A ESTANTE DO PORTEIRO
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Infinitamente pequeno e Infinitamente grande

12/6/2019

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  Do ponto de vista objectivo ,o nada é o que mais nos constitui , uma falácia orgânica entre matéria e antimatéria, conceitos estranhos  e esmagados pelo vórtice da banalidade .... Outras velocidades, bem mais interessantes , são testadas nos laboratórios em Genebra. Depois  Large Hadron Collider (LHC) , um novo projecto no âmbito da mecânica quântica pretende ir mais fundo, o future circular coliider (FCC)- um túnel de 100 km que circunda Genebra, que usará o LHC de 27 km como uma rampa de lançamento.

  Todavia, uma vez que o homem , na sua absurda ganância e incomensurável vaidade, gosta de coisas grandes , nada como estar atento ao Telescópio Espacial James Webb cujo o lançamento está previsto para 2021 e que sondará o universo à escala macro , nomeadamente exoplanetas que através do seu rasto de luz poderão deixar uma espécie de "código de barras " que , em tese, serão lidas pelo telescópio.

  A viagem nunca é o destino, sobretudo, quando o sentido não é dado, mas indiciado. Pelo que resta o consolo de ler a morte de Virgílio , que deambulando pela Divina Comédia de Dante, guarda o seu manuscrito inacabado , Eneida, nos ataúdes espaciais de Hermann Broch, onde as fronteiras se esbatem e a matéria e antimatéria são faces da mesma moeda...
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Analfabetismos ....

11/30/2019

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Frederic Ballell, "Casas de escriba" perto do palácio virreina, em Barcelona, por volta de 1908.( consta que daqui a uns anos face aos índices alarmantes de falta de leitura devido às grilhetas do Mr Smart Phone, voltarão a existir destas casas , pois as pessoas vão deixar de saber interpretar o que lêem e vão escrever sem saber que cabeça lhes ditou as letras...e ainda com o declínio da caligrafia...) (Estas "pequenas casas" eram onde os escribas trabalhavam. As pessoas que não sabiam ler e escrever iam buscar as suas cartas l, que , posteriormente eram lidas em voz alta- agora é a assistente do Google que lê o que está escrito nos ecrãs da "modernidade de lítio..." )
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Inconsciente Colectivo

11/30/2019

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Foto de Cartier- Bresson
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O MUNDO DAS " MEIAS - VERDADES"

11/30/2019

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Hannah Arendt e Theodor Adorno foram severos críticos dos totalitarismos. Verificamos que hoje o mundo está infestado de meias verdades, meias mentiras. Ou seja, um segmento das notícias não são completamente falsas. E aqui o isco dos regimes "alegadamente democráticos" apanha os” peixinhos” que são os usuários das app., dos media 3.0 e afins , incapazes de usar a razão crítica e anestesiados no acontecimento loop ou no epifenómeno digital . Ou seja, os divulgadores das meias notícias falsas, pegam sempre pelo lado verdadeiro. É como o copo meio cheio e meio vazio.
Os fenómenos e os factos são complexos como Edgar Morin já dissecou na sua extensa obra. Mas os cidadãos começam a adoptar este discurso das meias verdades /meias mentiras no espaço e esfera pública. O império do “ fake” tem muitos rostos e a desresponsabilização moral das massas legitima os novos ditadores. Não se trata de liberalismo, trata-se de totalitarismo maquilhado.
Sem uma imprensa livre e que nos forneça os dois lados da história, os factos em si,a tentação das meias verdades cairá sob o reino do fingimento e da indiferença em que se tornaram as relações sociais sob o manto da cibercultura e da tão desejada”lambidela de umbigo” proporcionada pelas app…
Fiquem com as sábias palavras de Hannah Arendt antes que fiquemos todos com os olhos em bico ou com fartas cabeleiras alouradas ou bigodes estilosos…
“…Lies, by their very nature, have to be changed, and a lying government has constantly to rewrite its own history. On the receiving end you get not only one lie—a lie which you could go on for the rest of your days—but you get a great number of lies, depending on how the political wind blows…”
“…The moment we no longer have a free press, anything can happen. What makes it possible for a totalitarian or any other dictatorship to rule is that people are not informed; how can you have an opinion if you are not informed? If everybody always lies to you, the consequence is not that you believe the lies, but rather that nobody believes anything any longer. This is because lies, by their very nature, have to be changed, and a lying government has constantly to rewrite its own history. On the receiving end you get not only one lie—a lie which you could go on for the rest of your days—but you get a great number of lies, depending on how the political wind blows. And a people that no longer can believe anything cannot make up its mind. It is deprived not only of its capacity to act but also of its capacity to think and to judge. And with such a people you can then do what you please…”
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Posto de Escuta

11/30/2019

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​Os “Talking Heads” foram uma das bandas mais influentes do último quartel do século passado. David Byrne, Chris Frantz, Tina Weymouth conheceram-se na Rhode Island School of Design no início dos anos 70. Mais tarde junta-se Jerry Harrison.A guitarra melódica , as batidas , o timbre de Byrne , a fusão de estilos de funk, pop, afrobeat e electrónica tornam as canções destas “cabeças falantes”muito policromáticas e cheias de vitalidade. Brian Eno entra em cena no apogeu da banda . Produtor que para além da carreira a solo, já tinha participado com os Roxy Music e que ainda trabalhou com Bowie , U2 entre outros músicos e bandas. O álbum More Songs About Buildings and Food de 1978 é extraordinário e inclui a mítica música take me to the river. Após anos de actividade, a banda termina em 1991, mas deixa um rasto de bom gosto na sua construção musical e estética.
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Posto de Escuta

11/30/2019

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Posto de Escuta.

