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Testemunho – Contributo para a apresentação da obra “Amores Cibernéticos”, de Jon Bagt

3/26/2016

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Deslinda-se desde logo na obra de Jon Bagt uma identidade literária moldada por um carácter duplo em termos de apreciação formal: uma soma de ficção e ensaio. A verdade é que o processo de estruturação metodológico da obra, que se divide em quatro quadros, a saber: ‘Balneário das Damas’, ‘Corredor entre o Balneário das Damas e o Campo dos Afectos’, ‘No Balneário dos Cavalheiros’ e ‘No Campo dos Afectos’ correspondem na essência a quatro actos, com as respectivas cenas.

Em termos imagéticos poderemos traduzir este conceito, dizendo que o esqueleto que sustenta muita da carne desta obra foi concebido de uma forma que sugere a representação, os diálogos são a prova cabal (e as vezes também cavalo, como vão ver, perdão, como vão ler) disso mesmo. Os ambientes descritos nos quadros configuram autênticos cenários. “Amores Cibernéticos” consagra deste modo uma classificação de romance teatral, não obstante poder ser classificado como romance alegórico. O elenco preenchido de figuras da mitologia clássica e bíblica que dialogam entre si através de episódios perenes de sedução, paixão, volúpia, prazer, sensualidade e erotismo são afinal personagens que vivem numa demanda incessante pelo Amor Puro e pelo GPS para chegar até lá. Como vamos verificar, como vão verificar, apenas Adão por via de uma depuração evolutiva do processo amoroso vai chegar à companhia, melhor, à companheira ideal.

Conquanto que a estrutura das conversas nos remeta para os “Diálogos de Platão”, em boa verdade, “Amores Cibernéticos” está muito à frente, já numa escala interplanetária mais do domínio dos “Diálogos de Plutão”!
Mãos à obra (pegar no livro)!

O diálogo inicial, entre Ocípite e Maria, decorre no Balneário das Damas. O desejo carnal de Ocípite aguça-se pelo simples pressentimento de um vulto, que logo desencadeia orgásmicas erupções cutâneas e vaporosos desejos. Uma personagem a soltar a franga na génese de uma obra é sempre um bom auspício. Maria assume a tarefa de refrear as aspirações libidinosas da companheira de banhos.
Logo em seguida, somos cativados pela sedução explícita em favor de sexo implícito por parte Ocípite a Adão e o culminar do ‘engate’ em prazer carnal, algo perceptível através do diálogo entre os dois intervenientes e que a determinada altura sugere a riqueza anagramática da palavra Fado, que por inversão posicional, diríamos por kamasutra linguístico, degenera em Foda. Esse binómio primacial da condição lusitana que nem na sua alternância redunda em crescimento da taxa de natalidade… Afinal ficamos a saber que há muita gente a comer carne com plástico por cima!

Em resumo e sem mais efabulações ou delongas, a troca de vogais faz com que as palavras alternem, condição de duplicidade que utiliza a matéria-prima palavra para lhe conferir o estatuto de destino nacional: fado e… coito! Que quando repetido, redunda em bis… coito! Os trocadilhos são coisa que ‘a… bunda’ nesta fase de acasalamento entre Adão e Ocípite. E o autor fá-lo bem. A situação é descrita com vocabulário equestre, mas caríssimos e potenciais leitores, reservarei para vocês a descoberta da intensidade voluptuosa deste encontro carnal que elege a metáfora como forma de transmissão linguística daquilo que é do domínio do sensorial.

O sarcasmo, a ironia, o humor e umas pitadas muito valentes de Freud são condimentos bem presentes em “Amores Cibernéticos”. Ainda no diálogo entre os dois intervenientes já citados, Ocípite e Adão, diz-lhe ela: Será que vos amo? Este nosso encontro não é literário. Os amantes são tão infelizes nesses livros. E Adão responde: “Ainda é cedo para falar na natureza do amor erótico. Ainda não vos caíram os dentes e o sexo oral ainda está para vir.” Conclusão: Deus dá nozes a quem tem placa!

Há questões do domínio platónico ou até do universo de Petrarca que também não são esquecidas aqui, como a imortalidade da Alma, por exemplo. A incursão dialéctica pelos trilhos do amor está plasmada no diálogo entre os intervenientes até à chegada da personagem Psique. Os desejos desta última não vão ser preenchidos por Adão, como vão ver.

