EP: A novidade é uma mania dos tempos modernos? Um jornal precisa mesmo de se antecipar ao acontecimento?
LBB: Não diria que a novidade é uma mania dos tempos, mas sim uma necessidade. Estou-me a referir às diversas áreas do conhecimento. Mas penso que a pergunta tem outro alcance, aludindo aos média. Nesse sentido, um órgão de informação tem uma dupla função: por um lado, deve antecipar o acontecimento quando se trata de informação prognosticada relacionada com a proteção civil ou áreas similares e matérias que consubstanciem crimes ou ações ilícitas; mas, por outro lado, na maioria das matérias deve manter-se equidistante entre a informação recebida (algumas de fontes duvidosas) e o acontecimento factual futuro.
EP: Os factos estão a ser produzidos, manipulados ou maquilhados? O regresso às fontes é fundamental ou basta uma secretária e o acesso aos motores de busca?
LBB: Há um significativo volume de informação que é produzida ou manipulada em função dos interesses dos respetivos grupos de pressão. Mas estaria a ser injusto se não ressalvasse que a maioria dos jornalistas profissionais preserva ou luta pela liberdade de interpretar os factos. O regresso às fontes é tão importante como aceder aos motores de busca, porque um pode e deve ser o complemento do outro.
EP: Não fazem já os motores de busca uma clivagem dos factos e filtram as pesquisas de acordo com as preferências de pesquisa do utilizador? É caso para dizer “com a verdade me enganas”?..
LBB: Isso é verdade em relação à área comercial. Se, por exemplo, pesquisarmos a palavra “perfume”, os motores de busca vão-nos colocar à frente do nariz as marcas que pagaram para estar na primeira página desse programa de pesquisa. Mas se pesquisarmos, por hipótese, sobre Albert Einstein temos acesso a um enorme caudal de informação, muita dela de grande qualidade, que se não fosse a internet precisaríamos de estar mergulhados nas bibliotecas durante alguns anos.
EP: Os processos criativos estão submetidos a que lógica?
LBB: A maior parte obedece à lógica do mercado. Produto que não se venda está condenado, mesmo que seja criativo e interessante. Todavia, há uma minoria à margem da lógica do mercado que consegue sobreviver, muitas das vezes devido a circunstâncias aleatórias, como, por exemplo, um produtor discográfico decidiu ouvir uma gravação, entre centenas, de um candidato a músico, gostou do tema e passou a apostar nesse artista.
EP: Como qualificas o actual mercado de produção de conteúdos?
LBB: O mercado português é pequeno e fechado. Uma coisa está relacionada com a outra. Neste sentido, a qualidade acompanha o contexto.
EP: Os argumentos para filmes, séries e televisão são de qualidade? Ou continuamos a produzir séries “em pacote”?
LBB: Há várias realidades. Infelizmente, os mais comuns e difundidos são os “enlatados” norte-americanos. Todos conhecem a fórmula: os maus são muito maus e os bons muito bons; os maus dominam quase todo o filme ou série e quando estão prestes a destruir os bons, estes renascem das cinzas, como o Fénix, e eliminam os maus. Desde miúdo que vejo esta receita. Para mim é enjoativo.
EP: Os microfilmes são uma boa aposta numa sociedade imediatista. Será o conteúdo do futuro face à economia da imagem digital contemporânea?
LBB: Os microfilmes (entenda-se, curtas-metragens com menos de cinco minutos), mais do que uma resposta à sociedade veloz são uma nova categoria de cinema. É muito mais difícil contar uma boa história em menos de cinco minutos do que em hora e meia. Todos os cineastas conseguem fazer uma longa-metragem, mas nem todos têm capacidade para fazer um microfilme. Estou convencido que vai ter impacto nos próximos anos, sem substituir outros formatos ou categorias que já existem.
EP: Já escrevestes livros interdisciplinares com o teatro e a física quântica. Existem várias realidades. O que deve ter o bom livro?
LBB: O conceito de um bom livro é subjetivo. Eu gostei de escrever os livros que gostaria de ter lido. Livros que não tivessem narrativas óbvias e que fugissem ao convencional. Mas isto não significa escrever o que nos vem à cabeça. No meu livro “Pelo lado do invisível” estive cerca de um ano só a preparar o conteúdo. Quando comecei a escrever nada saiu por acaso ou por um raio de inspiração.
EP: Como analisas o mercado editorial?
LBB: Parece-me muito restritivo. Algumas editoras mais arrojadas faliram. As que subsistem obedecem às regras do mercado. Para quem estiver empenhado em publicar, há a possibilidade de fazer edições online gratuitas. Há programas interessantes nesse campo.
EP: Face ao relativismo ético, à sociedade neoliberal e à agressão ambiental ainda temos razões para o optimismo?
LBB: Sim, temos. Na Idade Média, a sociedade regia-se por éticas absolutistas, não tinha mecanismos neoliberais e o ambiente era verde. No entanto, havia pessoas a morrer queimadas vivas nas fogueiras por terem ideias diferentes, muitas não tinham trabalho nem pão para comer e morriam à mínima doença. Nessa época tínhamos razões para sermos otimistas?
EP: Muito obrigado, Luís