11/28/2019

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CONVERSA COM CALI BOREAZ

11/28/2019

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Fotografia de Júlia Bicalho Mendes
​Cali Boreaz (CB) é escritora e artista polivalente. A conversa que se segue resulta de um generoso contributo que deu à Estante do Porteiro (EP).
 
EP: Como surgiu o gosto pela literatura?
CB: Havia uma inclinação natural minha para ler, escrever... Uma atração constante pelos livros dos meus pais, pelos do meu avô. Lia tudo. E comecei a escrever diário e poemas desde os 6, 7 anos. Lá pelos 12 anos, o meu avô, que foi marinheiro e passou anos de insônia nas bibliotecas dos navios, introduziu-me no universo de Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco. A partir daí não teve mais volta.
 
EP: Quais os projectos que neste momento está envolvida?
CB: Neste momento, estou preparando a edição do meu segundo livro de poesia e a realização de uma peça de teatro que escrevi como adaptação do romance Karen, de Ana Teresa Pereira, vencedor do Prêmio Oceanos 2017.
 
EP: O seu instrumento de trabalho é a palavra, mas usa-a em diferentes plataformas multimédia? Que efeito a transfiguração da palavra tem na busca de novos sentidos e horizontes?
CB: A poesia é anterior ao poema e é mais espaçosa do que o poema. Gosto de complementar a palavra escrita com outras possibilidades de comunicação, dar-lhe voz, paisagem, textura, de modo a materializar de forma mais viva aquele momento inaugural em que a poesia aconteceu. Por isso, faço performance, crio videopoemas, podcast, e mantenho um trabalho de fusão da imagem com a palavra no instagram @caliboreaz. Minha casa virtual — assim chamo a este espaço, porque fui eu que o construí e eu que cuido — é caliboreaz.com
 
EP: Sentiu diferenças no uso da palavra entre o Brasil em Portugal? Não só de quem a quer agrilhoar , como quem a quer libertar?...
CB: Há um pensamento que me acompanha: Portugal é a poesia e o Brasil a licença poética. Isto pode ser uma metáfora ou não. Sinto o Brasil como uma expansão da língua — e isso certamente influenciou a minha escrita, na forma e no conteúdo (que na poesia se confundem).
 
EP:  O Brasil é mais aberto a novas abordagens da palavra? Ou o cânone, ou melhor, o “literariamente correcto “ também é autoreferencial?
CB: Acredito que sim. Ao ganhar mais espaço, mais veículos, a língua galga outros caminhos, alcança outros ângulos. “Literariamente correto” é uma expressão sem sentido para mim. Se é literário não pode ser correto. A literatura só acontece a partir de alguma subversão.
 
EP: Existirá alguma palavra jamais escutada , ou seja, algum sentimento ou estado de alma por descobrir, ou estaremos presos sempre aos limites das línguas/linguagens conhecidas?
CB: Deixo um texto do meu próximo livro, que parece ter sido escrito em resposta a esta pergunta:
em russo, há uma palavra específica para o afeto que se tem por alguém que se amou. em tcheco, há uma palavra para um certo tipo de angústia diante da própria mediocridade ou falta de habilidade (lembro de kundera falar dele). na escócia, parece que há uma palavra para o tique do lábio superior que indica a antecipação da alegria. em albanês, há alegres 17 e 27 palavras respectivamente para sobrancelhas e bigodes. em romeno, há sei lá quantas que significam, todas elas, neve, mas cada uma para especificar um certo tipo de neve, que por aqui (ao sol marinheiro da língua portuguesa) não distinguimos por desnecessidade. e se o russo olha para o amor antigo, veja bem: o japonês inventou uma palavra para um sentimento de pré-amor. em yagan, idioma indígena falado por um povo da tierra del fuego, mamihlapinatapai é aquele olhar trocado por duas pessoas quando ambas querem que a outra tome a iniciativa de fazer algo que ambas sabem que querem mas.
 
mas: o que é a coisa menos a palavra? a palavra menos a língua? isso que se percebe num repente e não tem esqueleto nem contorno para apoiar sua existência — não existindo, pode ainda resistir? se a língua nos funda a humanidade, e se há quem saiba que neve não é simplesmente neve, como amor não é simplesmente amor, assim como a saudade não é só uma falta, e calunga não é só saudade mas também abismo e deus... como posso eu
 
dizer algo agora daqui de onde estou?
 
 
EP: Muito obrigado, Cali.
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ARNALDO MESQUITA - UM ESCRIBA INTEMPORAL.

11/17/2019

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         Para começar a navegar no blog, reparti o todo em partes de um dos melhores blogs a nível nacional. Um blog discreto, simples e sem pretensiosismos.

