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CONVERSA COM FERNANDO BESSA

12/30/2022

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Fernando Bessa (FB) é Coronel da Guarda Nacional Republicana e Sociólogo. A conversa que se segue resulta de um generoso contributo que deu à Estante do Porteiro (EP).
 
EP: O livro de “Trás-os-Montes a Angola, trajetórias (im)prováveis “mistura crónica e autobiografia”. Como surgiu a ideia de escrever este testemunho histórico?
FB: É uma crónica que naturalmente também se assume como autobiografia, embora a ideia original não fosse essa! Só com a adoção deste formato misto poderia relatar, na primeira pessoa, todas as estórias reais que constituem o livro, de proporcionar ao leitor a possibilidade de navegar e de se identificar ou não com o testemunho pessoal que aborda uma época de transição na sociedade portuguesa.
A ideia de trazer à luz um livro como este já me perseguia há bastante tempo, mas condicionalismos diversos não me permitiram fazê-lo! Sempre considerei como um dever deixar testemunhos escritos às gerações que nos precedem para que melhor possam percecionar e compreender as nossas vivências e os nossos modos de vida.
Por vezes, sei que não é fácil transmitir testemunhos que descrevem, o mais fiel possível, as vivências de uma geração, mas existiu, da minha parte, essa preocupação durante toda a elaboração do livro que, diga-se, me deu muito prazer em escrever, desejando que os leitores também tenham sentido esse prazer ao lê-lo.
 
EP:  Da leitura do livro resulta para o leitor uma tenaz disciplina, persistência e foco nos objetivos. Estas características da vida militar são também essenciais na vida civil, na organização mental do indivíduo e no fortalecimento de uma comunidade? Algum segredo que nos queira revelar para essa” estabilidade de nervos em qualquer circunstância” quase como o ferro e aço forjado num fogo criador único?
FB: Considero que essas caraterísticas/qualidades são essenciais em qualquer momento da vida de todas as pessoas. Elas são a diferença entre o fracasso e o sucesso, mas, acima de tudo, elas também são a força interior que nos mantém ativos e resilientes nos momentos de fracasso.
Creio que a forja e o ferreiro responsáveis por essa estabilidade em “qualquer circunstância” foram, respetivamente, a dura juventude vivida em Trás-os-Montes e a exigente educação, às vezes espartana, a que o meu falecido pai me sujeitou. Foram a água e o fogo que forjaram o que hoje sou e de que muito me orgulho. Não há assim nenhum segredo! Estou certo de que esta foi a tempera aplicada a muitos dos então jovens transmontanos.
 
EP:  As origens transmontanas também foram importantes nesse estilo de vida, na superação das dificuldades ou também há uma pontinha de “acaso” no universo que nos escapa?
FB: Conforme já referi, as minhas origens e as vivências de uma dura infância em Trás-os-Montes marcaram de forma indelével a pessoa que se foi consolidando ao longo dos anos e se transformou no meu eu atual! No entanto, estou certo de que esse “acaso” do universo que nos escapa também contribuiu, sem dúvida, para me colocar, mesmo contra a vontade dos homens, nos locais onde essa tempera podia ser testada constantemente na superação das dificuldades com que me deparava.
 
EP: Qual a importância do livro e da leitura na sua vida?
FB: São dois fatores indissociáveis e importantes na minha vida e se é verdade que na minha infância o acesso aos livros era difícil, também é verdade que fui contornando essa dificuldade recorrendo aos livros emprestados pela biblioteca itinerante da Fundação Calouste Gulbenkian e da leitura completa dos almanaques do tio Patinhas, das revistas do Zorro, do Major Alvega e da coleção completa do Astérix de um amigo de infância. Esta última, foi um regalo lê-la e, os dois, esperávamos ansiosamente pelo lançamento de cada um dos seus incríveis números. Esta é uma realidade desconhecida das atuais gerações. Apesar de o acesso atual aos livros estar completamente democratizado e a leitura dos mesmos ter evoluído positivamente, também se tem vindo a verificar que esta tendência está em causa com o forte apego dos jovens às múltiplas opções que as novas tecnologias lhes têm proporcionado.
 
EP: Nas missões das Nações Unidas, alguns colegas de outras nacionalidades traziam sempre um livro de emergência para leitura rápida? ou não havia tempo para isso? Havia tempo para a leitura e algum trabalho de instrução, partilha de leituras e livros com as comunidades locais?
FB: Em todas as missões que realizei (ONU, EU e Coligação Internacional) tive oportunidade de vivenciar diferentes e enriquecedoras situações do ponto de vista profissional e humano. Elas foram de uma riqueza e diversidade incomensuráveis e permitiram-me olhar o Mundo e a sua dialética hipocrisia/bondade de uma forma totalmente diferente.
Principalmente na primeira missão, em Angola, tive oportunidade de ler bastante, uma vez que tinha iniciado a minha licenciatura em Sociologia. Todos os momentos livres eram aproveitados para colocar em dia algumas leituras. Os meus colegas de trabalho também liam livros nas suas línguas maternas e todas as semanas havia três horas de formação sobre as Nações Unidas, incluindo a nossa atividade diária com a polícia local e as respetivas comunidades. Também providenciávamos instrução à polícia local e aos militares. A leitura era um refúgio e uma forma de descontrair de tarefas altamente desgastantes  - interação com a população que era vítima das maiores sevícias por parte dos beligerantes - tendo em consideração que nas zonas do interior onde me encontrava não havia quaisquer divertimentos ou zonas de lazer. Estávamos em completo isolamento! Não era fácil, pelos menos nas zonas onde o conflito entre as partes foi muito intenso e destruidor.
 
EP: Voltando ao seu livro, o leitor fica com sede do relato de mais episódios. Vai continuar a escrever mais crónicas, autobiográficas ou não, ou apenas quis deixar o testemunho que se fizermos a nossa parte, o universo traz sempre boa energia para cada um?
FB: Sim, é minha intenção voltar a escrever outro(s) livro(s) com relatos e experiências de outra(s) missão(ões) que considero bastante marcantes da minha vida e do meu percurso profissional. Porém, os planos futuros só se tornam realidade quando concretizados e, nos últimos tempos, a inspiração para escrever não tem surgido. Como sempre disse, para escrever é preciso sentir vontade e inspiração. Vou tentar!
Normalmente, o universo carrega em si muita energia positiva, é o próprio homem, com a sua ambição desmesurada, que a transforma em negativa com consequências nefastas para os seus concidadãos. No entanto, é preciso que o ser humano não seja um mero e passivo espetador de tudo o que o rodeia e interfere na sua vida! Ele tem que, forçosamente, afirmar-se e assumir-se como um ser presente e atuante que se transforma num veículo de mudança da sua vida e da daqueles que o rodeiam. É claro que, as boas energias têm de ser procuradas e, por vezes, criadas para que o nosso percurso de vida seja de constante superação e satisfação, permitindo contribuir para um Mundo melhor e mais positivo.
 
EP: Muito Obrigado, Fernando Bessa.
FB: Eu é que agradeço a oportunidade de partilhar alguns estados de espírito. Boa sorte para o blog.
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    Autor

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