José Pinto Carneiro (JPC) é escritor e afamado guionista. A conversa que se segue resultou de um gentil contributo que deu à Estante do Porteiro (EP).
EP: As tuas iniciais remetem para Cristo. O que faz o “p” no meio?
JPC: O “p” vem de “Fantástico”. Na altura em que me nomearam, dada a minha provecta idade, “fantástico” escrevia-se com “PH”.
EP: Estiveste em Jerusalém. A cidade tem sentido de humor ou confundiram-te com a personagem Brian interpretado pelo Graham Chapman dos Monty Pyton?
JPC: Jerusalém não tem sentido de humor. Está tudo muito sério e, dado o número elevado de religiosos por metro quadrado, tens sorte em não levar uma pedrada na tola por dá cá aquela palha. Como dizeres que é ali a capital desde ou daquele país.
EP: Não te quiseram crucificar? Existem muitos críticos por Jerusalém?...
JPC: Sim, quiseram. E crucificaram, em Madrid, quando me confiscaram a mochila e só ma devolveram dois dias depois. Em matéria de críticos, Jerusalém, há quinze dias, prezava o respeito pelas diversas religiões. Agora está tudo à pedrada. (“Let’s go to a stoning”… como diriam os supra citados Monty Python).
EP: Se fosses advogado de Cristo que argumento usarias para o salvar?
JPC: Invocava insanidade mental, obviamente. Era limpinho.
EP: O altruísmo compensa? Ou a vida social desmente o que as religiões prometem?
JPC: O altruísmo compensa. O que as religiões prometem é que não.
EP: Um bom argumento faz sempre um bom filme?
JPC: Nem sempre, mas há essa possibilidade. O contrário é que é insofismável: um mau argumento dá sempre um filme - bosta.
EP: Não é concorrência desleal escrever histórias baseadas em factos verídicos, sobretudo quando as “ fake news” abundam?
JPC: Um dia tudo será “fake news”. E nessa altura chegará o Messias (se fores judeu), ou regressará Jesus (se fores cristão). O problema vai ser passar pelo portão dourado de Jerusalém, pois os muçulmanos, prevenindo-se desta eventualidade, mandaram selar o dito portão com pedra. Aquela malta não dorme em serviço.
EP: A realidade e a ficção misturam-se mesmo? Ou é um mito? …No processo criativo tens mais essa consciência ou achas que é o café da manhã que tem qualquer coisa lá dentro que te abre as portas da percepção?
JPC: A ficção não é mais do que realidade enriquecida .Por isso é que dá mais trabalho. Quanto ao café da manhã… que marca andas a beber?
EP: Sendo líder, como consegues colocar os teus companheiros de ofício no mesmo grau de realidade? São obedientes ou usas o “chicote” com frequência?
JPC: Deixei de usar o chicote para não me acusarem de assédio sexual. Agora limito-me a vender as minhas ideias com lábia de feirante. Quando mesmo assim não resulta, amuo e digo que não falo mais para eles a não ser que façam como lhes peço.
EP: Entre deus e o diabo, quem preferias para chefe?
JPC: Deus, porque não existe. E já se sabe: patrão fora…
EP: Muito obrigado, José.
Créditos Fotográficos: Armando M M Fontes