A ESTANTE DO PORTEIRO
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Conversa com Helena Vasconcelos

11/29/2017

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Helena Vasconcelos (HV) é crítica literária, escritora e dinamizadora de inúmeras comunidades de leitores em bibliotecas, em universidades, na Culturgest e na Fundação Calouste Gulbenkian. A conversa que se segue resultou de um generoso contributo que Helena Vasconcelos deu à Estante do Porteiro (EP).
 
EP: Imagine que tinha sido Adão a comer, em primeiro lugar, o fruto proibido. Qual seria o lugar de Eva?
HV: Tenho pena do pobre Adão, tão lerdo! Não percebe nada de nada, anda para ali, no paraíso, a mostrar os músculos, sem saber o que fazer com aquele corpinho que Deus lhe deu! Tem de ser a espevitada da Eva a dar-lhe a conhecer tudo o que há de bom, na vida! 

EP: O poder da literatura é aferível, simbolicamente, através da narrativa bíblica?
HV: A Bíblia é um dos grandes livros que servem de base para a chamada  Literatura Ocidental, tal como as narrativas homéricas que, pessoalmente, acho mais ricas.  A Bíblia tem boas histórias, claro, mas é na Ilíada e na Odisseia que se encontra tudo - como, mais tarde, em Shakespeare, Camões e Cervantes, por exemplo.

EP: As farmácias deviam substituir as prateleiras de medicamentos por estantes de livros?
HV: E as livrarias? Deveriam vender medicamentos? Talvez. Mas sim, um bom livro é melhor do que uma má aspirina.

EP: Quais os ingredientes para um bom livro?
HV: Sou má cozinheira. No entanto, no que diz respeito a livros creio que os ingredientes poderão ser, primeiro, uma boa história, em segundo lugar, uma boa história, em terceiro lugar, uma boa história. Depois, junte-se um léxico rico e, por fim, faça-se uma boa cosedura, lenta ou rápida, conforme a intenção.

EP: O leitor moderno sofre de distúrbio de atenção ou padece do gosto dos outros?
HV: Creio que não percebo a questão. Pergunta-me se acho que o leitor contemporâneo falha, no que diz respeito ao sentido crítico? Não sei. A minha opinião é a de que nunca se leu tanto como agora, do bom ao mau, do péssimo ao excelente. Quando me falam num passado "glorioso", cheio de gente cultíssima que lia muito e em que só havia autores excelentes, fico espantada. Até há bem pouco tempo, a maior parte da população de Portugal só tinha a quarta classe. Não existiam as bibliotecas que agora estão espalhadas por todo o país. Só uma elite restrita tinha a possibilidade de comprar livros. Os autores e autoras morriam de fome, ou emigravam ou tinham outras profissões. Prefiro esta abundância - que poderá ser mal, ou pouco, aproveitada - à escassez.

EP: Ainda existe espaço para uma literatura independente, como no cinema, ou assistimos a uma sistematização das preferências dos leitores?
HV: Esse espaço existe sempre, para quem quiser ocupá-lo.

EP: A imagem colonizou a palavra?
HV: Sempre assim foi. Não é uma questão de "colonização" Enquanto a alfabetização foi diminuta - até há bem pouco tempo, em Portugal - a imagem servia de ilustração de ensinamentos e de ideias. Basta olhar para as igrejas - pinturas, vitrais, frescos, composições de azulejos - onde se contavam as histórias que "educavam". Naturalmente, desde os finais do séc. XIX, que a fotografia e o cinema ocupam um lugar especial. No presente, observa-se uma interessante dicotomia nas redes sociais - as que privilegiam a palavra escrita (Facebook, p. ex.) e as que preferem a imagem (Instagram, p. ex.) . Qual prevalecerá?

EP: As artes, em geral, têm vindo a adaptar-se melhor que as letras ao mundo cibernético?
HV: São duas linguagens distintas, com ritmos diferentes. Embora as chamadas "vanguardas", numa e noutra área, tenham andado a par, no século XX. Mas tenho dificuldade, por exemplo, em encontrar paralelo, nas artes visuais, ao Ulisses ou ao Finnegans Wake do Joyce. "Aquilo" é tão incrivelmente novo! Quanto ao livro, em si, como objecto, creio que permanecerá mais algum tempo - não muito. Se se inventarem suportes melhores, venham eles!

EP: Um quadro digital é mais belo que um quadro a óleo?
HV: Depende da concepção do belo.

P: Como vê o futuro à luz do que foi o passado e de acordo com que estamos a viver no presente?
HV: Não sou vidente mas espero que a informação globalizada ajude a prevenir os piores actos dos seres humanos - guerras, atentados, destruição, violência no seio das famílias, das comunidades. Pessoalmente, o futuro não me preocupa. Espero vivê-lo intensamente, longamente, alegremente, como tenho feito com o meu tempo, até agora.
 
EP: Muito Obrigado, Helena.
 

