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Identidade Cultural Portuguesa

3/1/2016

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          A identidade resulta da dialéctica entre a memória e o imaginário. Entre aquilo que fomos, aquilo que pensamos ser e o que desejamos ser.

           A memória dos factos e dos acontecimentos remetem para a realidade daquilo que fomos. Os usos, costumes, hábitos e tradições transmitidos por via oral, escrita, analógica e, agora, digital moldam o inconsciente colectivo que Jung sistematizou.

              O que pensamos ser remete para a representação do nosso tempo. O tempo psicológico e não real que julgamos viver. Porque o real é fora de nós. Marcel Proust sempre buscou o tempo perdido. Freud considerou o tempo uma planificação entre as contradições dos instintos face aos afectos. O que se pensa ser é um dentro de nós, mas fora do mundo. A ilusão perfeita, a nudez sublime das formas etéreas que nenhum vestido consegue disfarçar, apenas velar ou conservar.

          O que desejamos ser manifesta-se no imaginário. O sonho, a busca das formas perfeitas, dos tecidos mais eloquentes ou dos cortes mais ousados.

      Entre o que fomos, pensamos ser e desejamos ser está o mito. Como dizia Pessoa, o mito é o nada que é tudo. O mar é tudo o que queremos ser. O sonho que julgamos poder alcançar e o nada que ficou para trás na espuma dos dias passados, que já não voltam…
​
         Este mar que não nos deixa sossegar é a nossa alma, bem Portuguesa, as ondas sempre a rebolar na areia num eterno retorno. Em outros tempos, partimos pelos setes mares, mas, agora, que já tudo foi encontrado, Portugal perdeu-se dentro de si... O quinto império reduziu-se a uma utopia aritmética presente em cada paradoxo institucional. A Europa está senil e Portugal anda sempre a dar-lhe a bengala para a mão…

      Resta-nos a arte. Porque contrariando Óscar Wilde, a arte pode ser extremamente útil. Como testemunho do que fomos e do que queremos ser. O que somos, hoje, continua no domínio da nudez. Despojados não só de educação, cultura, mas também de uma melhor justiça e saúde. O mito sobrevive. Seremos capazes de dominar o mar? Ou continuamos à espera do Dom Sebastião?

         Fosse a língua Portuguesa objecto de salvação, mas até essa é confinada à solidão de olhar o computador. Como se o mar fosse virtual e a relação com o outro fosse o que aparenta ser e não aquilo que é. A mulher de César levou Eva ao exílio e Adão deixou crescer as barbas. Mas sempre bem vestido. O próprio Eça poderia ter escrito que a cidade não comunica e a serra não abraça o mar.

          A língua Portuguesa não é a nossa Pátria. Andam todos exilados. Perdidos nos seus tempos psicodramáticos e nos lugares comuns da civilização tecnológica. O objecto domou o sujeito, quando o sujeito deveria comandar o objecto.Os conceitos diluíram-se. As ideologias confundiram-se. As pessoas demitiram-se.
 
       Urge revolucionar o tempo pela força do mito e do símbolo. Que tudo vence e que permite navegar neste mar que é o da civilização humana.

        A identidade nunca pode ser um dado definitivo, porque falta saber o que a mortalidade nos reserva. O fim de tudo ou o começo de algo mais na moda? Um banquete servido no Olimpo, bebendo o néctar imortal dos Deuses ou a constatação que os Deuses não lavam as vestes onde se enrolam, para nosso desespero e desencanto. Falta esse confronto final para arquivar o processo existencial, que só Kafka, Camus e Sartre nos levaram a consultar no grande tribunal universal. A constatação que a vida é boa, mas injusta. Porque algo parte e alguém nunca mais chega…

      Como seria bom voltar a encontrar aqueles que já partiram. O sonho de olhar o mar, ninguém nos pode tirar. Nascemos frente a ele. Haveremos de ir lá morrer. Mas que seja sempre ao fim da tarde com um xaile sobre as costas…
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    Autor

    Jon Bagt

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