Vivemos em panópticos vazios onde homens temporariamente sós vivem entre cactos e hortelãs...
Assistimos à instalação do medo pelos detentores do poder. Não são precisos carcereiros . Na era do colonialismo digital, as técnicas de poder que Foucault descrevia são bem mais difusas ...Eis que vigiar é a palavra de ordem e a punição e a recompensa ...dependem da forma como os " prisioneiros" se comportam...Nem sequer é preciso ver a cara dos carcereiros...o que não se vê, o desconhecido, o imprevisível metem mais medo do que aquilo que se vê... Vivemos em panópticos vazios onde homens temporariamente sós vivem entre cactos e hortelãs...
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Um cubo de gelo e as ruas da cidade do México. Uma reflexão sobre o tempo e a sociedade actual... Come hambúrgueres, pequena, olha que não há mais nada no mundo, senão, comer hambúrgueres...burguer, burguês...e deita fora o papel...que somos...( eis o artista e o seu colesterol...) Os Esponsais dos Arnolfini de Jan Van Eyck, 1432, Óleo sobre Tela, National Gallery, Londres, um dos primeiros quadros a retratar temas mundanos, após séculos de pintura sagrada...
Bosch ironizou sobre a " extracção da pedra da loucura".
Um quadro actual face à esfera e praça pública em que vivemos. Se Bauman falava em sociedade liquida, o funil é , hoje, o seu símbolo poderoso .
![]() Em Setembro de 2015 , Max Ritcher lançou o álbum - maratona " Sleep"pela Deutsche Grammophon, , misturando vozes celestiais com ambiências clássicas e electrónicas , criando uma modelação "neuro-cerebral " que permite ao ouvinte explorar os estados do inconsciente , sonhando mundos alados e permitindo planar sobre o ruído da contemporaneidade. A experiência melódica é uma auscultação interior, algo cada vez mais raro nesta época de incomunicabilidade em que escutar tornou-se ultrajante para os emissores de palavras , paroles, parolas...sempre preocupados com os seus decibéis...No meio, o silêncio... ![]() Em Setembro de 2013, a cantora Agnes Obel lançou "Aventine" misturando influências clássicas com ambiências folk. A voz elegante sussurra-nos a melancolia nórdica sobre um arco -íris de teclas boreais e silvos crepusculares. A ressonância do álbum é a de uma canção de embalar de um berço perdido dos quais estamos, inevitavelmente, exilados... Eis o que o algoritmo faz em duas imagens... Sobre colonialismo digital já muito foi dissertado por aqui... Cada um acredite no programa de LAVAGEM que quiser ... E que voluntariamente se sujeita... por curiosidade, tédio, necessidade, fragilidade ou vaidade... Aquela roda da centrifugadora é hipnótica...
A segunda metade do século XIX e o início do século XX demonstraram a apetência das artes pela celebração das conquistas técnicas e tecnológicas . O futurismo com as suas linhas de força, as cores, o movimento e a aceleração tornaram-se presentes nos quadros que rompiam com valores tradicionais e conservadores. Soubessem os futuristas, que mais de 100 anos depois a tecnologia , gelou o movimento: todos presos ao presente fugídio , à memória volátil de um ecrã-mundo sem fios...
@Jon Bagt Imagens de telas de Gino Severini, Umberto Boccioni e Giacomo Balla( o nome de pintor mais adequado a este tipo de corrente...) Não sou adepto de teorias da conspiração ,em sentido lato, mas com o advento das tecnologias e os múltiplos estímulos ,a falta de fontes credíveis, as inúmeras teses pro ou contra X ou Y e o modelo capitalista pouco temperado pelas instituições da sociedade em que vivemos, tornou as pessoas escravas de um paradigma civilizacional adoecido. O saber tudo e o saber nada tocam-se na era da informação e comunicação de massas. Psitacismo e cacacofonia alimentam a irracionalidade do discurso e do pensamento. Os factos são substituídos por opiniões ,as evidências científicas por especulações e as relações privadas em vez de ficarem em casa são publicadas nas redes sociais ( eis o universo "fake") Perdemos a capacidade de empatia pelo vidro do ecrã e aquilo que os mass media destilam...destilam o medo, a desgraça e o horror...como se a doença, a guerra ( comercial a que vivemos globlalmente) e a fome não existisse desde sempre e vão continuar...( Por cada tragédia anunciada há um manacial de prateleiras de supermercado disponíveis...) O colonialismo agora é digital . Uns estão presos sem saber, outros sabem mas não tem coragem de mudar ...( ora , agora é que iríamos aprender a desligar..., nem é preciso...) . Mas um pouco de desobediência cibernética não fazia mal a ninguém ...( não acreditar em tudo que se diz e vê ao primeiro flash...dar tempo ao tempo...e se está com alguém é para estar com alguém e não com o telemóvel psicadélico...) Urge repensar a sociedade em que vivemos e o modelo de sustentabilidade...Se deixarmos que os detentores do poder ("corporativo") continuem a debitar lugares de exploração sob a capa de prosperidade, perdemos a liberdade e a dignidade... As grilhetas? O que nos metem pelos olhos ... ![]() Charles Mingus foi um dos mais importantes músicos de Jazz . Instrumentista e compositor fundiu estilos com sonorizações feitas de camadas de outros áreas da música. Uma espécie de "interdisciplinador rebelde" levando as possibilidades melódicas do Jazz a outras atmosferas rítmicas. Em 1963 lançou pela Impulso este " The Black Saint and the Sinner Lady" que através da extraordinária paleta de instrumentos criam atmosferas afectivas inconscientes de atracção-repulsa , todos os instrumentos dialogam entre si contando a história infindável, a velha dança"entre santos e pecadoras ou santas e pecadores". Houvesse uma nova versão do filme Casablanca dirigido por um Lynch transcendental, a banda sonora seria de certeza de Mingus. ![]() O Dadaísmo ,alegadamente, surgiu da palavra dada que em francês significa "cavalo de brincar", retirada à sorte de um dicionário. Mais tarde , abre portas ao surrealismo . A libertação do inconsciente, o acaso, o sem-sentido , o espírito crítico e o questionamento das normas levaram à destruição de mitos e preconceitos na vida, na sociedade,na arte e na literatura.O manifesto dada preconizava " uma nova realidade": a não vista, a negada, a escondida e a que desafiava o sistema...mais ou menos burguês, mais ou menos acomodado... Quadro: Mertz 163 de Kurt Schwitters feito com selos, bilhetes e papel de embalagens , uma montagem do quotidiano... Em 30 de Março de 1970( quase a fazer 50 anos ) foi lançado um dos mais emblemáticos álbuns da história da música: Bitches Brew do mítico e controverso Miles Davis com a produção de Teo Macero com o selo da Columbia.
Miles Davis acompanhou todas as grandes mutações do Jazz do século XX, durante igualmente 50 anos ( 1940 -1990), bem como quase todos os míticos nomes do Jazz tocaram com ele em diversas formações com amplas variações e estilos musicais. Bitches Brew funde o frio e o quente, o caótico e a ordem, o belo e o agreste, o deserto e a cascata, a luz e a sombra... Um trompete pode resumir a vida, pode sim, e um trompete pode fundir-se com a lenda e criar a banda sonora dos tempos modernos: uma amálgama de relações inconsequentes e fugazes , conceitos difusos e estados de alma nebulados pelas luzes confusas do ego... |
AutorJon Bagt Categorias
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Janeiro 2021
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