
Frederic Ballell, "Casas de escriba" perto do palácio virreina, em Barcelona, por volta de 1908.( consta que daqui a uns anos face aos índices alarmantes de falta de leitura devido às grilhetas do Mr Smart Phone, voltarão a existir destas casas , pois as pessoas vão deixar de saber interpretar o que lêem e vão escrever sem saber que cabeça lhes ditou as letras...e ainda com o declínio da caligrafia...) (Estas "pequenas casas" eram onde os escribas trabalhavam. As pessoas que não sabiam ler e escrever iam buscar as suas cartas l, que , posteriormente eram lidas em voz alta- agora é a assistente do Google que lê o que está escrito nos ecrãs da "modernidade de lítio..." ) ![]()
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Hannah Arendt e Theodor Adorno foram severos críticos dos totalitarismos. Verificamos que hoje o mundo está infestado de meias verdades, meias mentiras. Ou seja, um segmento das notícias não são completamente falsas. E aqui o isco dos regimes "alegadamente democráticos" apanha os” peixinhos” que são os usuários das app., dos media 3.0 e afins , incapazes de usar a razão crítica e anestesiados no acontecimento loop ou no epifenómeno digital . Ou seja, os divulgadores das meias notícias falsas, pegam sempre pelo lado verdadeiro. É como o copo meio cheio e meio vazio. Os fenómenos e os factos são complexos como Edgar Morin já dissecou na sua extensa obra. Mas os cidadãos começam a adoptar este discurso das meias verdades /meias mentiras no espaço e esfera pública. O império do “ fake” tem muitos rostos e a desresponsabilização moral das massas legitima os novos ditadores. Não se trata de liberalismo, trata-se de totalitarismo maquilhado. Sem uma imprensa livre e que nos forneça os dois lados da história, os factos em si,a tentação das meias verdades cairá sob o reino do fingimento e da indiferença em que se tornaram as relações sociais sob o manto da cibercultura e da tão desejada”lambidela de umbigo” proporcionada pelas app… Fiquem com as sábias palavras de Hannah Arendt antes que fiquemos todos com os olhos em bico ou com fartas cabeleiras alouradas ou bigodes estilosos… “…Lies, by their very nature, have to be changed, and a lying government has constantly to rewrite its own history. On the receiving end you get not only one lie—a lie which you could go on for the rest of your days—but you get a great number of lies, depending on how the political wind blows…” “…The moment we no longer have a free press, anything can happen. What makes it possible for a totalitarian or any other dictatorship to rule is that people are not informed; how can you have an opinion if you are not informed? If everybody always lies to you, the consequence is not that you believe the lies, but rather that nobody believes anything any longer. This is because lies, by their very nature, have to be changed, and a lying government has constantly to rewrite its own history. On the receiving end you get not only one lie—a lie which you could go on for the rest of your days—but you get a great number of lies, depending on how the political wind blows. And a people that no longer can believe anything cannot make up its mind. It is deprived not only of its capacity to act but also of its capacity to think and to judge. And with such a people you can then do what you please…” Os “Talking Heads” foram uma das bandas mais influentes do último quartel do século passado. David Byrne, Chris Frantz, Tina Weymouth conheceram-se na Rhode Island School of Design no início dos anos 70. Mais tarde junta-se Jerry Harrison.A guitarra melódica , as batidas , o timbre de Byrne , a fusão de estilos de funk, pop, afrobeat e electrónica tornam as canções destas “cabeças falantes”muito policromáticas e cheias de vitalidade. Brian Eno entra em cena no apogeu da banda . Produtor que para além da carreira a solo, já tinha participado com os Roxy Music e que ainda trabalhou com Bowie , U2 entre outros músicos e bandas. O álbum More Songs About Buildings and Food de 1978 é extraordinário e inclui a mítica música take me to the river. Após anos de actividade, a banda termina em 1991, mas deixa um rasto de bom gosto na sua construção musical e estética.
Cali Boreaz (CB) é escritora e artista polivalente. A conversa que se segue resulta de um generoso contributo que deu à Estante do Porteiro (EP).