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O Paleolítico da Fotografia

11/25/2017

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 Louis Jacques Mandé Daguerre foi um pintor, cenógrafo, físico e inventor francês, tendo sido o autor, em 1835, da primeira patente para um processo fotográfico, o daguerreótipo. Em 1838 tirou uma" chapa" do primeiro humano. No início dos processos que vieram dar origem à fotografia , as pessoas ficavam com ar triste e enfadado devido ao tempo de exposição e de espera (  Já para não falar do estranho hábito da Inglaterra Vitoriana de tirar fotos aos entes queridos falecidos). O processo moroso de outrora foi substituído pelos instantes digitais de hoje. A foto banalizou-se, mas não perdeu a sua função primordial: a de registo do passar do tempo .
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Quando um buraco negro se assemelha a um olho universal

11/25/2017

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Image Credit: NASA's Goddard Space Flight Center
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Enquanto a cidade dorme ( Texto exclusivo de Carlos Miguel Rebocho para esta página)

11/25/2017

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                   Durante um punhado de anos, o inferno dos prazos processuais obrigou-me a trabalhar em noites sucessivas adentro. O escritório situava-se no coração de Lisboa e o meu gabinete tinha uma janela rasgada sobre o Parque Eduardo VII, o Hotel Ritz e a Praça do Marquês de Pombal. Com o cair da tarde, eu assistia à coreografia do “alumiamento”: primeiro, os carros em passagem veloz; depois, os candeeiros de rua; por último, os pisos das empresas, apartamentos e quartos de hotel. O jantar era amiúde um bife com molho de café ao balcão do restaurante defronte – um prazer rápido, reconfortante e comportável. Pelas nove horas, regressava ao edifício, de modo a retomar os trabalhos, os quais findavam pela hora do último autocarro para Campo de Ourique, um pouco antes da uma da manhã. Obviamente, com estas rotinas, já conhecia cada uma das figuras de cena que povoam o Marquês de Pombal pela noite: polícias de turno, motoristas da carris, pessoas sem-abrigo, porteiros de boîtes manhosas, pregadores sem público, etc. Entre esses confrades, contavam-se, obviamente, os vigilantes do edifício. Por regra, os turnos eram assegurados pelo Sr. Fernando, pelo Sr. Eliseu e pelo Sr. Alberto.
                    O Sr. Fernando vivia na margem sul, fazendo um aparatoso trilho, entre cacilheiros, autocarros e metro, até chegar ao nosso edifício. No entanto, como tinha grande apego ao facto de viver defronte do mar, aceitava essa “via crucis” como um custo merecido.  O Sr. Fernando vestia-se com o aprumo de um militar. Certa vez, reparei que tinha uma âncora tatuada no braço. Era uma tatuagem a sério, antiga como uma cicatriz, que nada tinha a ver com a pseudo-rebeldia hoje em voga. O pai do Sr. Fernando fora um prestigiado estucador. Tão apreciado era o seu trabalho, que fizera obras em apartamentos de luxo em Paris e em Nova Iorque. Em casa, o Sr. Fernando tinha uma colecção interminável de folhas de papel vegetal com os desenhos para estuque do pai. O Sr. Fernando gostava de os desenrolar sobre a mesa, ao serão, cultivando o sonho de um dia escolher um para o tecto da sua sala defronte do mar.
                   O Sr. Eliseu era uma personagem que poderia ser esculpida em cerâmica Bordallo Pinheiro. Quando o conheci, os anos de longa carreira já lhe pesavam no dorso e, não menos, no espírito. De quando em vez, quando eu passava, já a altas horas, o pobre homem já cedera ao cansaço, dormindo como um frade após a ceia. Como necessitava de o acordar, de modo a que me abrisse a porta, aproveitava para brincar com ele, perguntando-lhe: - “O Sr. Eliseu acaso não viu um piano de cauda aqui passar?” O Sr. Eliseu arrogava-se alguns dotes premonitórios, tendo sido das poucas pessoas a quem a “débâcle” do Banco Espírito Santo nada surpreendera, posto que: “(…) a funcionária da agência de Odivelas já andava muito cabisbaixa…”.
                O Sr. Alberto lembrava-me vagamente uma personagem tirada de um filme de Scorsese, com os seus Ray-Ban para miopia. Era um homem cultíssimo. Vivia na Graça, onde mantinha uma colecção criteriosa de livros sobre os mais diversos temas. Sugeriu-me vários alfarrabistas, onde ele se apetrechava de livros a preços módicos. Deu-me também a conhecer vários autores. Certa noite, o Sr. Alberto quis-me levar a conhecer as entranhas do edifício, em especial, uma espécie de “piscina” subterrânea, construída nos anos 70, por engenheiros suíços, que permitia purificar o ar, através de um complexo sistema de ventilação. Ali, uns bons metros abaixo do solo, vi aquele lençol de água estendido sobre um fundo em pastilha azul. Já não há piscinas assim, a lembrar que o mar reflecte sempre o céu. O Sr. Alberto delirava com aquela ideia de uma pequena lagoa, que poucos conheciam, mesmo no centro de Lisboa. E deu-ma a conhecer.
               Quando mudei de emprego, despedi-me destes príncipes da nobre arte da vigília. Deixei um livro ao Sr. Alberto. Fiquei a dever um tecto de estuque ao Sr. Fernando e um piano de cauda ao Sr. Eliseu.
 
