Passaram-se 20 anos desde que a exposição Êxodos de Sebastião Salgado esteve pela primeira vez em Portugal, no Parque das Nações, em Lisboa. Através de Paulo Rafael 1 (educador, historiador e escritor brasileiro), que colaborou com Sebastião Salgado, a associação cultural e artística Grande Coisa! (ACAGC!) dá a conhecer em Coimbra uma parte desse seu trabalho fotográfico. Tem sido um início de século bastante conturbado, apesar da (r)evolução tecnológica a que temos assistido. Revisitar o olhar de Sebastião Salgado permite- nos perceber que, se algumas das situações retratadas melhoraram, muitas subsistem e, infelizmente, podemo-nos interrogar sobre quantas mais as suas lentes focariam. Em 2000, José Saramago referiu-se a este trabalho do seguinte modo: “Dante, hoje, desceria ao inferno com uma câmara fotográfica. Quem sabe, lhe sobrasse algum filme para quando entrasse no purgatório, mas é duvidoso que encontrasse um céu para fotografar. Porém, para a viagem que este trabalho é, não necessitamos de Vergílio algum que nos indique o caminho. Sebastião Salgado, sozinho com uma câmara, é o guia e o narrador. Ou dito de outro modo: o guia e o poeta.” A Bíblia - Vários Autores;
A Apologia de Sócrates - Platão; Metamorfoses- Ovídio; Odisseia- Homero; Hamlet - William Skakespeare; Fausto - Johann Wolfgang Goethe; Crime e Castigo - Fiódor Dostoiévski ; Guerra e Paz- Lev Tolstoi; Madame Bovary - Gustave Flaubert; A Comédia Humana - Honoré Balzac; O Processo - Franz Kafka; Dom Quixote de La Mancha - Miguel de Cervantes; A Divina Comédia- Dante Alighieri; Ulisses- James Joyce; Memórias de Adriano- Marguerite Yorcenaur; Poesia Completa - Alberto Caeiro( Het. Fernando Pessoa) Ficções- Jorge Luís Borges ; A Interpretação dos Sonhos- Sigmund Freud; Cem Anos de Solidão - Gabriel García Márquez; O Capital- Karl Marx. Veermer e Chardin evocam o silêncio nas suas obras . São os mestres da vida que ninguém vê , nem ninguém repara. Mostram cenas da vida quotidiana que o frenesim da era cibernética esqueceu de valorizar. Os pintores não sendo contemporâneos, mostram a rotina como o mais belo prazer para evitar a melancolia dos confinamentos e das desumanizações. Na era da banalização das relações, os objectos permanecem fiéis a uma dinâmica verosímil , a um espanto vitalista , a um pendor da sensibilidade electiva que transcendem as pequenas mortes que vão sucedendo na paleta das horas. Talvez o sentido da vida seja pegar em seis ovos misturar leite e fazer do creme as nuvens de espuma dos dias quase todos iguais...
"...A necessidade de imitar, o prazer obtido na mimesis e na imitatio é, como Aristóteles estabeleceu, universal nos símios e nos homens. O espelho é uma janela que não pára de fascinar..." ( George Steiner , in Gramáticas da Criação, Ed. Relógio de Água, página 185)
Face à ditadura de gosto, às modas e à polarização da sociedade só vejo Kazimir Malevitch e Ad Reinhardt como representantes artísticos dos tempos pandémicos: Branco e Negro.
A tecnologia agravada pela pandemia retiram o homem do seu lugar natural e projectam - no na alienação do controle e da destruição progressiva da empatia e compaixão. Os efeitos mais devastadores da epidemia, não são só orgânicos, económicos e psicológicos stricto senso, são os efeitos da montagem da indiferença e do outro como um número, uma peça de engenharia social, um estranho aos desígnios do ego. Viver em função do ego é cristalizar o mundo à sua imagem, como fixo, imutável e que funciona na infatilizacao do ter um comando remoto que se submeta à vontade tirana do usuário e de um único modelo e estilo de vida. Ora, o mundo e a natureza das coisas são completamente diferentes. Aceitar não implica resignação, implica pensamento crítico, exercer a liberdade e a ética, agir em silêncio sem os neons das redes... Apreciar o silêncio, ajudar quem precisa sem querer" vender um aspirador como se fosse um balão de ar quente... "Mas o que assistimos é a uma barulheira, cacofonia sem fim e a um aumento do instinto predatorio, às vezes, disfarçado de boas intenções ... Eis que assistir a um tempo dúbio como aquele que atravessamos, é constatar que o homem nunca percebeu o que realmente anda aqui a fazer...
De África , países como o Mali, a Etiópia ou Cabo Verde, trazem no vento melodias mornas com ritmos pausados, vozes limpas , instrumentos hipnóticos e uma sensação de pura viagem ...Dizem que são baladas e blues, mas são oásis que ajudam a atravessar o deserto civilizacional actual...o regresso a uma substância verosímil, sem nome, nem rota, nem destino...
Fabricada há 1,8 milhões de anos a pedra Olduvai apresenta faces afiadas , deliberadamente trabalhadas, que permitiram cortar ou quebrar , um dos primeiros artefactos tecnológicos descobertos pelo Arqueólogo Louis Leakey e sua equipa em 1931
Depois da biopolitica, a bioelectrónica, poucos resistirao ao impulso instintivo, foi assim que começaram os racismos, os capitalismos predatorios, as arbitrariedades éticas, os adormecimentos da razão.... Progressivamente, o homem perde a compaixão e a solidariedade.... Os que resistem à desumanização, só lhes resta o exílio... Sob pena da violência os colher nesta onda de irracionalidade e interesses.... A pior epidemia de sempre foi em todos os tempos a adoração dos bezerros de ouro, a qualquer custo... O preço está à vista... A decadência civilizacional e a desregulação energética de ecossistemas e populações...
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AutorJon Bagt Categorias
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Fevereiro 2021
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