EP: Como surgiu o gosto pela literatura? CB: Havia uma inclinação natural minha para ler, escrever... Uma atração constante pelos livros dos meus pais, pelos do meu avô. Lia tudo. E comecei a escrever diário e poemas desde os 6, 7 anos. Lá pelos 12 anos, o meu avô, que foi marinheiro e passou anos de insônia nas bibliotecas dos navios, introduziu-me no universo de Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco. A partir daí não teve mais volta. EP: Quais os projectos que neste momento está envolvida? CB: Neste momento, estou preparando a edição do meu segundo livro de poesia e a realização de uma peça de teatro que escrevi como adaptação do romance Karen, de Ana Teresa Pereira, vencedor do Prêmio Oceanos 2017. EP: O seu instrumento de trabalho é a palavra, mas usa-a em diferentes plataformas multimédia? Que efeito a transfiguração da palavra tem na busca de novos sentidos e horizontes? CB: A poesia é anterior ao poema e é mais espaçosa do que o poema. Gosto de complementar a palavra escrita com outras possibilidades de comunicação, dar-lhe voz, paisagem, textura, de modo a materializar de forma mais viva aquele momento inaugural em que a poesia aconteceu. Por isso, faço performance, crio videopoemas, podcast, e mantenho um trabalho de fusão da imagem com a palavra no instagram @caliboreaz. Minha casa virtual — assim chamo a este espaço, porque fui eu que o construí e eu que cuido — é caliboreaz.com EP: Sentiu diferenças no uso da palavra entre o Brasil em Portugal? Não só de quem a quer agrilhoar , como quem a quer libertar?... CB: Há um pensamento que me acompanha: Portugal é a poesia e o Brasil a licença poética. Isto pode ser uma metáfora ou não. Sinto o Brasil como uma expansão da língua — e isso certamente influenciou a minha escrita, na forma e no conteúdo (que na poesia se confundem). EP: O Brasil é mais aberto a novas abordagens da palavra? Ou o cânone, ou melhor, o “literariamente correcto “ também é autoreferencial? CB: Acredito que sim. Ao ganhar mais espaço, mais veículos, a língua galga outros caminhos, alcança outros ângulos. “Literariamente correto” é uma expressão sem sentido para mim. Se é literário não pode ser correto. A literatura só acontece a partir de alguma subversão. EP: Existirá alguma palavra jamais escutada , ou seja, algum sentimento ou estado de alma por descobrir, ou estaremos presos sempre aos limites das línguas/linguagens conhecidas? CB: Deixo um texto do meu próximo livro, que parece ter sido escrito em resposta a esta pergunta: em russo, há uma palavra específica para o afeto que se tem por alguém que se amou. em tcheco, há uma palavra para um certo tipo de angústia diante da própria mediocridade ou falta de habilidade (lembro de kundera falar dele). na escócia, parece que há uma palavra para o tique do lábio superior que indica a antecipação da alegria. em albanês, há alegres 17 e 27 palavras respectivamente para sobrancelhas e bigodes. em romeno, há sei lá quantas que significam, todas elas, neve, mas cada uma para especificar um certo tipo de neve, que por aqui (ao sol marinheiro da língua portuguesa) não distinguimos por desnecessidade. e se o russo olha para o amor antigo, veja bem: o japonês inventou uma palavra para um sentimento de pré-amor. em yagan, idioma indígena falado por um povo da tierra del fuego, mamihlapinatapai é aquele olhar trocado por duas pessoas quando ambas querem que a outra tome a iniciativa de fazer algo que ambas sabem que querem mas. mas: o que é a coisa menos a palavra? a palavra menos a língua? isso que se percebe num repente e não tem esqueleto nem contorno para apoiar sua existência — não existindo, pode ainda resistir? se a língua nos funda a humanidade, e se há quem saiba que neve não é simplesmente neve, como amor não é simplesmente amor, assim como a saudade não é só uma falta, e calunga não é só saudade mas também abismo e deus... como posso eu dizer algo agora daqui de onde estou? EP: Muito obrigado, Cali. Para começar a navegar no blog, reparti o todo em partes de um dos melhores blogs a nível nacional. Um blog discreto, simples e sem pretensiosismos.
O cinema, a filosofia, a história e a política são temas das ditas ciências sociais que Arnaldo Mesquita desbravava numa varanda virada para o Tejo Uma palavra de admiração para os outros escribas, Artur Guilherme Carvalho, Sofia Pinto Coellho, Hélder Martins e J.P.Matos que nos brindam com excelentes textos e fotos. As partes do todo tem inserido um contador com o número de visitas. Para mim, modesto leitor, o blog “ as partes do todo” é um edifício, uma arquitectura de elegância e sensatez , que contemplo com prazer. Podia ser o porteiro deste edifício, mas o contador vai registando as visitas…Eis o tempo a abençoar o espaço…Não importa quem entra, importa quem sai , no anonimato, mais enriquecido ou aconchegado... Mas voltemos a Mesquita, que tem o dom de sintetizar o pensamento com critério fino e bom gosto sustentado pela sua acutilância crítica, obtendo reflexões poderosas sobre o ser e o modo de ser. Tem o pendor enciclopédico dos iluministas e, muitas vezes, consegue dissipar as nuvens que pairam sobre o incognoscível e o inaudito,sem nunca perder o céu do abismo,do mistério e do absurdo da nossa existência;seja por inoperacionalidade das nossas fracas estruturas cerebrais, seja na teimosia do mundo em não nós dar sinais definitivos sobre o sentido da vida. A história e a política são temas que Mesquita sujeita ao garrote ideológico. Os eventos históricos e políticos incomodam-nos, mas têm a tendência a repetirem-se nas mesmas estruturas de poder com subtis variantes ao longo dos séculos. Mas Mesquita ,com ironia, vai desmontando os sofismos e retóricas da contemporaneidade. Resta-nos a arte como consolo ou como instância reveladora das perplexidades que nos assolam com o mesmo carinho que o martelo tem pela bigorna. Arnaldo liga elementos do século XX , época de afirmação da ´sétima arte com conceitos intemporais , de matriz ocidental e com incursões nos clássicos. Mesquita conduz-nos para as suas veredas conceptuais, onde se sente mais confortável, e nós , quando o guia é bom, deixamos, conscientemente, que ele o faça … ora desmonta um conceito manhoso ou de difícil domesticação, mostra um símbolo poderoso e deixa em aberto muitos significados, que as palavras são sempre muito parcas face aos limites da linguagem. Quem sabe se Arnaldo Mesquita não inventa um código novo já que as línguas ancestrais tendem a desaparecer… Talvez não haja respostas para tudo, cabe a nós continuar a fazer perguntas, porque somos, invariavelmente, partes de um todo… João Nuno Teixeira , porteiro como uma estante (www.jonbagt.com) Remissão para as intervenções de Arnaldo Mesquita – “ As partes do todo”- http://aspartesdotodo.blogspot.com/ ( cfr: etiquetas cinema, filosofia, história e política) |
AutorJon Bagt Categorias
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