     O cinema, a filosofia, a história e a política são temas das ditas ciências sociais que Arnaldo  Mesquita desbravava numa varanda virada para o Tejo  Uma palavra de admiração para os outros escribas, Artur Guilherme Carvalho, Sofia Pinto Coellho, Hélder Martins e J.P.Matos que nos brindam com excelentes textos e fotos.

       As partes do todo tem inserido um contador com o número de visitas. Para mim, modesto leitor, o blog “ as partes do todo” é um edifício, uma arquitectura de elegância e sensatez , que contemplo com prazer. Podia ser o porteiro deste edifício, mas o contador vai registando as visitas…Eis o tempo a abençoar o espaço…Não importa quem entra, importa quem sai , no anonimato, mais enriquecido ou aconchegado...

          Mas voltemos a Mesquita, que tem o dom de sintetizar o pensamento com critério fino  e bom gosto sustentado pela sua acutilância crítica, obtendo reflexões poderosas sobre o ser e o modo de ser. Tem o pendor enciclopédico dos iluministas e, muitas vezes, consegue dissipar as nuvens que pairam sobre o incognoscível e o inaudito,sem nunca perder o céu do abismo,do mistério e do absurdo da nossa existência;seja por inoperacionalidade das nossas fracas estruturas cerebrais, seja na teimosia do mundo em não nós dar sinais definitivos sobre o sentido da vida.

         A história e a política são temas que Mesquita sujeita ao garrote ideológico. Os eventos históricos e políticos incomodam-nos, mas têm a tendência a repetirem-se nas mesmas estruturas de poder com subtis variantes ao longo dos séculos.  Mas Mesquita ,com ironia, vai desmontando os sofismos e retóricas  da contemporaneidade.

      Resta-nos a arte como consolo ou como instância reveladora das perplexidades que  nos assolam com o  mesmo carinho que o  martelo tem pela bigorna. Arnaldo liga elementos do século XX , época de  afirmação da ´sétima arte com conceitos intemporais , de matriz ocidental e com incursões nos clássicos.

     Mesquita conduz-nos para as suas veredas conceptuais, onde se sente mais confortável, e nós , quando o guia é bom, deixamos, conscientemente, que ele o faça … ora desmonta um conceito manhoso ou de difícil domesticação, mostra um símbolo poderoso e deixa em aberto muitos significados, que as palavras são sempre muito parcas face aos limites da linguagem. Quem sabe se Arnaldo Mesquita não inventa um código novo já que as línguas ancestrais tendem a desaparecer…

 Talvez não haja respostas para tudo, cabe a nós continuar a fazer perguntas, porque somos, invariavelmente, partes de um todo…
 
                        João  Nuno Teixeira , porteiro como uma estante (www.jonbagt.com)
 
Remissão para as intervenções de Arnaldo Mesquita – “ As partes do todo”- http://aspartesdotodo.blogspot.com/   ( cfr: etiquetas cinema, filosofia, história e política)



 

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Via Láctea

10/30/2019

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Fonte : Nasa
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Nuvens de Júpiter

10/30/2019

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Fonte: Nasa
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Tecnologia e Solidão - Esculturas de Doug Aitken

10/30/2019

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Pontos de Venda de 1450 cm3 -João Nuno Teixeira

9/3/2019

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1450 cm3 disponível na secção novidades das livrarias Snob(Lisboa) , Flâneur (Porto) e Officina Noctua (Amarante)

Eis os endereços para quem quiser obter o livro:

http://www.livrariasnob.pt/product/1450cm e https://www.flaneur.pt/produto/1450cm3/
https://officinanoctua.pt/produto/1450cm3/
Ou visitar as livrarias físicas da Snob , da Flâneur e da Officina Noctua onde podem " sentir" o livro...
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Cabeças na Lua...

7/27/2019

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Novos horizontes para problemas climáticos

7/27/2019

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Uma equipa de designers liderada por Faris Rajak Kotahatuhaha propõe o congelamento da água do mar no Ártico para criar icebergs modulares em miniatura usando um navio submarino, numa tentativa de combater as alterações climáticas
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Édouard-Léon Scott e a primeira gravação em 1860...

7/18/2019

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" Carta de marear do livro 1450 cm3"

6/23/2019

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( Quem quiser adquirir o livro , envie mensagem privada para o porteiro desta estante no item contactos no menu superior)

1450 cm3 é o volume médio do cérebro humano. 1450 cm3 é um livro que não sendo um livro, parece-o 
1450 cm3 reflecte a ambivalência do Homem entre a procura da perfeição e o reconhecimento da imperfeição, entre o desenvolvimento genético e a estagnação do progresso mental. 

1450 cm3 não segue uma lógica linear. As narrativas no cérebro movimentam-se em hipertexto como as páginas da world wide web. No entanto, o cérebro é demasiado complexo para funcionar em código binário. Cada palavra é uma janela aberta para muitos mundos, sobretudo, nesta era digital.

O cérebro precisa de histórias,alimenta-se de utopias e o mundo ordena-se,aos solavancos, em distopias, muitas das quais , no alvor do terceiro milénio, ainda estão por vir. 
​
O que passa pela cabeça não existe, mas aquilo que o mundo é ou vai sendo , passou pela cabeça de alguém.

