquisas de acordo com as preferências de pesquisa do utilizador? É caso para dizer “com a verdade me enganas”?..
LBB: Isso é verdade em relação à área comercial. Se, por exemplo, pesquisarmos a palavra “perfume”, os motores de busca vão-nos colocar à frente do nariz as marcas que pagaram para estar na primeira página desse programa de pesquisa. Mas se pesquisarmos, por hipótese, sobre Albert Einstein temos acesso a um enorme caudal de informação, muita dela de grande qualidade, que se não fosse a internet precisaríamos de estar mergulhados nas bibliotecas durante alguns anos.

EP: Os processos criativos estão submetidos a que lógica?
LBB: A maior parte obedece à lógica do mercado. Produto que não se venda está condenado, mesmo que seja criativo e interessante. Todavia, há uma minoria à margem da lógica do mercado que consegue sobreviver, muitas das vezes devido a circunstâncias aleatórias, como, por exemplo, um produtor discográfico decidiu ouvir uma gravação, entre centenas, de um candidato a músico, gostou do tema e passou a apostar nesse artista.

EP: Como qualificas o actual mercado de produção de conteúdos?
LBB: O mercado português é pequeno e fechado. Uma coisa está relacionada com a outra. Neste sentido, a qualidade acompanha o contexto.

EP: Os argumentos para filmes, séries e televisão são de qualidade? Ou continuamos a produzir séries “em pacote”?
LBB: Há várias realidades. Infelizmente, os mais comuns e difundidos são os “enlatados” norte-americanos. Todos conhecem a fórmula: os maus são muito maus e os bons muito bons; os maus dominam quase todo o filme ou série e quando estão prestes a destruir os bons, estes renascem das cinzas, como o Fénix, e eliminam os maus. Desde miúdo que vejo esta receita. Para mim é enjoativo.

EP: Os microfilmes são uma boa aposta numa sociedade imediatista. Será o conteúdo do futuro face à economia da imagem digital contemporânea?
LBB: Os microfilmes (entenda-se, curtas-metragens com menos de cinco minutos), mais do que uma resposta à sociedade veloz são uma nova categoria de cinema. É muito mais difícil contar uma boa história em menos de cinco minutos do que em hora e meia. Todos os cineastas conseguem fazer uma longa-metragem, mas nem todos têm capacidade para fazer um microfilme. Estou convencido que vai ter impacto nos próximos anos, sem substituir outros formatos ou categorias que já existem.

EP: Já escrevestes livros interdisciplinares com o teatro e a física quântica. Existem várias realidades. O que deve ter o bom livro?
LBB: O conceito de um bom livro é subjetivo. Eu gostei de escrever os livros que gostaria de ter lido. Livros que não tivessem narrativas óbvias e que fugissem ao convencional. Mas isto não significa escrever o que nos vem à cabeça. No meu livro “Pelo lado do invisível” estive cerca de um ano só a preparar o conteúdo. Quando comecei a escrever nada saiu por acaso ou por um raio de inspiração.

EP: Como analisas o mercado editorial?
LBB: Parece-me muito restritivo. Algumas editoras mais arrojadas faliram. As que subsistem obedecem às regras do mercado. Para quem estiver empenhado em publicar, há a possibilidade de fazer edições online gratuitas. Há programas interessantes nesse campo.

EP: Face ao relativismo ético, à sociedade neoliberal e à agressão ambiental ainda temos razões para o optimismo?
LBB: Sim, temos. Na Idade Média, a sociedade regia-se por éticas absolutistas, não tinha mecanismos neoliberais e o ambiente era verde. No entanto, havia pessoas a morrer queimadas vivas nas fogueiras por terem ideias diferentes, muitas não tinham trabalho nem pão para comer e morriam à mínima doença. Nessa época tínhamos razões para sermos otimistas?
​

EP: Muito obrigado, Luís
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A SIBILA  DE AGUSTINA BESSA-LUÍS

1/2/2018

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     A Sibila é uma obra -prima! Agustina Bessa-Luís através de uma prosa fluída , um léxico impressionante , uma técnica narrativa extraordinária e um poder de observação único rendilha um autêntico milagre. Uma voz poderosa e única no panorama das letras portuguesas do século XX . Tem o poder de mergulhar nas personagens como  Dostoiévski , mas deixando-as respirar ; bem como  tem o condão de Flaubert para descrever cenários de um Portugal rural, aparentemente, desaparecido. A Sibila é intemporal decorridos 65 anos da sua" libertação" das garras da genial escritora .  Um "libreto" de usos e costumes fundadores do ser português, mesmo para quem vive nas cidades digitais  de fumo e pó; uma obra  fundamental para quem gosta de literatura.  Em síntese, um clássico! Para ler e reler como quem degusta um gelado de finas camadas e múltiplos sabores...

Eis um excerto , página 257, Ed. Relógio de Água, 2017: "...É esta a mais grandiosa história dos homens ,a de tudo o que estremece , sonha , espera e tenta , sob a carapaça da sua consciência , sob a pele, sob os nervos , sob os dias felizes e monótonos , os desejos concretos , a banalidade que escorre das suas vidas , os seus crimes e as suas redenções , as suas vítimas  e os seus algozes, a concordância dos seus sentidos com a sua moral. Tudo o que vivemos nos faz inimigos, estranhos, incapazes de fraternidade . Mas o que fica irrealizado , sombrio, vencido, dentro da alma mais mesquinha e apagada , é o bastante para irmanar esta semente humana cujos triunfos mais maravilhosos jamais se igualam com o que , em nós mesmos , ficará para sempre renúncia , desespero e vaga vibração. O mais veemente dos vencedores e o mendigo que se apoia num raio de sol , para viver um dia mais, equivalem-se , não como valores de aptidões ou de razão , não talvez como sentido metafísico ou direito abstracto , mas pelo que em si é a atormentada continuidade do homem, o que, sem impulso, fica sob o coração, quase sem esperança sem nome .
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    Autor

    Jon Bagt

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