O Quadro II decorre num cenário que é descrito como o “Corredor entre o Balneário das Damas e o Campo dos Afectos”. A dimensão temporal assemelha-se de igual modo anacrónica e remete-nos para um certo domínio da ancestralidade, para tempos imemoriais, sem nos retirar do presente… pois o elemento telemóvel é crucial enquanto suporte do diálogo travado por Psique e Cupido, ‘o pardal tecnológico’, se assim lhe podemos chamar, é uma peça-chave na demanda de um amor… virtual.
O diálogo travado por Psique e Cupido possui uma grande intensidade e é dos que mais convoca o nosso interesse em toda a obra. Aqui podemos encontrar expressões que namoram Camões lírico, como na frase de Cupido: “O amor é um fogo-fátuo acendido por pirómanos sensitivos!”, à qual Psique contrapõe: “Sois mais fingido do que as minhas psicologias femininas. Essa paixão não arde, nem se vê, vinde ter comigo. Amo-vos! Dizeis aquilo que quero ouvir. Não resisto mais.”

A sedução, essa centelha da paixão deste amor apaga-se, imaginem vocês… por falta de rede! Cupido não se deixa envolver. Fica-se pelo estimular sensitivo de uma conversa na vertente exclusivamente em registo áudio para não sucumbir aos ‘en… cantos’ da sereia Psique (mas ela volta à carga ainda neste segundo quadro). Para além disso, o estatuto de Cupido consagra-lhe o perfil de alguém que é conselheiro amoroso, tal como se percebe na conversa com o despeitado Adão.

E um tracejado na memória vai subsistir neste capítulo, a asserção em que Cupido sustenta que “Na sociedade tecnológica todas as damas e cavalheiros precisam de todos os cavalheiros e damas, mas nenhum deles se interessa verdadeiramente por quem quer que seja.” Um sublinhado neuronal para os dias que correm, certamente.

O Quadro III tem como referência espacial de ocorrência ‘O Balneário dos Cavalheiros’. É um episódio cuja construção ao nível gramatical se apresenta mais preenchido de figuras de estilo e não será necessário um denodado esforço ao leitor para perceber isso.

Contudo, não nos vamos deter nesse aspecto, neste contexto e a determinada altura dos acontecimentos, Ocípite surge em cena sempre a brandir uma espécie de espada da conquista amorosa (o sentido figurativo é da minha responsabilidade) que dá pelo nome de sedução: Pigmalião é agora o alvo das suas garras tentadoras. Eis como a representação de uma criatura mitológica convertida em ave de rapina com rosto e seios de mulher, Ocípite, tenta a todo custo seduzir Pigmalião, o rei da Ilha de Chipre, que segundo Ovídio, poeta contemporâneo de Augusto, se apaixonou por uma estátua que esculpiu ao tentar reproduzir a mulher ideal. Tem tudo para ser um capítulo interessante para quem lê.
E neste desafio permanente da concepção da obra, o autor arranja o espaço e o tempo necessários para incorporar numa frase do diálogo a virtude feminina da capacidade de que se envaidecem sempre em contraponto ao homem: fazer duas coisas ao mesmo tempo. Na fala em que Ocípite interroga aquele que quer conquistar: “Sereis capaz de fazer amor comigo ao mesmo tempo que trabalhais a pedra amolecida?”.

Este episódio, este “Terceiro Acto”, chamemos-lhe assim, consagra na obra talvez o maior momento de devoção estética e que cativará, estou certo, a atenção dos leitores, sobretudo pelas imagens sugestivas que cria no diálogo entre o par referido e o léxico utilizado para a descrição daquilo que Pigmalião é enquanto escultor sensorial e conversor para gelo das anatomias replicáveis.

A adicionar à intensidade do momento precedente, o impulso passional de Cupido quer na parte do cuidado discurso poético quer pela demonstração por via das falas dos personagens, neste caso da criatura conhecida por ser portadora das setas em diálogo com Psique, importante neste caso pois reitera e determina o desvendar da química da paixão na era da Cibercultura.