Jon Bagt
​
( Autoria e Edição: João Nuno Teixeira, Capa: Officina Noctua)
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CONVERSA COM JOANA BÉRTHOLO

4/24/2019

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Foto de Vitorino Coragem
​Joana Bértholo (JB) é escritora e dramaturga. A conversa que se segue resultou de um generoso contributo que deu à Estante do Porteiro (EP).
 
EP: A lógica do eco implica a replicação de um padrão e, no limite, a distorção dos significados?
JB: Não tinha em mente a distorção de significados mas sim a propagação da voz, e tudo aquilo que repetimos ou perpetuamos sem saber porquê. Primeiro soube que queria falar de ecologia, pois isso é o que sempre aparece quando me sento para escrever. Que há eco em ecologia, é uma evidência. Por outro lado, demoro muito tempo a construir mapas de ligações entre coisas que não estão obviamente ligadas, mas sabia que a ninfa e Narciso estavam no livro. Aquelas páginas do Metamorfoses já têm tudo! Há o fascínio dele pela sua própria imagem, a forma como ela é condenada a ecoar tudo o que ouve, mas sobretudo atraiu-me aquela forma de descrever a rejeição, em que não há nada senão o discurso dele. Depois de ser rejeitada por Narciso o corpo de Eco definha, até não restar nada senão a voz. Achei que o «Ecologia» podia ser só isto, é tremendo! Mais tarde compareceu à escrita uma solução formal, aqueles títulos que são eles próprios eco de outras partes do texto. Agarrei isso porque me fazia sentir que as palavras andavam em ricochete no espaço do romance. Finalmente, assumi que todas estas coisas estavam no mapa e de alguma forma interligadas e, chegando à recta final do livro, apareceram os cadernos de estudo dos ecos. Era uma síntese disto tudo. 
 
EP: Nem a imagem vale mil palavras face ao empobrecimento do léxico?
JB: A imagem para mim é outra forma de texto. Não vale mais palavras nem menos palavras, é outra coisa. Palavra e imagem complementam-se, expandem-se, anulam-se, digladiam-se ou casam-se, depende, mas estão em relação. Talvez por isso nunca resisto em ter imagens nos meus romances, porque essa relação me fascina, sempre me fascinou. Às vezes olho para imagens como se fossem palavras alinhadas numa frase, e às vezes tento ler um poema e só vejo uma imagem. 
Sobre o empobrecimento do léxico, não sei se o tenho como pressuposto. O que me interessou foi a maleabilidade das linguagens. Qualquer idioma está em permanente mutação, todos os dias morre uma palavra, todos os dias deve nascer uma palavra nova. Qualquer idioma é corrompido e enaltecido constantemente no linguajar de uma criança, de um estrangeiro – ou de um poeta, para esse efeito. Não sei se isso tudo resulta necessariamente num empobrecimento. É um estar sempre em jogo, e é bonito que o seja. Como em qualquer jogo, às vezes questionam-se as regras. Ou seja, mais do que um afunilamento das linguagens, o que vejo é um afunilamento das ideias, uma perversa monocultura da mente que espelha (ou é espelho de?) a monocultura empresarial – e voltamos ao mercado. 
 
EP: Pagar para falar?  Pagar para respirar?
JB: Para existir, para ter voz, para pisar essa areia, para mergulhar nesse mar. O mito do crescimento ilimitado, como forma do mundo querer ser, precisa que o mercado gere e invente novos mercados, e se aproprie de lugares que até ali não eram vistos como mercado. Falar, respirar... o que este livro pergunta é se ainda existe alguma coisa para lá dos limites do mercado.
 
EP: Mas mesmo que não se pague para falar, o que cada um diz já não tem um preço?  Um homem livre é um homem pobre e só?
JB: Oscar Wilde dizia que um cínico é aquele que sabe o preço de tudo mas não sabe o valor de nada. É uma excelente formulação, sobretudo se pensarmos nela agora, reflectida numa sociedade de mercado onde é possível atribuir um preço a tudo e a todos, pessoas, corpos, transações e tempo. As palavras têm valor, aliás, valores, plural; mesmo quando não têm um preço. E em paralelo a tudo isto (mas não independentemente) há um estado generalizado de depressão, que a meu ver resulta de uma grande confusão na esfera do valor, da atribuição de valor, do ordenamento das nossas prioridades de vida. O que eu quis com «Ecologia» foi justapor estas coisas, estas formas de sugerir valor, e relacioná-las. 
 