Lisboa, 24 de Novembro de 2017
 
Carlos Miguel Rebocho  
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A Queda De Um Homem

11/20/2017

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        Há milhares de anos que o homo sapiens sapiens é um profundo analfabeto sensorial e sensitivo fruto da evolução. Sempre a criar histórias para se convencer a si mesmo e aos outros ou o inverso. A neurociência e a psiquiatria testemunham as narrativas colectivas e individuais. Numa escala temporal mais remota, ainda podemos afirmar que o mito sempre foi a antecâmara para o sonho e para a queda do acordar: afinal, pede-se uma coisa na vida e recebe-se outra! 

         Não interessa que fórmulas se usam para tornar a queda mais apetecível, desde que se o faça em nome da glória que é a mais bela metáfora da decadência.

       A queda remete,simbolicamente, para a morte. Ao homem interessa-lhe a vida, as suas insanáveis contradições, recorrentes dilemas ou inatos defeitos insuficientes para balancear a ética das virtudes ou a beleza do universo estrelado que Kant e Shakespeare elevaram ao panteão das artes.

      Osíris iluminou o homem no antigo Egipto. Osório acende as velas e deixa que o leitor alumie as entranhas da realidade que como sabemos é o pior dos vícios. Osório manipula os materiais da escrita com a mestria dos eleitos, mas o primeiro romance é como o primeiro amor: Não se esquece até se escolher o próximo .

    Os corpos não têm tempo, todavia, ocupam espaço nos teatros anatómicos. Os vampiros não  conseguem chupar o sangue todo. Os alguidares da criação são incompatíveis com a busca do pó dos astros.No antigo Egipto pesava-se a alma que se julgava presa ao coração. No moderno Portugal , a alma é um curto –circuito cerebral alojada em redes disfuncionais.

     Quando se corta a massa cinzenta em tiras nas Faculdades de Medicina é verosímil que não se encontrem todas as respostas. Osíris perscrutava a dupla face do espelho. Osório, para além de acender as velas, oferece ao leitor um espelho. Não se assuste o leitor com o que vê, a massa de que é feito é igual à do vizinho que se cruza consigo na estação de comboios ou se senta ao seu lado no vagão fantasma.

     Na literatura cabem múltiplos mundos. Na vida cabe o que cada um escolhe. A falha é inevitável por muito que se nade na justificação, sublimação ou expiação.A queda que Osório nos indica é a de um homem e não a do homem. Aqui reside toda a diferença ou habita a derradeira esperança na redenção da humanidade.
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Cineclube de Amarante - No trilho dos  mestres.

11/16/2017

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​Em estilo documental, são recriados os eventos em Petrogrado, desde o final da monarquia em Fevereiro de 1917, até ao final do governo provisório em Novembro desse ano. Lenine regressa em Abril. Em Julho, os contra-revolucionários organizam uma revolta espontânea, e é decretada a prisão de Lenine. No final de Outubro, os bolcheviques estão prontos a atacar. Dez dias que irão abalar o mundo.
​
In site da distribuidora
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Conversa com Luís Osório

11/14/2017

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Luís Osório (LO) é escritor, jornalista, ex-director de A Capital e do Rádio Clube Português, bem como autor e apresentador de vários programas emblemáticos que passaram na antena da RTP. As linhas que se seguem resultam de uma comunicação amavelmente concedida por Luís Osório à página “ A Estante do Porteiro”( EP).
 
EP: Qual o código de barras do silêncio?

LO: Deus.

EP: Substantivo, adjectivo ou advérbio?

LO: Substantivo.

EP: Os significados estão em vias de extinção ou os significantes diluem-se na ditadura da imagem, seja virtual ou não?

LO: Nós estamos em vias de extinção.

EP: O que falta escrever?

LO: O que não foi escrito.

EP: As ideias são património comum da humanidade, objectos constantes de “furto” criativo ou redutos de sobrevivência das “elites”?

LO: São património comum da humanidade e acabam por ser roubadas pelas elites económicas quando são consideradas suficientemente maduras. 

EP: O que é mais potente no processo criativo: A falha, a queda ou a ilusão?

LO: As três são muito potentes. Talvez escolhesse a ilusão.

EP: Exposição, demonstração, expiação ou ocultação?

LO: Expiação.

EP: A maioria das pessoas passa uma vida sem se conhecerem, sem se aceitarem ou sem se superarem?

LO: Sem se conhecerem no que não é visível.

EP: Ainda existe salvação para o amor?

LO: Se ainda existir salvação para nós.

EP: É mesmo preciso responder a todas as perguntas ou é preciso perguntar para ter sempre as mesmas respostas?

LO: Nesta fizeste-me hesitar. Não é preciso responder a todas as perguntas, no limite não será mesmo necessário responder a nenhuma. E é fundamental perguntarmos para, farejando na nossa própria cauda, possamos perseguir a ideia de que há respostas/ caminhos que não imaginávamos.
 
EP: Muito obrigado, Luís.
 
Novembro de 2017.
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Máquina de Escrever de Nabokov

11/14/2017

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A Inquietante Estranheza do Ser

11/12/2017

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