Segundo a personagem feminina trata-se de uma soma hormonal extensa. Uma enumeração à qual Cupido acrescenta: Essas substâncias são segregadas por um corpo novo ainda humanamente controlável, mas profundamente desumano.” E acrescenta com uma lógica pertinente: “o disco rígido substitui o coração humano. Alarga os sentidos pela manipulação digital da cor, sons e cheiro, solta a língua e transpõe as barreiras que limitam a nossa existência.” E como rodapé sustenta: “Sobre o efeito alucinogénio dos meios tecnológicos, o coração tem a virtude de falar daquilo que sente e o defeito de falar daquilo que não sente.”

Eis-nos, meus caros e potenciais leitores de “Amores Cibernéticos”, perante a esmagadora evidência de que através deste romance alegórico, o autor Jon Bagt nos apresenta uma verdade, dir-se-ia quase insofismável, sobre a metamorfose do Amor, das renovadas ferramentas ao serviço da sedução e dos novos formatos com que se apresenta a paixão em tempos de Cibercultura. Esta é uma dádiva generosa para incorporarmos nas nossas reflexões quotidianas. A nossa dependência dos meios tecnológicos forçou a legitimação de um novo padrão de formas e atitudes e um novo modelo de actuação humana perante o Amor. Sem se esquecer (até porque nos quer lembrar) de colocar a acção a decorrer num ginásio, sede (e lugar com sede) de amores voláteis e descartáveis, onde apenas a busca exclusiva pela beleza física campeia.

A etapa final do Quadro III é deliciosa pela integração na esfera dos elementos mitológicos de componentes da realidade virtual, que já são do domínio do presente e vão aperfeiçoar-se no futuro. Atentem na hipótese do curioso duelo entre Cupido e Adão.

E o epílogo poderá ser portador de surpresas. Após a depuração amorosa evolutiva pela qual Adão passou ao longo dos capítulos do livro, está-lhe reservado um final a preceito, ‘No Campo dos Afectos’, que não irei revelar, deixando a satisfação da curiosidade para a vossa leitura.
“Amores Cibernéticos” é com efeito uma viagem alegórica aos interstícios do Amor. Para a qual nem precisamos de sair do lugar, nem de comprar bilhete. Jon Bagt coloca-nos a todos sem excepção, através das personagens, dos respectivos diálogos e das circunstâncias, num divã de Freud onde a psicanálise é colectiva.

No princípio… era a verba! Toca a comprar a obra…
​
João Fernando Arezes
 
 
 
 
 
 
aqui para editar
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Sessão de apresentação de amores cibernéticos

3/17/2016

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A Calendário de Letras e a Chiado Editora convidam para o lançamento do livro Amores Cibernéticos de Jon Bagt que se realizará no próximo sábado na Livraria do Mercado.
https://www.facebook.com/events/930214623766157/
‪#‎mercadobomsucesso‬ ‪#‎mercado‬ ‪#‎livro‬ ‪#‎jonbagt‬ ‪#‎porto‬ ‪#‎oporto‬ ‪#‎market‬‪#‎book‬ ‪#‎livrari
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Genealogias da Irracionalidade ou a beatificação do "homem lobo" no século XXI:

3/13/2016

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A violência, a arrogância e a intolerância nascem da frustração.

A indiferença nasce da vaidade e do egoísmo.

O oportunismo, a discriminação, a arbitrariedade de critérios e o interesse brotam da necessidade de adular os que são úteis aos projectos individuais ou colectivos.( dois pesos duas medidas conforme a circunstância...)

A ambição e a ganância brotam da sede de poder.
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Tivesse o Criador dado quatro olhos a homens e mulheres: Dois para olhar para fora e dois para olhar para dentro...O mundo em modo de " bomba relógio" em que vivemos seria desactivado...
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George Orwell said:

3/10/2016

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“War is peace. 
Freedom is slavery. 
Ignorance is strength.” 

​1984
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Sessão de Apresentação Amores Cibernéticos- 19 de Março de 2016 -Porto

3/8/2016

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 No próximo dia 19 de Março pelas 17h na livraria do mercado no mercado do bom sucesso no Porto será apresentado o livro Amores Cibernéticos.Nesta sessão de apresentação , o multifacetado João Arezes conduzirá a sessão em volta de um cardápio cheio de surpresas temperado com humor q.b

  Mais informações em :

https://www.facebook.com/events/550503195124103/
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Amores Cibernéticos- Sinopse/Synopsis

3/8/2016

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Sinopse:

As relações humanas no Século XXI são líquidas para o Sociólogo Zygmunt Bauman. Em Amores Cibernéticos, o Autor Jon Bagt reflecte sobre relações interpessoais do presente, mergulhando na mitologia clássica e bíblica. No ginásio do imaginário, onde o vapor de água é uma constante, as personagens vão interagindo num drama de afectos pontuado com momentos de sátira, humor e poesia. Jon Bagt utiliza uma linguagem nova e um estilo alternativo em que o leitor é convocado para a reflexão sobre o lugar dos amores que nos habitam. Em suma, Amores Cibernéticos é um livro de cabeceira para ter aos pés da cama…

Synopsis:

 For Sociologist Zygmunt Bauman ,human relations in the twenty-first century are liquid r . In  Amores Cibernéticos, the Author Jon Bagt reflects on interpersonal relationships . In the ginásio do imaginário, where the water vapor is a constant, the characters will interact in an assigned drama punctuated with moments of satire , humor and poetry. Jon Bagt uses a new language and an alternative style in which the reader is called upon to reflect on the place loves that inhabit us. In short ,  Amores Cibernéticos is a bedside book to get to the foot of the bed ...


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George Bernard Shaw Said:

3/3/2016

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“Life isn't about finding yourself. Life is about creating yourself.” ​
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 Ray Bradbury Said:

3/3/2016

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“You don't have to burn books to destroy a culture. Just get people to stop reading them.” 
― Ray Bradbury
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Albert Camus Said:

3/2/2016

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“Don’t walk in front of me… I may not follow
Don’t walk behind me… I may not lead
Walk beside me… just be my friend” 

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“Be yourself; everyone else is already taken.”

3/1/2016

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Identidade Cultural Portuguesa

3/1/2016

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          A identidade resulta da dialéctica entre a memória e o imaginário. Entre aquilo que fomos, aquilo que pensamos ser e o que desejamos ser.

           A memória dos factos e dos acontecimentos remetem para a realidade daquilo que fomos. Os usos, costumes, hábitos e tradições transmitidos por via oral, escrita, analógica e, agora, digital moldam o inconsciente colectivo que Jung sistematizou.

              O que pensamos ser remete para a representação do nosso tempo. O tempo psicológico e não real que julgamos viver. Porque o real é fora de nós. Marcel Proust sempre buscou o tempo perdido. Freud considerou o tempo uma planificação entre as contradições dos instintos face aos afectos. O que se pensa ser é um dentro de nós, mas fora do mundo. A ilusão perfeita, a nudez sublime das formas etéreas que nenhum vestido consegue disfarçar, apenas velar ou conservar.

          O que desejamos ser manifesta-se no imaginário. O sonho, a busca das formas perfeitas, dos tecidos mais eloquentes ou dos cortes mais ousados.

      Entre o que fomos, pensamos ser e desejamos ser está o mito. Como dizia Pessoa, o mito é o nada que é tudo. O mar é tudo o que queremos ser. O sonho que julgamos poder alcançar e o nada que ficou para trás na espuma dos dias passados, que já não voltam…
​
         Este mar que não nos deixa sossegar é a nossa alma, bem Portuguesa, as ondas sempre a rebolar na areia num eterno retorno. Em outros tempos, partimos pelos setes mares, mas, agora, que já tudo foi encontrado, Portugal perdeu-se dentro de si... O quinto império reduziu-se a uma utopia aritmética presente em cada paradoxo institucional. A Europa está senil e Portugal anda sempre a dar-lhe a bengala para a mão…

      Resta-nos a arte. Porque contrariando Óscar Wilde, a arte pode ser extremamente útil. Como testemunho do que fomos e do que queremos ser. O que somos, hoje, continua no domínio da nudez. Despojados não só de educação, cultura, mas também de uma melhor justiça e saúde. O mito sobrevive. Seremos capazes de dominar o mar? Ou continuamos à espera do Dom Sebastião?

         Fosse a língua Portuguesa objecto de salvação, mas até essa é confinada à solidão de olhar o computador. Como se o mar fosse virtual e a relação com o outro fosse o que aparenta ser e não aquilo que é. A mulher de César levou Eva ao exílio e Adão deixou crescer as barbas. Mas sempre bem vestido. O próprio Eça poderia ter escrito que a cidade não comunica e a serra não abraça o mar.

          A língua Portuguesa não é a nossa Pátria. Andam todos exilados. Perdidos nos seus tempos psicodramáticos e nos lugares comuns da civilização tecnológica. O objecto domou o sujeito, quando o sujeito deveria comandar o objecto.Os conceitos diluíram-se. As ideologias confundiram-se. As pessoas demitiram-se.
 