EP: O silêncio é a sexta feira negra das bolsas das linguagens? Interessa ao mercado que se promova a cacofonia e o psitacismo? Para criar medos, ansiedades, mecanismos de validação e imitação, para que homens e mulheres não saibam quem são e alguém fale por eles?
JB:  É um dos paradoxos do nosso tempo. Se por um lado não podemos nunca esquecer que o silêncio, o não ter voz, não ter representação, é como não ter agência, é não existir politicamente; por outro lado, a cacofonia e as plataformas falsamente democráticas são uma forma de nos exaurir, de nos distrair e nos desviar de uma mobilização efectiva. Pertinente (penso muito na pertinência). Andamos todos muito indignados, mas é uma indignação que não gera indign/ação, que não resulta em protesto, exigência, ocupação e mudança. E isso está ligado à forma como hoje cada um de nós chega a ter voz, e como escolhe usá-la. Está ligado às redes sociais - estamos cansados de o debater - mas também a narrativas que nos são incutidas na publicidade e outros instrumentos pró-consumo de que somos todos únicos e especiais e que tudo o quisermos é possível (desde que gere consumo, lá está). Felizmente existem outras coisas a acontecer: a greve climática estudantil, por exemplo, tem sido para mim uma imensa fonte de esperança. A 15 de Março estive com aqueles miúdos na rua e percebi que tudo aquilo passou por grupos de Facebook e de WhatsApp, mas que estes foram somente um meio. O fim cumpriu-se: estavam na rua, eram muitos, bem organizados, e a exigir aos adultos consciência e mudança. E ainda não pararam, soube outro dia que planeiam outra para 24 de Maio. A internet uniu-os e não os dispersou. É possível!
Mas voltando à contradição presente no livro: o silêncio é um instrumento de opressão, mas o seu oposto também. Além disso, o silêncio aparece no livro como forma de atenção consagrada ao que nos rodeia. Estamos tão ocupados a expressar que não podemos ouvir. É a ideia que se nos calássemos chegariam ao discurso alguns interlocutores novos. Não-humanos. 
 
EP: A pertinência de “Ecologia” resulta: “Só confiais no dinheiro? E se as palavras tivessem um preço?”  Haveria mais responsabilidade e consciência sobre o que se diz? Em caso de escassez, os povos comprariam mais dicionários? Estou a lembrar-me do recente caso da corrida dos Portugueses às bombas de gasolina…
JB: No livro também se enumeram as consequências positivas do mercado da linguagem. Alguns exemplos: as pessoas param para pensar no uso e valor da linguagem; dão um passo para fora de si próprias e apercebem-se que não são o que pensam, e como as palavras estão cerzidas ao tecido do nosso pensar; recuperam-se línguas mortas e artificiais; protegem-se idiomas em extinção. 
O exercício de dar valor ao que tomamos como garantido pode ser feito em relação a tudo no nosso quotidiano, da água potável que sai da torneira, ao «Bom Dia» que deixamos no café, à gasolina com que enchemos o tanque do carro. Num planeta com recursos finitos e alguns ameaçados, nunca é em vão fazer imaginar como seria se algumas destas coisas desaparecessem. Teria sido bom que tivéssemos aproveitado a greve e a corrida às bombas de gasolina para debatermos alternativas aos combustíveis fósseis, e a forma como a cidade está organizada em torno do carro. Na realidade, fomos sujeitos a 2 ou 3 dias de choque, e o facto de ter sido temporário fez com que a maioria não levasse aquilo a sério. No livro o choque é permanente, é uma mudança de paradigma. Mas o exercício de imaginação começa da mesma forma para os dois, ficção e realidade, temporário e permanente. 
 
EP: Ecologia é um fresco da contemporaneidade. Uma distopia em constante actualização como a versão de um programa de computador. A Joana teve uma imensa coragem e honestidade intelectual de ficcionar o estado geral de um mundo a caminhar para o abismo. É esse um dos papéis da escrita? Alertar para os abandonos, para as instrumentalizações e para a perda de um horizonte humano em que a comunicação tornou-se um luxo?
JB: É um dos papéis da escrita, pode ser. Aquilo que me motivou a escrever este livro esta bem explícito no seu título. Depois o livro tem diversas camadas, diferentes histórias de vida, múltiplas perspectivas. Não sou eu quem determina os alertas que ele contém, é o leitor. Eu olhei para o mundo à minha volta - e escrevi. 
 
EP: Orwell e Huxley reflectiram sobre o poder da palavra em algumas das suas obras. A Joana colocou-as a render. Há sempre uma ideologia para cada tempo? Um vocabulário para cada espaço de poder?
JB: Sim, ambos trabalharam a questão da linguagem ao serviço do poder e da ideologia. No livro falo um bocadinho da Novilingua de Orwell, mas há também o seu ensaio «Politics and the English Language» (de 1946) em que dá muitos exemplos da experiência quotidiana do inglês ao serviço dos interesses políticos de então. Esse também foi uma tema muito estudado no trauma póstumo do Holocausto, a forma como novas palavras e novas formas de falar geraram aquele perverso consenso. Aliás, é todo um capítulo de «Ecologia» que foi cortado. Há que confessar que eu passo mais tempo a cortar que a escrever. Muita coisa ficou de fora deste livro, uma delas foi a parte em que me debruçava nos diários de Victor Kemplerer. Este homem existiu, foi um judeu alemão que sobreviveu ao Holocausto graças a ser casado com Eva, ariana. Antes da ascensão Nazi era professor de Literatura e ao longo da guerra, manteve umas “Notas de um Filólogo” onde registava as mil formas como os Nazis se apropriaram do alemão e o puseram ao serviço da ideologia. É um trabalho espantoso. São coisas aparentemente simples, como as pessoas terem substituído a saudação “Guten Tag” por “Heil Hitler”... Simples, mas significativas. Depreciaram palavras como inteligência, cepticismo, ou ponderação, em favor de outras como crença, submissão, ataque, agressão... Dizer que alguém é um fanático (der Fanatiker) ou um seguidor (Gefolgschaft) era elogioso. O prefixo Groß-, de grande, era aplicado a tudo, assim como Volk- (povo, como no famoso Volkswagen, o carro do povo). Entre muitas outras ocorrências de engrandecimento, exacerbação e hipérbole. Estas ainda são fáceis de reconhecer hoje nos diferentes discursos políticos, a par com os eufemismos. Por exemplo, eu acho que «aquecimento global» nos serve muito pouco. É ameno e remete para férias de verão. Devíamos falar disto com um termo muito mais duro, muito mais catastrofista, muito mais urgente e assustador. A nossa linguagem quotidiana é um sem fim de eufemismos que mascaram os assuntos mais delicados. Aliás, fiz esse apanhado para o livro (p. 376).  
 
EP: A linguagem não é um disfarce para o estado geral de abandono afectivo a que as pessoas foram relegadas? Não como consumidores ou ególatras, mas como seres humanos dotados de sensibilidade e carentes de empatia?
JB: A questão da solidão é muito próxima a tudo isto que temos estado a discutir, e se calhar não é mais protagonista neste livro simplesmente porque já é um livro com tantos protagonistas. Mas está lá. Pelo menos está lá na medida em que eu penso muito nisso, no paradoxo desta híper-inter-ligação uns aos outros, que nos deixa afinal tão isolados. 
Vários estudos têm vindo a alertar para a forma como a vida mediada por ecrãs trunca o desenvolvimento da empatia e altera os ciclos de atenção. O instrumento muda a mão que o manipula, os ecrãs mudam a nossa forma de olhar, é um facto. Mas não esqueçamos: essas mudanças também trarão coisas boas. Vamos perder capacidades e ganhar outras. O que a mim me complica é a velocidade a que tudo isto acontece. Será que é possível um debate crítico e profundo acerca de todas estas novidades tecnológicas, se estamos sempre com o pé no acelerador, e avançamos com este espírito acrítico? Não se trata de abolir os instrumentos nem de deitar fora possibilidades, é só perceber se usamos os instrumentos ou se os instrumentos nos usam a nós. 
​

EP: Muito obrigado.
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Bowie

4/2/2019

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A  MEDICINA INTERNA NA OBRA DE ARTUR SANTOS

3/22/2019

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       O artista Artur Santos através de pinturas elaborados com a técnica de pastel seco sobre tela: desassossegos, a fobia do espaço em branco, nova ilusão, a mentira não está nas palavras, o giro secreto, os reinos escondidos e desassossego e de excertos de Bernardo Soares, Italo Calvino, Baudelaire entre outros torna a auscultação da alma, uma tarefa feita a bisturi espiritual...

      O corpo mantém-se, aparentemente, intacto, a alma vagueia nos seus espaços de vazio, ferida e ausência. No entanto, um rosto omnipresente, quase como um Orwelliano sedutor, interroga-nos. Quem somos nós? Que fazemos? Que mundividências carregamos e de que formas as mesmas moldam o nosso modo de ser e estar no mundo?

         As respostas cada um terá as suas. Mas a medicina interna feita pelo Artur através da sua pintura é ancestral. A cura para o que nos atormenta retira-se do veneno que nos quer matar. A não ser que nos tornemos máquinas automatizadas e inebriadas pelo vórtice da banalidade e mundanidade…
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          Cada quadro é uma cena de uma peça musical e a nossa vida um constante ensaio inacabado. Podia ser uma obra de Mussorgsky ou outro mestre russo fosse Shostakovich ou Stravinsky.

         Encontrar a forma perfeita é um exercício de inutilidade. Quem nos criou deitou o molde fora e todos nós procuramos esse momento de redenção, de encontrar o verdadeiro eu e o outro que possamos amar na mesma loucura inaugural que a morte nos libertará ou aprisionará para sempre…

      Enquanto não chega esse dia, que possamos ver nas telas de Artur, ícones heterodoxos de uma sociedade cibernética que não tem rosto ou que apenas conseguem ver uma única face…


Pinturas:

A Fobia do Espaço em Branco;
A Mentira Não Esta nas Palavras;
Desassossego;
Desassossegos;
Giro_Secreto;
Nova Ilusão;
Os Reinos Escondidos.
 
 
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Meu reino por uma salamandra

2/8/2019

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Há pouco tempo concretizei um sonho antigo: o de ter uma salamandra a lenha em casa.
A salamandra é em ferro forjado e tem uma grande janela em vidro, como se fora uma televisão dos anos 50. A lenha e o fogo são um mundo interminável, feito de conhecimento subtil e representam uma preciosa oportunidade de meditação silenciosa.

Encomendei meia tonelada de lenha, que o nosso fornecedor nos entregou, explicando que acompanha todo o processo, sendo ele próprio a fazer o abate e o posterior corte da madeira. Tal serve por dizer que ele ainda conheceu todos aqueles toros, ramos e lascas quando ainda eram árvores vivas e inteiriças. Ele explicou-me as características de cada um dos tipos de madeira, falando-me, quase poeticamente, sobre o aroma, a chama, o calor e as cinzas. No essencial, retive que não se pode querer tudo. Se queremos um delírio flamejante, não teremos tanto tempo de calor; se queremos perene calor, será difícil não arcar com as cinzas abundantes.