       Urge revolucionar o tempo pela força do mito e do símbolo. Que tudo vence e que permite navegar neste mar que é o da civilização humana.

        A identidade nunca pode ser um dado definitivo, porque falta saber o que a mortalidade nos reserva. O fim de tudo ou o começo de algo mais na moda? Um banquete servido no Olimpo, bebendo o néctar imortal dos Deuses ou a constatação que os Deuses não lavam as vestes onde se enrolam, para nosso desespero e desencanto. Falta esse confronto final para arquivar o processo existencial, que só Kafka, Camus e Sartre nos levaram a consultar no grande tribunal universal. A constatação que a vida é boa, mas injusta. Porque algo parte e alguém nunca mais chega…

      Como seria bom voltar a encontrar aqueles que já partiram. O sonho de olhar o mar, ninguém nos pode tirar. Nascemos frente a ele. Haveremos de ir lá morrer. Mas que seja sempre ao fim da tarde com um xaile sobre as costas…
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Sensações sem sentido

3/1/2016

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  As praças virtuais não têm cheiro, paladar e não são sensíveis ao toque. É feita de muita imagem e algum som. É como se numa praça de uma cidade um homem tivesse uma mola no nariz , um fecho na boca e as mãos atadas.
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René Magritte, a friend of order
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O Espírito da Carne...

3/1/2016

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Nostalgia na Era Cibernética

3/1/2016

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         A memória é uma matéria volátil. Está sujeita a inúmeras incorrecções, lapsos e erros. A interpretação é igualmente falível em todos os homens. O tempo molda o ser. O ser nunca será o que já foi e jamais será o mesmo daquilo que agora lhe parece que é. 

          O passado é uma ruína. As pessoas são fantasmas, os objectos são inúteis e os lugares estão abandonados. O excesso de memória leva ao desespero. A falta de memória produz a alienação. A falta de memória é uma massa branca e o excesso é um objecto negro. Tarkovsky explora no filme nostalgia a luz e sombras da memória em amplas arqueologias cinematográficas. 

         Todas as cenas são autênticos quadros filmados com a mestria de um poeta. Transmitir por visões e reconstruções o que o tempo apaga é um exercício difícil, mas que comove o espectador até ao máximo expoente da sua sensibilidade. 

          O filme desenvolve-se em espectros sucessivos como ondas concêntricas do binómio  tempo / espaço…Refracções difusas de emoções, sentimentos e pensamentos insolúveis mesmo que a água seja constante na ambiência dramática da película. Seja a chuva, seja o vapor dos banhos…

          Na era cibernética, a proliferação de estímulos anestesia o homem. Incapaz do excesso de memória, mas vítima da falta de memória pelo descomedimento de imagens. A imagem prostitui-se e a sua banalidade torna o homem desvinculado de qualquer tipo de desejo fundador e de um tempo de meditação e, sobretudo, de mediação com os lugares que habita e com as pessoas com que se relaciona. O erotismo da vida é substituído pela mortificação do momento.

          A falta da memória não é só individual, mas colectiva. Tarksvosky filma em 1983 o que se passa em 2016. Um louco montado na estátua equestre de Marco Aurélio  diz a verdade perante os homens, aparentemente normais, dispostos geometricamente nas escadas da ambição, da vaidade e do individualismo. Mas a verdade não mobiliza os homens. O louco imola-se no fogo, mas nem com a imagem do sacrifício a multidão se comove e redime. Só um cão ladra…

         A melancolia é um estado de algo ou alguém que já não nos pertence, mas nas ruínas da alma há espaço para a beleza e para o sublime. 

       O filme fecha com o destino de todos os homens. O protagonista morre só no seu templo na esperança de uma redenção no céu, já que na terra está condenado à ver o seu reflexo numa poça de água semeada na lama da irracionalidade civilizacional, a qual se apagará com a neve da história…
​
         O mundo, o homem podiam ser outra coisa, mas mesmo com a tecnologia não o são…E essa impotência ontológica leva a que o homem se sinta nostálgico de um destino que nunca se cumprirá e de uma natureza humana que nunca mudará, apenas se replica de Era em Era até ao abismo final…

    
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    Autor

    Jon Bagt

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