Ainda antes de acender a salamandra pela primeira vez, detive-me a simplesmente olhar aquele muro de lenha impecavelmente empilhado e ordenado, no seu improvável e frágil equilíbrio, apreciando a alternância do carvalho com a oliveira. Apercebi-me de que aquela poderia ser uma síntese das duas paisagens-matriz da minha vida: a de Trás-os-Montes e a do Alentejo.

Acender o lume, mesmo com a abundância de tecnologia de hoje, ainda é um desafio e um ritual quase alquímico. Aprecio, em especial, o quanto o fogo respeita as hierarquias, como se fora um exército napoleónico: começa em lascas, pico, pequenos ramos e pinhas, de onde se propaga a ripas, nobres troncos e toros. A final, tudo se mistura em braseiro e acaba por fundir em cinza, já não sendo possível compreender onde começou o fogo. Há uma profunda justeza nesse desfecho total, sem tréguas nem ambiguidades. Poucas coisas são tão limpas como a cinza. E como não adorar a sua textura leve e quase diáfana?

Passo horas a fio a simplesmente fitar o fogo, como se tratasse sempre de uma narrativa única e irrepetível. Aquele fogo pode ser um império, uma relação, uma existência, uma vertigem ou uma morte. Gosto de compreender porque é que alguns pedaços de madeira tardam a arder ou enjeitam mesmo as chamas. Cedo me apercebi de que os cavacos pegam fogo entre si quando faceados pelo lado do golpe. O que significa que se unem pela chama do mesmo modo que o fazem após as enxertias. Enquanto espreito as labaredas, os tons, os cambiantes de luz e de cor, projecto-as na vida, na minha e na dos meus, bem como no mundo que me rodeia. E, de certo modo, tudo me parece um pouco mais natural, límpido e apaziguado. Talvez seja por isso que, desde antanho, o homem fita o fogo, como se fora a primeira vez.
Quando acendo o fogo e me aqueço, eu sinto-me mais rente a tudo e mais despojado de excessos. E reconheço a verdade no verso da canção dos Pink Floyd:
​
“When I come home, cold and tired, It´s good to warm my bones beside the fire”.  


Carlos Miguel Rebocho
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A Cor da Romã (Sergei Parajanov, 1968)

2/6/2019

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Último Slow de Rui Catalão - Ensaios

2/6/2019

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Imagem
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS : ALÍPIO PADILHA
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CONVERSA COM RUI CATALÃO

2/6/2019

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Rui Catalão (RC) é actor, dramaturgo e encenador. A conversa que se segue resultou de um generoso contributo que deu à Estante do Porteiro (EP).
 
EP: Qual o momento fundador em que descobriu que queria seguir as artes de palco?

RC: Foi quando comecei a trabalhar com o João Fiadeiro em 1999. Ele na altura estava a desenvolver uma metodologia de trabalho, a composição em tempo real, e fiquei fascinado com essa ferramenta. Não se tratava de preparar algo para depois representar, mas de criar as condições para fazer uma pesquisa em palco, à frente do público. Na primeira peça em que trabalhámos juntos, “O que eu sou não fui sozinho”, ele convidou-me para o apoiar na dramaturgia, mas acabei por entrar em palco. Tudo partia de uma conversa informal, em que eu explorava as minhas memórias, e as coisas que partilhava com o público não eram preparadas, aconteciam ao vivo, em tempo real. O próprio exercício da tomada de consciência acontecia em palco, já durante os espectáculos, e a partir daí exploravam-se áreas ainda mais estranhas, como o processo do inconsciente a levar-nos por caminhos em que eu nem fora do palco alguma vez me atrevi a ir. Para mim foi uma experiência perturbadora e surpreendente, mas que ao mesmo tempo me deixou muito curioso. Havia uma série de dimensões da minha psique, do meu corpo, da consciência ou falta dela que tinha da minha identidade e da minha imagem que eu desconhecia e que, em palco, perante um público, vinham à superfície. Durante esses três anos em que trabalhei com o Fiadeiro, fui convidado para trabalhar com um bailarino romeno, Manuel Pelmus. Trabalhei com ele e os seus bailarinos em Viena, Bucareste e Paris. Depois, quando voltei, fui convidado por outro coreógrafo, o Miguel Pereira. Então apercebi-me que estava a criar um enorme caixote do lixo de ideias que não estavam a ser exploradas. Foi quando decidi reciclar essas ideias e comecei a fazer o meu próprio trabalho.

EP:Algum actor, realizador ou dramaturgo que o tenham influenciado no seu percurso criativo?

RC: Inicialmente foi mesmo só o Fiadeiro. Mas depois comecei a pensar como abordar o meu teatro.Tinha a ideia de que a principal matéria era para ser trabalhada ao vivo, recorrendo à memória do momento, ao instinto, à relação de partilha com o público, e como é que as pessoas muito concretas que estão à tua frente te vão condicionando. Mas isso tinha de ser preparado na mesma. Comecei então a estudar, de forma mais analítica, alguns artistas que sempre admirei:o trabalho de Kiarostami, na forma como manipula actores e não actores, dirigindo-os já à frente da câmara; o filme de Victor Erice “O sol do Marmeleiro”, sobre o pintor Antonio Lopez, e a forma como ele tenta acompanhar no processo de pintura o crescimento da árvore que lhe serve de modelo; os filmes de Ozu, por se concentrar no mesmo universo de personagens de subúrbio das minhas histórias;Nabokov e Proust, pelo trabalho sobre a memória a partir de associações e acasos; Mizoguchi, pela forma como explorava dramaticamente a composição cénica, as movimentações e a gestualidade no espaço; Pedro Cabrita Reis, pelo uso de materiais disponíveis, que se encontram ao acaso nos locais de trabalho, e que são reciclados para a cena. Finalmente, de todos os mais importantes: John Coltrane, Charles Mingus e Eric Dolphy. Partindo de frases muito simples, quase elementares, eles improvisam depois, explorando soluções formais, a memória da sua relação com a história da música, mas também a ideia de uma “escrita” que vive da espontaneidade do momento, e que também desenvolve os seus próprios temas, motivos, padrões, digressões, etc. Em cada trabalho concentro-me num diálogo com outros artistas e linguagens, mas seria saturante mencioná-los a todos.

EP: Quais os projectos que neste momento está a trabalhar? E quais aqueles que mais gostou de criar e /ou participar?

RC: estou agora a preparar um monólogo com o Joãozinho da Costa, um intérprete com quem venho trabalhando há perto de 4 anos e que já entrou em outras quatro peças que fiz. Será um solo baseado nas suas experiências de vida, e em que eu lhe proponho a criação de frases coreográficas a partir de temas de jazz, nomeadamente do “Giant steps”, do Coltrane. O Joãozinho também deu passos gigantes. Primeiro porque é muito alto, tem quase 2 metros, e depois porque vem de muito longe, nasceu na Guiné, e já fez muitas coisas.
As minhas peças partem sempre de motivações muito pessoais, e por isso são todas especiais para mim. Mas o solo “Dentro das palavras” (2010) foi a peça em que eu descobri o meu teatro, o meu estilo, as minhas ideias e caprichos. No que respeita a colaborações com outros artistas, recordo sempre com muito carinho “Untitled/Still Life”, com a Ana Borralho, o João Galante e o Cláudio da Silva. Esse trabalho resulta de uma herança de termos trabalhado juntos no “Existência” (2002), com o Fiadeiro, e é assim a nossa versão a 4 da composição em tempo real. É uma peça em que os intérpretes estão - como dizê-lo? - camuflados entre o público, e vão convidando as pessoas para uma sessão de fotografia. O espectáculo é a criação de um álbum de família, já que tudo o que vai acontecendo nos permite criar uma relação de proximidade com os espectadores.

EP: Como diagnostica o panorama das artes em Portugal?

RC: Não posso fazer um diagnóstico porque só consigo acompanhar algumas coisas, muito poucas. O meu trabalho absorve-me cada vez mais e não tenho uma perspectiva geral do que se passa à minha volta, que é muito. Sinto talvez que há demasiadas propostas para o público que existe, e para os recursos disponíveis. Há demasiados trabalhos a serem apresentados uma vez e depois a desaparecerem, sem que haja um público, um discurso crítico a fazer a sua digestão. A ter condições para avaliá-lo. Chegou se calhar a altura de as cidades investirem mais na manutenção e recuperação dos equipamentos existentes, e em financiarem programas que promovam não apenas a apresentação de espectáculos, mas também uma relação mais orgânica com o público, que envolva formação e participação em projectos artísticos. A sociedade moderna depende cada vez mais de soluções criativas, e isso não é um talento inato, é mesmo uma prática que se desenvolve, é um modo de nos relacionarmos com os problemas e oportunidades que se nos apresentam.
​

EP: Muito obrigado, Rui.
 
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H2O: Ralph Steiner's classic 1929 ode to water

2/2/2019

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A meditative cinepoem from 1929 captures the reflective, ethereal wonders of water The US photographer and filmmaker Ralph Steiner (1899-1986) is widely considered to be a pioneer of both media, celebrated for his century-spanning work in modernist photography and documentary and avant-garde film. H₂O (1929), his debut short and one of the earliest US art films, is a meditative, visual ode to water in its many forms, focused on the liquid’s various textures and shape-distorting reflective qualities. In a series of static yet dynamic shots, water-spewing pipes and fire hydrants, waterfalls, raindrops, slow-flowing streams, and the shimmering surfaces of near-stagnant bodies appear on screen, with the visuals gradually becoming more abstract as Steiner transitions to closeups of water surfaces. This version of the film features a new original piano score from the Illinois-based composer William Pearson, commissioned by Aeon. H₂O is frequently mentioned alongside another documentary touchstone of the same year: Regen, by the Dutch directors Joris Ivens and Mannus Franken, which celebrates Amsterdam in the rain. Director: Ralph Steiner Composer: William Pearson
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